quarta-feira, 13 de novembro de 2013


FANTÁSTICA VIAGEM

Era dia de festa no Olimpo, a morada dos deuses. Mas todo dia é de festa – porque de paz e felicidade – na “Casa do Pai”. Lá, só tem dia, porque não há noite. É um permanente e imenso clarão (4) onde trevas não medram e cada instante tem a duração da eternidade. Seria aquele um dia comum, se não fosse especial. E era. Estava sendo esperado com divino e solene banquete, de volta à Celestial Morada, mais um filho de Zeus, Filho da Luz - uma centelha divina - deixara a Morada do Pai, cumprindo leis cósmicas. Navegara, num périplo cósmico, uma longa e difícil viagem. Percorrera planos e subplanos; (5) envolvera-se em suas variadas e densas camadas de matéria; nelas sendo envolvido e delas impregnado-se, chegara ao plano físico na forma de um ser humano: u’a alma, formada das experiências adquiridas em suas passagens por esses densos caminhos.

Prisioneiro das limitações deste plano, passara por várias e várias encarnações. Milhares e milhares de vezes errara o caminho. Acertara tantas outras. Gerara e resgatara carmas. Dera milhares de voltas em espirais, enfrentando mil dificuldades, transpondo imensos obstáculos, vencendo enormes desafios. Retorna, agora, livre de todas as limitações, à Morada do Pai. Volta engrandecido pela imensa luminosidade conseguida nesta fantástica viagem; luminosidade que incorporada ao Supremo Luzeiro do Divino Lar Paterno, faria aumentar neste, mais ainda o seu clarão, se ele já não fosse Luz Absoluta.

Este filho amado – tão esperado – somos nós, seres humanos, filhos da Luz, centelha divina que nesta viagem grandiosa – estagiários de várias vidas – caminhamos em busca da nossa identidade cósmica. E, um dia, ascensos à gloria da imortalidade, elevados à categoria de deuses, reencontrar-nos-emos na Casa do Pai Celestial e, todos juntos, celebraremos a sublime apoteose da “Grande Unidade”.

Tudo está pronto para a recepção. Zeus, pai de todos os deuses, Senhor dos Céus e da Terra, detentor absoluto de todas as vontades e mandos, ocupa, com todo o seu divino esplendor, o celestial trono de luz. Ao seu lado, a poderosa deusa Hera, sua esposa e irmã. “Cabelos acobreados e olhos azuis”, tem, cingindo-lhe a divina cabeça, lindo diadema de ouro. Aureolada de luz, fita amorosamente o celestial esposo e irmão, enquanto esboça um leve sorriso de felicidade. Aguardam, assim, a volta do esperado filho.

Um após outro vão chegando os deuses do Olimpo – filhos e filhas de Zeus – para a grandiosa recepção. À medida em que cada um chega, Zeus, com a sua poderosa mente divina faz aflorar na tela de sua memória, momentos ocorridos com cada um deles.

O primeiro a chegar é o deus Hermes, filho da ninfa Maia. É ele o mensageiro do Olimpo, o embaixador dos deuses. Com suas pequeninas asas nos pés, percorre, velozmente, todos os recantos do mundo, realizando missões as mais delicadas e de tudo informando o divino Pai, se este de tudo já não soubesse, mercê de sua poderosa mente onisciente. Logo depois chega Atena, a deusa da Sabedoria e da Justiça, sua filha preferida. De porte altivo e resoluto, é a grande protetora dos heróis gregos e de todos os que se batem em prol da Justiça. Nascera da cabeça de Zeus, de onde saltou – para espanto geral dos deuses presentes – já vestida de guerreira, empunhando lança e escudo, dançando uma dança de guerra e soltando um vitorioso grito de guerra: implacável guerra contra todo tipo de injustiças. 
Chegam, em seguida, os irmãos gêmeos Apolo e Ártemis. Ele, o deus da Música e da Poesia, personifica o Sol. Nasceu na ilha de Delos, a Brilhante. Era adorado na cidade de Delfos, onde mantinha o Oráculo de Delfos, o mais famoso de toda a Grécia. Através de sacerdotisas – as Sibilas – aconselhava o Oráculo, a quantos – e eram muitos, praticamente todos os gregos – que em constante peregrinação para lá acorriam em busca de orientação para enfrentamento dos mais variados problemas da vida. Ártemis, a deusa da Caça e das Florestas, protetora dos caçadores, exibe arco e flechas, símbolos do seu poder como divindade campestre. Chega Afrodite, a deusa do Amor, linda e sensual, a personificação da beleza feminina. Nasceu das espumas do mar (aphros = espuma). Não tem, ela, uma relação direta de nascimento com Zeus, mas como este, descende de Urano e Geia (Céu/Terra). Perséfone, acompanhada da mãe, a deusa Deméter, também chega. Perséfone, raptada por Hades (o Senhor dos Infernos) com ele se casara. Seis meses por ano passa com a mãe, na superfície da terra; os outros seis meses passa com o esposo nos infernais subterrâneos. Sua mãe, Deméter, é a deusa da terra cultivada, da fertilidade, da agricultura, da abundância. Inclusive da fertilidade humana. Preside as colheitas e os trabalhos agrícolas.

Chega Dioniso, filho de Sêmele, nascido da coxa de Zeus. É chamado o nascido duas vezes. Personifica a força vegetativa da natureza. Héfesto, o deus do Fogo, esposo de Afrodite. Com sua forja instalada no centro do Olimpo, fabrica objetos maravilhosos para os deuses. Até mesmo seres animados, como Pandora. A deusa Héstia, filha de Crono e de Reia, portanto irmã de Zeus e de Hera. Muito querida por todos os deuses do Olimpo. O deus Hélio, o próprio Sol, com seu carro dourado, puxado por quatro lindos corcéis brancos.

Deuses e deusas, filhos e filhas de Zeus, iluminam numa feérica atmosfera, aquele ambiente de total e divina plenitude. Falta, porém, ali, naquele instante de paz e harmonia, a presença do deus Ares. Filho de Zeus e de Hera é, Ares, o violento deus da Guerra. E certamente o mais ocupado de todos os deuses do Olimpo. No seu potentíssimo carro, trajando armadura de bronze, brandindo a poderosa lança; escoltado por Dermos (o Terror), Fobos (o Pavor), Ênio (a destruidora de cidade) e pelos Keres (divindades da morte violenta), percorre, Ares, os sangrentos campos de todas as batalhas, de todas as guerras em todos os lugares do mundo, em todas as épocas.

Zeus percebe a ausência de Ares e sabe (os deuses sabem tudo) onde ele está naquele momento. Foca sua poderosa mente no filho e vê (os deuses veem tudo) lá embaixo, na Terra, a luta que está sendo travada naquele exato momento na cidade de Argos, invadida por tropas de reino vizinho. A Grécia daquela época (o mundo então conhecido) era uma colcha de retalhos com seu território e uma infinidade de ilhas divididos em numerosos e pequeninos reinos. Tais reinos eram governados, uns, por reis que foram príncipes, legalmente herdeiros; outros, por usurpadores inescrupulosos, homens que se tornavam poderosos e, por um ou outro meio alcançavam o poder, oprimiam e amedrontavam as populações e proclamavam – se reis. Outros reinos, ainda, eram governados por heróis, defensores da justiça e dos humildes. Heróis esses que lutavam muitas vezes contra um rei tirano que, uma vez destronado, era o herói vencedor aclamado rei. Uns aceitavam, outros indicavam substitutos que assumissem o compromisso de governar com justiça e bondade.
Embora cultuando os mesmos deuses, falando a mesma língua, possuindo os mesmos costumes, havia entre os vários reinos constantes disputas que quase sempre terminavam em guerras, fomentadas, na maioria das vezes, por insignificantes questões. Tinha Ares, portanto - como ainda hoje - muito trabalho a realizar. Zeus sabe disso. E naquele mesmo instante arquiteta um plano para eliminar tais disputas: unificar toda a Grécia (o mundo então conhecido) em um só país sob o comando de um só governo, de inspiração divina. Precisa Zeus para isso, gerar um filho que sendo mortal – não sendo um deus – esteja, portanto, envolvido com as energias da Terra. E esse filho teria que ser gerado com u’a mulher mortal.
Vê, Zeus, lá embaixo, o reino de Argos invadido e uma lindíssima mulher, Alcmena, que chora em prantos a morte de seus dois irmãos massacrados pelos invasores e implora os deuses que façam cessar aquela luta. Zeus ordena a Ares que suspenda o ataque e faça o exército invasor recuar. Ares obedece. Zeus volta a ver Alcmena em soluços e a escolhe para ser a mãe do filho que ele vai gerar para unificar os reinos da Grécia (o mundo então conhecido) e governar, sabiamente, ”os filhos de Prometeu” (6).

A belíssima, mortal, terrena Alcmena, era filha de Eletrião, rei de Micenas, e de Lilídice, sua esposa. Descendia diretamente da nobre linhagem de Perseu (outro herói grego que matou a terrível Medusa, cortando-lhe a horrível cabeça). Era casada com Anfitreão, seu primo, general influente do real exército do tio, Eletrião, pai de Alcmena. Casara-se ela bem recentemente, sem amor, levada por contingências familiares. Naquelas primeiras noites de casados vinha Alcmena negando-se a manter com o esposo qualquer relação matrimonial, sob a alegação de que se casara – e a ele disso sempre lembrava – sem lhe ter amor, embora lhe cultivasse muita estima. Argos é invadida e seus irmãos assassinados. Alcmena, desesperada, pede ao marido que vá vingar a morte dos irmãos. Anfitreão, apaixonadíssimo pela esposa e vendo naquele pedido uma oportunidade de “mostrar serviço” e conquistar de Alcmena o amor que tanto deseja, atende ao seu apelo. Organiza uma tropa e embarca para vingar a morte dos cunhados, deixando Alcmena, virgem, em Argos.

Na ausência de Anfitreão, Zeus, usando dos poderes inerentes aos deuses (os deuses podem tudo) transveste-se de Anfitreão e se apresenta a Alcmena como se fosse o seu esposo voltando, vitorioso, da guerra da vingança. Conta-lhe tudo o que está ocorrendo no campo de batalha (os deuses sabem tudo). Até a taça que o rei inimigo usava, ele mostrou a Alcmena, como troféu de guerra e comprovação de que a vingança fora consumada. Alcmena acredita em tudo. Agradecida e sabendo ser Anfitreão apaixonadíssimo por ela, entrega-se a Zeus pensando ser ele o seu esposo. E durante três dias e três noites vive Zeus os maiores momentos de amor com Alcmena (porque naquele período ele realmente a amou), que um deus já tivera com u’a mortal – diz a Mitologia. Para ficar mais tempo com Alcmena, Zeus chamou Apolo (os deuses podem tudo) e lhe diz para, durante aqueles três dias e três noites, não passar pelo horizonte com o Carro-do-Sol. Apolo obedece e desatrela o Carro-do-Sol – dizem uns; outros afirmam que ele ficou passeando, nesse período, pelos confins do Universo, com o Carro-do-Sol, enquanto Zeus vive seus divinos amores com a belíssima Alcmena, como se fosse apenas um dia.  

Simbolismos e Ensinamentos
(Zeus arquiteta um plano para unificar todos os reinos da Grécia, o mundo então conhecido)

Este ensinamento mostra que as forças divinas não estão indiferentes às nossas questões governamentais; que os deuses além de acompanharem cada nuança destas questões, indicam equações, encaminham soluções, respeitando sempre o livre-arbítrio individual e coletivo – das populações envolvidas nessas pendências. Sendo os deuses eternos e nossa permanência em cada encarnação aqui na Terra muito curta, não percebemos as divinas equações para os nossos problemas governamentais. A vontade de Deus é, automaticamente, realizada. Seus efeitos, porém, são, às vezes, demorados, tendo em vista o processo transformador (ou criador) gerado pelo Divino Decreto (a Divina Vontade). “Deus tarda, mas não falta” ou “quando Deus tarda, vem no caminho”, como diz a sabedoria popular. Observemos as transformações nas relações entre governantes e governados através dos milênios. Vejamos, por exemplo, a Lei de Talião, ”olho por olho, dente por dente”, - confirmada por Moisés (Êxodo – 21:24 - e revogada por Jesus – Mateus 5:38,39) era, aparentemente, uma barbaridade. Mas representou um grande progresso na área do relacionamento humano, para a época. Antes dela, era um dente pela vida, às vezes pela vida de todos os parentes e, até mesmo, de toda uma comunidade. A Bíblia (Velho Testamento) mostra exemplos, e um deles é a história do rapto de Diná e o morticínio de Siquém (Gêneses 34:1 a 30). Morticínio praticado por Simeão e Levi, filhos de Jacó (ato por este reprovado) pessoas, portando, presumivelmente as mais virtuosas.

“Deus escreve certo por linhas tortas”, diz a sabedoria popular. As forças divinas atuam, portanto, às vezes, de maneira indireta – imperceptível às limitações dos nossos sentidos – na consecução de resultados grandiosos para os seres humanos – tendo, ainda, de respeitar o livre-arbítrio de cada um e o desdobramento cármico individual e coletivo, como já foi dito. Busquemos um ensinamento no hinduísmo: “A batalha de Kurukshetra que nos relata com maravilhosos detalhes o Bhagavad-gitã, Krishna (o deus) induz os exércitos rivais a se enfrentarem, tendo, ambos, forças equivalentes. Nesta batalha os dois exércitos mutuamente se exterminam e com o seu extermínio finda-se a casta dos clãs guerreiros (que por muito tempo imperava na Índia), com a ascensão dos Brâmanes e início (na Índia) da Grande Idade da Filosofia que durou até depois de Gautama, o Buda’’.

O plano arquitetado por Zeus para unificação do mundo então conhecido, a Grécia, num só governo, hoje, alguns milênios depois, está concretizado. Mas fica aqui o simbolismo que nos leva a um projeto maior – e sonhado ardentemente por muitos espiritualistas: A Grécia representava, à época, o mundo então conhecido. Isso nos faz supor ser o projeto divino, por extensão, de unificação de todas as nações da Terra, sob a égide de um governo único, central, sem discriminação de nacionalidades; exercido por governantes sábios, de inspiração divina, englobando toda a humanidade.

Conta a Mitologia Grega ter sido Hércules o fundador dos Jogos Olímpicos: ao realizar um de seus Trabalhos (matar o leão da Nemeia), hospedou-se Hércules, de passagem, uma noite, em casa de um humilde agricultor da região da Nemeia, chamado Molorco, que tivera o seu único filho devorado pela fera. Sabendo, por Hércules, que o leão tinha sido morto, sacrifica Molorco o único carneiro que possuía num culto a Zeus, nascendo, daí, os famosos jogos Nemeus (de Nemeia), e mais populares da Grécia Antiga que foram, diz a versão, os precursores de nossas Olimpíadas.

De origem religiosa, portanto, representam hoje, os nossos Jogos Olímpicos, o maior esforço da humanidade em busca da Confraternização Universal. A formação da Comunidade Europeia, a adoção de uma única moeda – o Euro – a junção da mais sensível área – a financeira – nas relações entre países – é uma indicação, embora embrionária, de que a humanidade caminha, neste Terceiro Milênio, para a união de todas as nações da Terra, a Grandiosa Fraternidade Universal tão ardorosamente sonhada. A própria ideia de globalização hoje falada, pode ser u’a manifestação, embora deturpada (nos termos em que está sendo conduzida) do inconsciente coletivo mundial.

O ex-presidente do Brasil (e Sociólogo) Fernando Henrique Cardoso, no seu livro ’’O Presidente Segundo o Sociólogo,’’ elabora proposta de uma democracia mundial: ’’Precisamos, colocando as coisas utopicamente, de um governo mundial. Falta um Estado mundial, uma espécie de Constituição do mundo, que declare os direitos dos povos, diante da especulação. Não concordo com esta ideia de fim da história. Não há fim da história. É cedo, talvez para vê-la com nitidez. Mas há, ou vai haver breve uma nova história. Entrados no terceiro milênio, assistiremos a um novo pacto mundial. Acho que vamos precisar de uma peça que seja uma nova Constituição do mundo”.

E, esgotadas todas as tentativas de ordenação dos desmandos do mundo através dos governos da Terra, as forças divinas – ensina a Fraternidade dos Guardiães da Chama (7) – têm, ainda, na transmutação do carma mundial pela Chama Violeta, o último recurso para evitar a hecatombe final do Apocalipse.

(Deuses e deusas, filhos e filhas de Zeus)

O politeísmo da religião grega daquela época, tem uma particularidade que o faz bem diferente do tradicional conceito politeísta. Cada um dos deuses olimpianos - filho ou filha de Zeus – representa um dos aspectos divinos do pai, Zeus, (Atena, a Justiça e a Sabedoria; Afrodite, o Amor; Ares, a Guerra, dentre outros) que centraliza em si todo o poder divino e age dentro de um contexto basicamente monoteísta. Os deuses-filhos podem muito, cada um na sua área (os aspectos divinos), mas, estão todos, no entanto, subalternos à vontade de Zeus. Existe aí uma grande semelhança com o monoteísmo da Igreja Católica onde os santos podem muito, atuam indiscriminadamente, em cada um nos diversos aspectos divinos - inclusive fazendo milagres - mas sujeitos sempre à vontade do Grande Pai Celeste. Até na geração do filho - que vem para salvar ou ajudar a humanidade, reformando-a ou governando-a, há semelhança: ambos filhos de Deus com u’a mãe terrena. No cristianismo, o anjo do Senhor vem anunciar a Maria que o filho vai ser gerado. U’a concebe virgem, a outra não. Este último aspecto marca u’a diferença entre uma e outra religião, dá a Maria o sentido de sua maternidade e revela o grandioso Ser Cósmico que ela é.

(Falta, naquele instante de paz e felicidade, a presença de Ares, o deus da Guerra)

Ares nunca poderia estar num local onde se reúnem a paz e a felicidade. Sendo o deus da Guerra, ele representa a desarmonia, logo, representa a deturpação de um aspecto divino que é a paz. Mas as guerras existem, e sendo Deus, absoluto, é, também a guerra, um aspecto de sua divindade e também instrumento para a realização de seus planos na Terra. Como já foi dito, a batalha de Kurukshetra, Krishna, a divindade, usou-a como instrumento para fazer surgir, na Índia, a Idade da Filosofia. Conta a Mitologia Grega em uma de suas variantes, a relação amorosa que existiu no Olimpo entre Ares (o deus da Guerra) e Afrodite (a deusa do Amor). Esta relação simboliza a atração das polaridades (amor/desamor). Dela nasceu uma filha: Harmonia, a síntese, portanto.

Poder-se-ia comparar, num certo sentido, a relação de funcionamento do Olimpo a uma grande empresa administrada por várias diretorias, (os aspectos divinos de Zeus), cada uma com o seu funcionamento totalmente autônomo da outra. Tais diretorias, funcionando com total independência entre si, estaria subordinada, cada uma, ao seu respectivo diretor, um deus (filho ou filha de Zeus), com plena autonomia de ação. No topo da pirâmide, todavia, estaria o absoluto dono da empresa: Zeus. Quando alguma questão de maior relevância, geralmente desentendimentos entre os poderosos deuses diretores surge, Zeus, com a sua onipotência, interfere (nos seus próprios aspectos, nele próprio, portanto) fazendo prevalecer (automaticamente) a sua vontade. Cada deus diretor não tem a menor preocupação ou compromisso com o que acontece na área do outro. Há, mesmo, freqüentes desentendimentos dos deuses diretores entre si, cada um defendendo os aspectos de suas áreas, às vezes conflitantes com as do outro.

Há, por exemplo, o caso de Hipólito, filho de Teseu, que morreu num acidente fomentado por Afrodite (a deusa do Amor), porque Hipólito (exímio caçador, protegido da deusa Ártemis, a deusa da Caça, protetora dos caçadores), se negara a aceitar o amor de Fedra (sua madrasta), levando-a ao suicídio. Tal fato causou um atrito entre Afrodite e Ártemis, esta protetora de Hipólito. Para Afrodite, não importavam os aspectos éticos e morais contidos na atitude correta de Hipólito. A ela, deusa do Amor, importava tão-somente o aspecto do amor por ela regido. A deusa Atena (da Justiça), em tal contexto certamente agiria de modo diferente. Percebendo-se tais sutilezas, melhor compreenderemos as aparentes contradições que tanto marcam o comportamento dos deuses olimpianos ao longo de toda a Mitologia Grega.

(Por que Zeus, um deus, o deus dos deuses, foi escolher logo u’a mulher casada para com ela gerar um filho? Com o esposo saindo para o campo de batalha, indo, como herói, vingar a honra da família e a morte dos cunhados? Ainda usou do artifício pouco ético de se transvestir no marido ausente e enganar a esposa?)

A ética divina é bem diferente dos padrões éticos dos humanos. Os desígnios de Deus – pela sua grandiosidade – jamais poderão ser compreendidos pela infinitamente pequena percepção dos seres humanos. Ao escolher Alcmena, Zeus não o fez, certamente, levado por uma leviana conquista de u’a mulher bonita, casada, virgem. Tinha ela a linhagem de um herói grego, Perseu, e isso contava muito no conceito das populações gregas da época. Sua família era, assim, altamente indicada para a convivência de quem viria destinado a governar toda a Grécia (o mundo então conhecido). O fato de Alcmena ser ou não casada não teve a menor importância para Zeus. Ele, como um deus (o deus de todos os deuses do Olimpo) estava muito acima de qualquer convenção de ética ou de moral dos seres humanos. Além do mais, havia, então, uma tradição determinando que a primeira noite do casamento a noiva passasse com um deus. Era uma grande honraria para a noiva. Tinha o sentido simbólico de um ritual de preparação para a convivência matrimonial. (Até no período feudal, bem mais recente, portanto, em alguns feudos – na Europa – tal costume existia em relação ao senhor feudal sem, obviamente, a conotação religiosa dada pelos antigos gregos, em relação aos deuses).

Zeus se transveste de Anfitreão, porque a nenhum mortal é permitido ver Deus em toda a sua plenitude; em toda a sua luz; em todo o seu poder e presença. Esse ser humano seria fulminado pela grandiosidade da presença divina. No Velho Testamento, Deus disse a Moisés; “Eu Sou o Deus de teu pai, o Deus de Abrão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o rosto, porque temeu olhar para Deus’’. (Êxodo 3,6). Deus se mostra aos homens através de suas leis justas e perfeitas; de suas criações; do seu amor; pela bondade; pela caridade, por todos os seus atributos. Compete ao ser humano identificá-lo nas suas várias manifestações. Mas semelhantemente a Alcmena, quase nunca identificamos Deus quando ele está (e sempre está) bem próximo.
O fato de Zeus transvestir-se de Anfitreão, ensina, em uma variante do Mito (um mito tem muitas variantes) que nos devemos precaver contra os enganos, a ilusão. Por mais convincentes que nos pareçam as coisas, devemos sempre ficar na dúvida quanto à veracidade dos fatos, sem nos deixar envolver totalmente pelas aparências.

(Desatrelar o Carro-do-Sol e transformar três dias e três noites em um só dia)


É um simbolismo da criação divina. O tempo para enquanto os deuses criam. A eternidade é, e sempre será, como eternos são os feitos divinos. Esses três dias e três noites representam, simbolicamente, os seis dias da Criação, (Deus descansou no sétimo), de que nos fala o Gênese – no Velho Testamento. São, as eternidades passadas, presentes e eternidades futuras, u’a mesma e única eternidade. E dentro desta eternidade, os deuses continuam criando, criando eternamente, numa criação sem fim. Na simbologia dos números, o 3 indica a Criação. O Tao, a energia Primordial, o 1, dividiu-se em 2 (as polaridades) yin/yang, o masculino/feminino) que somado à unidade Primordial, 1, sempre presente, dá: 1 dividido por 2=2, +1=3. O 3 produz (cria) todas coisas.  

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