quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O NASCIMENTO DE HÉRCULES

Finda-se a longa noite de Zeus com a bela Alcmena. Ele retorna ao Olimpo. Deixa, porém, na Terra, com Alcmena, a sua semente. O embrião daquele que viria a ser, em todos os tempos, o mais cultuado dos heróis da humanidade: Hércules.

Volta Anfitreão do campo de batalha e conta, vitorioso, para a esposa, tudo o que lá ocorrera, exatamente igual ao que a ela contara Zeus. Até a taça-troféu ele mostra à Alcmena. Ela, obviamente não demonstra a mínima surpresa pelo que lhe é contado. Anfitreão estranha a atitude da esposa e fica espantado quando ela demonstra já saber de tudo o que no campo de batalha ocorrera. Inclusive pormenores de como fora conseguido o troféu, solenemente exibido por Anfitreão. Profundamente encabulado por tais fatos, vai Anfitreão consultar o famoso adivinho Tirésias de Tebas que fisicamente cego, enxerga em outras dimensões, e tudo adivinha. Ele conta então a Anfitreão o que se havia passado entre Alcmena e Zeus. Anfitreão não acredita muito na história da interferência de Zeus, mas está convencido de que foi traído – possivelmente por algum dos seus subalternos que antes dele voltou dos campos de batalha e tudo contou a Alcmena. Desesperado de ciúme, nem mesmo aceita a hipótese – honrosa – de ter sido preterido por um deus, numa relação sexual com a esposa. Desesperado, enlouquecido quase, prepara uma pira, amarra nela Alcmena e toca fogo.
Zeus quando vê a sua amada (porque ele a amou realmente), e o seu filho ameaçados de serem devorados pelo fogo, envia forte chuva sobre a pira onde Alcmena estava amarrada – num dia claro, sem a menor indicação de chuva – e apaga o fogo. Anfitreão vê, então, na inesperada chuva, a proteção de Zeus e, conformado, (este é o termo), passa a aceitar a divina interferência na sua vida familiar. Reconcilia-se com Alcmena, que vê na louca atitude do esposo mais uma prova de seu grande amor por ela, e têm, os dois, uma noite de intenso amor. Fica Alcmena grávida de dois filhos: um, humano, filho de Anfitreão, que viria chamar-se Íficles; o outro, um semideus, filho de Zeus, que se tornou famoso como Heraklês ou Hércules.
Zeus, do Olimpo, acompanha o processo do seu filho em gestação. Proclama, feliz, nos banquetes olímpicos, que agora vai ter um mecenas capaz de governar a Grécia (o mundo então conhecido). A deusa Hera, sua mulher, toma conhecimento das declarações do esposo e resolve destruir o filho de Zeus com Alcmena. Prevalecia então na Grécia o direito de primogenitura determinando herdar o trono o filho primogênito da família real. Esténelo, primo de Alcmena, portanto da mesma família, ia ser pai. O seu filho deveria nascer mais ou menos na mesma época do nascimento do filho de Alcmena. O que nascesse antes herdaria o trono. A família se dividia entre um e outro herdeiro, criando, assim, uma grande expectativa sobre o futuro rei de Micenas.
Zeus, sabendo que o filho de Alcmena, o filho dele nasceria primeiro, decretou que o primeiro entre os dois nascidos dominaria o segundo, e que este seria obrigado a prestar serviços ao outro. A deusa Hera, ouvindo isto, manda chamar Ilítia, a deusa do Parto, e ordena-lhe que antecipe para sete meses o nascimento do filho de Estênelo e retarde para dez meses o nascimento do filho de Alcmena. A deusa Ilítia obedece. Nasce Euristeu, futuro rei de Micenas, de sete meses, e Hércules, seu primo, de dez meses, perdendo este o direito ao trono. Frustra -se, assim, o primeiro passo nos planos de Zeus, para unificação de todos os reinos da Grécia, de então.

Simbolismos e Ensinamentos

O número 7 na simbologia dos Estudos Esotéricos da Numerologia e nos ensinamentos de Antigas Escolas de Mistérios representa o poder espiritual no homem. Simboliza a natureza setenária do ser humano. É a união do quaternário inferior, os quatro corpos dos planos inferiores: físico, astral (ou emocional), mental e etérico com o ternário superior, representados pelos três corpos superiores: o Cristo Pessoal, o Corpo Causal, e a Presença do EU SOU. Os quatro primeiros (os inferiores) encontram-se envolvidos nos planos (níveis) da Matéria; os três últimos atuam nos planos superiores, do Espírito. Euristeu nasceu de sete meses, mas por antecipação. Não foi, portanto, beneficiado com o Poder Espiritual. Embora gozasse da proteção da deusa Hera, não possuía, em si mesmo, este Poder. O número 10 é o número do homem perfeito (7+3=10= a Divina Criação, o homem com o Poder Espiritual). Hércules nasce de dez meses. Foi projetado para o futuro. Nasceu com todos os poderes aflorados.
(O ciúme de Hera)

O ciúme de Hera nada tem de pessoal. Ela simboliza o aspecto dual de Zeus, é a sua contraparte. É a esposa e irmã. Protetora das mulheres casadas, representa, inflexível, as estruturas existentes, os aspectos morais e éticos mais tradicionais. Zeus encarna a figura patriarcal da família de deuses do Olimpo: bondoso, às vezes exigente e severo. Justo mais amoroso. De tudo sabe e tudo vê. Permite, entretanto, as deturpações de seus divinos aspectos porque sabe que na prática dessa dialética repousa o equilíbrio que norteia todas as ações divinas no Universo.
Nos ensinamentos da Cabala, na “Árvore da Vida’’, a segunda tríade de Sefirot (Sefirot em número de dez, são as emanações de Deus), é formada por Besed (ou Gedulah), Gevurah ou (Din) e Tiferet. Besed repesenta a extrema Misericórdia, o extremo Amor; Gevurah representa Força, Severidade, Poder e, também, Julgamento ou Justiça. Este par de opostos: o extremo Amor e Misericórdia de um lado e a extrema Severidade e Julgamento, do outro, dá o equilíbrio que os sustenta e os regula mutuamente. Equilíbrio este representado pelo sefirat (singular de sefirot), Tiferet no centro, que significa “Beleza”, “Adorno”.
“Besed e Gevurah são dois lados da personalidade divina: o amor que flui livremente e o julgamento rigoroso; a graça e a limitação. Se o Julgamento não for amenizado pelo Amor, Din ataca violentamente e ameaça a vida”.

A interferência da deusa Hera nos destinos de Hércules, antes mesmo de ele nascer, significa que o ser humano traz, antes mesmo do nascimento, o seu destino delineado. Todavia, nas sucessivas e várias reencarnações aqui na Terra, tem ele oportunidade de mudar – para melhor ou para pior, usando o livre-arbítrio, - o seu próprio destino. Ao percorrermos a “Roda do Nascimento e Morte” ou a ”Lei de Samsãra” como denomina a antiga tradição hindu aos ciclos das reencarnações no plano terrestre, somos levados – antes de cada encarnação – a escolher a família, a comunidade e até mesmo o país ou continente onde vamos reencarnar. Tal escolha é feita levando-se em consideração envolvimentos cármicos remanescentes de vidas passadas – gerados em nível coletivo – que devem ser resgatados no estágio desta vida ou projetados para vidas futuras, acrescidos ou não de novos carmas, a depender de nosso comportamento no atual estágio da vida.

Carma quer dizer ação. É a execução da lei de causa e efeito na contabilidade cósmica. Um débito que contraímos, quando violentamos, com nossos atos, o equilíbrio das leis do Universo. Mas é, também, um crédito que obtemos, quando contribuímos com nossos atos para a manutenção desse equilíbrio. Tem, portanto, o ser humano, nos estágios de suas várias vidas na Terra – graças às reencarnações – oportunidade de equilibrar as colunas débito/crédito, ou então aumentar o vermelho do desequilíbrio no livro dos registros acashicos, (8) transferindo para futuras encarnações, o inapelável e grande acerto de contas.
Hércules e Euristeu tiveram o destino de suas vidas traçados antes dos respectivos nascimentos. A Euristeu coube um trono, um reino para governar; a Hércules, um caminho a seguir, uma senda a percorrer na busca da imortalidade. Ambos os caminhos – como todos os da vida do ser humano na Terra – são geradores de carma. O uso do livre-arbítrio – corretamente ou não – por cada um, vai definir a duração de sua longa viagem de volta à eternidade.
(O duplo nascimento de Hércules e Íficles)

O simbolismo do duplo nascimento de Hércules e de Íficles significa a separação entre o filho de Deus e o filho do homem. Dizem os Textos Sagrados: “Quando os Pitris Solaris caminhavam sobre a Terra, o homem era divino, porque só havia a perfeição e a equanimidade. Quando os homens começaram a se vestir de vícios, os homens se tornaram filhos dos homens”. Nos primórdios da Raça Raiz – a raça Lemuriana (9) – épocas remotíssimas, em continentes hoje submersos, ensinam a História Sagrada e a Antiga Tradição, o ser humano recém-adquirira sua forma atual, mas não possuía, ainda, a consciência. Vagava a esmo, inconsciente e néscio, pela Terra. Vivia então o homem em condições paradisíacas, mas títere das Hierarquias Superiores.

Os Pitris Solares (Pitri=Pai) ou Elohim, poderosos seres espirituais, altamente evoluídos – verdadeiros deuses – apiedaram-se da triste condição humana e deram ao homem o poder mental, a faculdade de pensar, a consciência, o saber discernir entre o fazer e o não fazer; o poder da vontade – qualidades inerentes aos deuses e que tornaram os seres humanos diferentes dos outros animais que povoam a Terra. Deram, assim, os Pitris Solares ao ser humano o livre-arbítrio, a capacidade de poder escolher por sua livre vontade, suas ações e atos, o caminho a seguir em sua jornada na Terra.

Deram aos seres humanos, desta forma, a centelha divina da imortalidade. Mas lhes deram, também, com tais qualidades, a enorme responsabilidade (a cada direito corresponde um dever) de arcar com o ônus, o preço de u’a má aplicação destas qualidades divinas que recebeu. E o ser humano – através dos milênios – vem deturpando o seu uso, gerando densos carmas - lei de causa e efeito – necessitando, em consequência, de várias encarnações na Terra – e somente em vidas na Terra – para, aprendendo como usar as divinas qualidades, resgatar carmas formados, nesta ou em outras vidas. Compete, pois, ao ser humano, usando do livre-arbítrio, escolher entre ser um filho de Deus ou ser um filho do homem. Ser Abel ou ser Caim.

(Forte chuva apaga o fogo da pira)

A forte chuva enviada por Zeus para apagar o fogo da pira que ameaçava Alcmena, simboliza, de acordo com uma das variantes do Mito (um mito tem muitas variantes) as dádivas divinas para a humanidade. Água caída do céu é abundância, é fartura, é vida. Significa a proteção que os filhos da Terra têm de Deus, quando vítimas de injustiças, (como Alcmena), de falsos e precipitados julgamentos e incompreensões.

A DUALIDADE ZEUS/HERA

Nasce Hércules, em Tebas, filho de Zeus com a mortal Alcmena, possuindo todos os poderes aflorados. A deusa Hera não satisfeita em ter-lhe tirado o trono, planeja tirar-lhe a vida. Ao completar Hércules oito meses de nascido, brincava na cama com o seu irmão Íficles, quando duas enormes serpentes enviadas por Hera aproximam-se do leito e, ferozes, atacam Hércules. Íficles, desesperado de medo grita aos berros, atraindo a atenção dos pais que acorrem aflitos ao quarto dos meninos. Anfitreão, militar, já viera de espada em punho. Ao chegar à entrada do quarto e olhar na direção da cama onde estão as crianças, tem, perplexo, enorme surpresa: Hércules já havia agarrado as monstruosas serpentes pelas guelras e, uma em cada mão, mata as duas. Anfitreão, a partir daquele momento, se ainda guardava, lá no cantinho de sua cabeça, alguma dúvida quanto à origem divina da paternidade de Hércules, esta se apagou completamente com a morte das duas serpentes gigantescas. Ficou totalmente convencido de que Hércules era realmente filho de Zeus e que Íficles era seu filho. “Um, filho de Deus; o outro, um filho do homem”.

Zeus cada vez mais tocado de amor pelo filho, tem para ele, planos bem mais altos. Quer garantir-lhe a imortalidade, a ascensão ao Olimpo como um deus. Uma grande dificuldade, no entanto, se interpõe à realização desta vontade de Zeus. Embora todo-poderoso deus dos deuses, Zeus está sujeito às leis cósmicas que, em essência, são aspectos dele mesmo (o próprio Deus) e não podem ser violadas: Para um mortal ascender ao Olimpo, como um deus, teria ele de ter sido amamentado no peito da deusa Hera, com o leite dela...

Zeus chama, então, o deus Hermes, o mensageiro do Olimpo; o embaixador das mais delicadas missões do Universo; astuto, perspicaz, sagacíssimo. Era, por tais qualidades, o deus do comércio, do ganho, da eloquência, e, também, protetor dos ladrões. Confia-lhe Zeus, a missão quase impossível - até mesmo para Hermes - de fazer Hera amamentar Hércules. Todos no Olimpo conheciam as intenções de Hera em relação a Hércules. O deus Hermes, do alto de sua divina perspicácia, nem de longe cogita de convencer à inflexível Hera a aquiescer em tão absurda pretensão. Arquiteta um plano e fica à espreita, aguardando o momento exato para aplicá-lo. E o momento exato surge quando Hera adormece. Hermes mais veloz que um raio, desce à Terra, apanha Hércules, leva-o ao Olimpo e coloca a sua pequena boca no seio de Hera adormecida. Hércules suga o seio da deusa com tanta força que ela acorda e retira tão violentamente o seio da boca de Hércules que o leite se derrama. Hermes, tão veloz quanto veio, traz de volta Hércules para a Terra deixando Hera na dúvida se teria a criança sorvido ou não o seu leite. Diz a Mitologia que o leite de Hera então derramado espalhou-se pelo céu, formando a Via Láctea.

Simbolismos e Ensinamentos

Hera quer matar Hércules; Zeus quer dar-lhe a imortalidade. Esta parte do Mito marca profundamente o aspecto dual que existe no divino casal. Esta dualidade está presente no comportamento de todos os deuses olímpicos, deuses que, na verdade, são os aspectos divinos do casal Zeus/Hera. A percepção desta dualidade leva à compreensão das aparentes contradições muitas vezes presentes nos atos e ações dos deuses do Olimpo, todos envolvidos num mesmo contexto dialético. Tal entendimento fará mudar o tradicional conceito de um Deus severo e inflexível, por vezes irascível e intolerante, para um Deus humanizado, compreensivo, justo e bom, muito mais próximo, portanto, das emoções humanas e de nossas justificáveis contradições.

Outro aspecto que os mitos mostram através do simbolismo é a semelhança que há nos hábitos e comportamentos dos seres humanos que teriam existido há milênios, com o nossos, do dia a dia atual. A exigência para um mortal ascender ao Olimpo, como um deus, de ter sido ele amamentado por Hera, significa a prevalência do poder matriarcal nos assuntos domésticos. O Olimpo era a “casa” dos deuses e, “na casa”, quem manda é a mulher. A deusa Hera, protetora das mulheres casadas, representava o poder feminino no lar, a família tradicionalmente constituída. É muito comum vê-se, hoje, nas regiões rurais, geralmente em casas mais humildes, um pequeno quadro, numa pequena moldura, dependurado na parede da sala de entrada da casa com o desenho de uma casinha lá no fundo, e uma legenda: ”a casa é minha, mas quem manda é a minha mulher”. Presumivelmente quem diz isso é o marido. É um aviso para quem chega: somente fica ali, quem a “dona da casa” quiser.

O fato de o deus Hermes ter usado de um artifício para conseguir fazer Hércules ser amamentado no seio de Hera, reforça mais ainda a semelhança dos hábitos e costumes antigos com os atuais. Houve, inegavelmente, uma clara burla à intenção da lei, porque na exigência da amamentação divina está implícito o consentimento da deusa para o ingresso do postulante ao Olimpo. Houve a amamentação, mas não houve o consentimento. O ritual foi cumprido, mas a intenção da lei foi ignorada. 


E quantas vezes isso não ocorre em nossos melhores tribunais?! Comentam profissionais envolvidos na área jurídica, haver existido um Juiz de Direito (já falecido) que repetia sempre, à guisa de axioma: ”A Lei é como a virgindade: foi feita para ser violada...” Por outro lado o comportamento – bem sucedido – do deus Hermes na sua missão, mostra que a estrutura inflexível que Hera representa, vai aos poucos sendo modificada obedecendo a um processo dialético, que leva à síntese do Caminho do Meio que nos ensina o amado Gautama, o Buda. Senhor do Mundo, nos ensinamentos da Fraternidade dos Guardiães da Chama.

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