quarta-feira, 13 de novembro de 2013


1º TRABALHO
O LEÃO DA NEMEIA
O Mito

Imenso pânico invadira toda a região da Nemeia. Em sua densa floresta de rica fauna, nenhum caçador se aventura mais a entrar. Os rebanhos bovinos que antes pastavam tranquilamente nas vizinhas pradarias são impiedosamente dizimados pela terrível fera, o monstruoso leão da Nemeia. As plantações são devastadas. Os habitantes da região, aterrorizados, não sabem como se livrar do perigoso animal que tem o couro invulnerável a qualquer tipo de flechas e o seu imenso corpo resiste a golpes de qualquer arma que lhe pretenda abater. Já devorara a todos quantos lhe tentaram matar. Os seus pavorosos urros fazem estremecer toda a floresta e tremerem de medo os assustados moradores da Nemeia. Ninguém sabe ao certo de onde veio tal fera, mas, comenta-se, ter sido ela um presente de Selene, a deusa da Lua à deusa Hera que ordenara sua vinda para as florestas da Nemeia.
O rei Euristeu toma conhecimento destes fatos e manda chamar Hércules que, nas pradarias distantes da Nemeia, enquanto medita sobre o que lhe dissera a Pítia, aguarda as ordens do Rei. Chamado por Euristeu retorna Hércules a Micenas e se apresenta em palácio. Euristeu lhe diz:

- Vá à região da Nemeia e mate o leão que está ameaçando a população de lá! E traga-me a prova da morte dele!

Hércules não discute. Humildemente curva-se em sinal de aquiescência e se retira. Meditando sempre no que lhe disse o Oráculo, parte para a região da Nemeia. Vai cumprir as ordens de Euristeu. Chega lá e é imediatamente informado da existência do terrível monstro. Por onde passa vão lhe avisando dos riscos que todos correm, sem saber mesmo, se a qualquer momento não serão atacados pela fera que surpreende incrivelmente suas vítimas. Hércules começa a pensar no que fazer – e como fazer – para enfrentar o leão. Suas flechas poderosas não rompem o invulnerável corpo do terrível animal; sua temida clava cujo impacto nenhum monstro ou animal jamais suportara, vivo, era, para aquele leão, inofensiva; diziam até que nem mesmo o fogo lhe devorava os pelos. De que precisaria Hércules para vencê-lo? Meditando, pensando muito como agir, esboça, então, o primeiro plano de ação: teria, antes de tudo, de encontrar o leão.

Uma coisa, entretanto, começa a encabular Hércules! Todos falam do leão, de suas danosas investidas por toda parte, dos estragos por ele causados, dos seus ensurdecedores urros, mas Hércules não consegue encontrá-lo, por mais que o procure. Não vê os seus comentados estragos e nem sequer ouve os seus urros. – “Talvez a coisa não fosse bem assim” – Reflete Hércules. Poderia estar havendo exagero nas informações e o tal leão não fosse tão perigoso como diziam. Afinal de contas - pensa ele – “o diabo não é tão feio como se pinta” e “quem conta um conto aumenta um ponto”, como dizem os velhos ditados. Munido de sua inseparável clava, com a aljava cheia de flechas, parte ele para a sombria floresta à procura do terrível leão.

Adentra a floresta onde dantes nunca havia entrado e segue a primeira trilha que surge à sua frente. Seus olhos de experimentado caçador procuram aqui e ali – em trilhas e bebedouros – por aonde vai seguindo, pistas de passagens do leão, sem, contudo, encontrar dele, o menor vestígio. Cada vez que avança, sempre cuidadosamente, mais sombria e escura vai se tornando a floresta. E assim caminha Hércules sem parar – dia e noite – por todos os cantos e nada do leão ou de seu menor vestígio. Depois de muito andar, Hércules para e começa a duvidar da existência da fera.

Mas reflete: não é possível! Tanta gente falando do leão, de seus estragos, sem que ele realmente exista?!... Recomeça, então, a cansativa busca. Sobe serras, desce vales, e numa dessas descidas, lá embaixo numa trilha próxima a um pântano, à sua esquerda, ele vê na lama, a marca de uma enorme pata de leão! “O leão existe!”- Descobre Hércules – “Agora fica mais fácil matá-lo!”- Pensa. Mais cauteloso ainda, aproxima-se do local onde está a marca da pata do leão e examina, cuidadosamente, as pegadas do animal deixadas na lama do pântano.

Pelas dimensões das patas, calcula Hércules ser o animal monstruosamente grande. Exímio que é na arte da caça, segue, sempre cuidadoso, a trilha do leão. Começa, agora, a ver, claramente, por onde passa, vestígios, cada vez maiores da presença do monstro. Aqui, um galho de árvore quebrado; ali, um arbusto amassado, adiante marcas de sangue de suas vítimas. E assim vai Hércules seguido a trilha, que, sabe, o levará ao procurado leão. De repente a floresta toda estremece pelo eco de tenebroso urro. Era o rugido do leão da Nemeia! A fera já percebera a aproximação de Hércules e se prepara para o decisivo encontro. Hércules mais cuidadosamente ainda, avança na trilha. Pela força do rugido sabe que o leão está perto e todo o cuidado é pouco. A qualquer instante ele pode ser atacado. Todos os seus sentidos de experimentado lutador estão prontos para um combate que ele nem mesmo sabe como vai ser travado, já que suas armas são totalmente impotentes nesta luta.
 Mas vai em frente pela trilha que acaba, de súbito, na entrada de uma caverna e Hércules é arrebatado por uma enorme surpresa: – “esta caverna eu conheço!” – Exclama. “Como pode acontecer tal coisa?!” – Pergunta, perplexo, a si mesmo. Em resposta às suas reflexões e aviso de que o inimigo está próximo, novo e ensurdecedor rugido, saído da caverna, ecoa pela floresta. O leão está ali dentro.
Identificado e localizado o inimigo, mandam os mais respeitáveis tratados da tão estimulada ciência da guerra, ordens do dia, boletins de caserna, secretos planos de combate, que se procure conhecer, primeiro, as forças e os hábitos do inimigo, porque assim fica mais fácil combatê-lo. Como Hércules não dispõe de uma “patrulha avançada” para espionar as “forças inimigas”, no caso, o leão da Nemeia, resolve, ele mesmo, plantar-se dia e noite em frente à caverna, para ver o tamanho do leão e conhecer seus hábitos.

Do seu estratégico posto de observação percebe Hércules que o gigantesco leão, contrariamente aos hábitos de outros animais selvagens, tem o costume de esconder-se à noite, no fundo da caverna – para onde vai sempre ao escurecer – e sair para atacar às suas vítimas, sempre ao alvorecer. Hércules ao perceber tal costume, força a mudança neste hábito, provocando o leão, atirando-lhe flechas, exatamente quando, ao romper do dia, o animal tenta sair do seu esconderijo para os costumeiros ataques na região. Forçado, assim, o leão muda os seus hábitos e em vez de sair ao romper do dia, esconde-se no interior da sinistra e escura caverna. Hércules sabe que a caverna onde o leão se esconde tem duas entradas. Ele já a conhece! Uma pela frente e outra por detrás. E, assim, quando Hércules penetra na caverna pela entrada da frente, o leão sai pela entrada dos fundos e vice-versa. Desse modo Hércules jamais conseguiria pegá-lo. Pensa, então, num meio de eliminar o problema. E, refletindo, tem a ideia de fechar, vedando com uma pedra a passagem dos fundos. E logo põe tal ideia em prática, deixando o leão encurralado dentro da caverna. Toda vez que este tenta sair, é acossado pelas flechas de Hércules que mesmo sem perfurar o invulnerável couro, causam, com o grande impacto, fortes dores que obrigam ao leão recuar.
Estrategicamente Hércules aguarda o momento certo para o ataque. E num determinado momento em que o leão, acossado pelas flechas, impedido de sair, volta para o interior sinuoso da caverna, Hércules agilmente o acompanha. 
Escuta, entretanto, naquele instante, uma voz que lhe sussurra: “Não use armas contra ele”. Hércules se joga, ele próprio, com toda a sua estrutura física de três metros de altura coberta de músculos de aço, tão fortes como a força de poderosos tentáculos; joga-se em cima do leão, envolvendo-o e apertando-lhe o pescoço. “Vá apertando lentamente...” - Sussurra a voz: - “Até asfixiá-lo”. E Hércules assim faz. Deixando o leão morto.
O leão morto, precisa Hércules levar para Euristeu a prova de realização do Trabalho. Com as garras do leão tira-lhe o couro, fazendo com ele uma vestimenta que passa a usar em substituição à pele do leão de Cíteron que matara quando tinha dezoito anos. Da cabeça do leão da Nemeia faz Hércules um capacete que também passa constantemente a usar. Assim vestido, volta a Micenas. Vai a palácio apresentar-se a Euristeu.
Euristeu mandara fazer um imenso vaso de bronze que colocou ao lado do seu trono, como refúgio contra qualquer cilada que, pensava, Hércules pudesse lhe armar. Quando vê chegar Hércules vestido naquela imensa pele de leão, tendo a enorme juba como elmo, morto de medo corre e se esconde dentro do vaso de bronze. Não quer nem conversa com Hércules! 

Simbolismos e Ensinamentos

O simbolismo deste primeiro Trabalho de Hércules começa, logo, no leão. O leão é o rei dos animais. É o símbolo do poder, do orgulho, da arrogância, da vaidade, da prepotência, do egoísmo, do egocentrismo. E, os leoninos, podemos colocar a carapuça até o pescoço. Todos estes egos e outros mais, formam, no ser humano, a personalidade, que é o seu mais perigoso inimigo no caminho da espiritualidade. A palavra personalidade, origina-se de “persona”, antiga máscara romana, com uma abertura em forma de boca por onde saíam as vozes das pessoas que a portavam.
A personalidade é originalmente, portanto, u’a máscara que oculta o nosso real ser, a nossa identidade verdadeira. Àqueles egos (vaidade, orgulho, prepotência etc) juntam-se outros, como o medo, a ambição, o ciúme, as paixões, as crenças, as ilusões e tudo mais que forma o nosso universo material, na essência efêmero, falso e passageiro, denominado pelos budistas de Maya, ou seja, o mundo das ilusões, em que se perdem os seres humanos. Todos esses egos se interpõem entre a alma e o espírito, evitando a sua união, o “Casamento Alquímico”, iluminado pela Chama Trina do Poder, da Sabedoria e do Amor, único meio de o ser humano chegar à iluminação espiritual e galgar a imortalidade. A caminhada de qualquer pretendente à evolução espiritual, inicia-se, portanto, com o enfrentamento deste grande inimigo (a personalidade) que deve ser domado, equilibrado, controlado com persistência, coragem e determinação de nossa plena consciência.

Hércules ao enfrentar o leão da Nemeia – o seu primeiro Trabalho – enfrenta, na verdade, o seu leão que, no final, é ele próprio. Enfrenta a sua personalidade, companheira dos antigos tempos em que ele vivia na fantasiosa irrealidade do seu próprio reinado, nos braços de Maya, a ilusão, longe da realidade – aparentemente contraditória – da caminhada do ser humano, na Terra.

Todos os animais que Hércules vai matar, nestes seus Trabalhos representam símbolos indicativos dos vícios, dos defeitos, das deficiências, enfim, das limitações que cultivamos dentro de nós mesmos. E que são aspectos negativos opostos às qualidades divinas inatas que possuímos. À medida em que vamos desenvolvendo um trabalho de eliminação desses aspectos negativos, automaticamente vamos transmutando-os nas qualidades divinas opostas correspondentes: o ódio, em amor; o medo, em destemor; o egoísmo, em altruísmo; o orgulho, em humildade; a intolerância em compreensão etc. Quando Hércules mata o leão da Nemeia ele mata, ele elimina de dentro de si mesmo, os aspectos negativos do orgulho, da vaidade, transmutando-os no oposto: a humildade. Ou, inversamente, ele somente consegue matar o leão, porque já havia iniciado em si o processo de transmutação do orgulho e da vaidade que antes possuía em grau bem elevado, na qualidade divina da humildade, (este é o simbolismo da aceitação – com humildade – do aconselhamento da sacerdotisa Pítia, no Santuário de Delfos) e indo, humildemente, apresentar-se ao arrogante Euristeu - seu inimigo – para a realização dos 12 Trabalhos.

(Por que as armas de Hércules são inofensivas ao Leão da Nemeia?)

As armas de Hércules são inofensivas ao Leão da Nemeia porque sendo este o primeiro trabalho de um aspirante – a sua primeira prova – deve ser realizado por ele, aspirante, sozinho, com os seus próprios recursos, sem ajuda alheia. Motivado por sua vontade, ele deve usar o seu discernimento sem a menor interferência exterior. “Não use armas contra ele...” Era a voz do mestre (interior) de Hércules, o Eu Superior que todos nós temos e que nos diz baixinho, lá dentro do ouvido, o que devemos (ou não devemos) fazer em determinados momentos. Quantas vezes a gente vai fazer uma coisa e, de repente, parece que uma voz nos sussurra: “não faça isso!...” E a gente não faz. E se dá bem?!

A voz do mestre interior de Hércules (o seu Eu Superior) lembrando-lhe que naquele momento suas armas eram impotentes, que nada mais lhe poderia ajudar, ensina que os nossos vícios e defeitos, somente nós, com a nossa força de vontade, podemos eliminá-los, e mais ninguém. – “Vá apertando lentamente...” Novamente a voz do Eu Superior - do mestre interior de Hércules - lembrando-lhe que só vagarosamente, lentamente, é que conseguiremos eliminar, sufocando, os nossos vícios. Agindo aos poucos, recuando aqui, avançando ali. Porque se tentarmos eliminá-los de vez, eles fogem. Mas voltam depois e sempre mais fortes. 

(Euristeu trata Hércules com arrogância)

Eles não sabem (nem um, nem outro) que na aparência de algoz é, Euristeu, o maior benfeitor de Hércules. Através da realização dos Trabalhos impostos por Euristeu, vai Hércules conseguir galgar os degraus da escada que o levará à imortalidade e à ascensão. Quantas vezes nos acontece, no nosso dia a dia, que uma atitude hostil de uma outra pessoa em relação a nós, acarretando-nos dificuldades, leva-nos a procurar soluções, e nessa busca aprendemos muita coisa cujo saber vamos usar lá adiante em nosso próprio benefício? A vida é um mestre exigente: dá a prova primeiro, para depois ensinar!

(Hércules não discute. Curva-se humildemente em sinal de aquiescência e se retira)

Hércules não discute porque ele é um aspirante. E um verdadeiro aspirante não discute, cumpre! Por seu livre-arbítrio ele já escolheu o caminho, e o seu mestre superior – o seu Eu Superior – diz: “Vá!” E ele vai. É como a mônada quando se desgarra da Unidade Primordial e se joga na sua longa viagem através dos vários planos, na busca daquela luminosidade que a fará retornar engrandecida ao seio da sua original morada. “O que é em cima é igual ao que é embaixo”. Ensina Hermes (12), o Trimegistro, (o três vezes grande).

(Chegando à Nemeia, o que fazer – e como fazer – para enfrentar o leão, invulnerável às suas armas?)
Hércules vai meditar. Meditando e refletindo ele aquieta a mente. Aquietando-se a mente, surge o discernimento. Ensinam as Escolas de Sabedoria Antiga que a primeira coisa que um aspirante à iluminação tem de fazer, é usar o discernimento. Saber discernir entre o que fazer e o que não fazer. O real o irreal. O certo do errado. Separar o joio do trigo. E Hércules medita. Meditando aquieta a mente. Aquietando a mente, usa o discernimento: antes de tudo tem que encontrar o leão, para ter certeza que ele realmente existe. Encontrado o leão, avaliará suas dimensões e o grau de sua periculosidade que bem poderiam estar sendo ampliadas pelas fantasias dos habitantes da região. - “Falam tanto da presença do leão e dos estragos por ele causados, mas eu nunca os vejo!” - Pensa, encabulado, Hércules.

(Por que Hércules nunca vê o leão nem os danos que ele causa?)
Porque os nossos defeitos e vícios nunca são vistos por nós mesmos. Todos à nossa volta os veem, os sentem, são vítimas deles, mas nós nunca os percebemos. Nosso orgulho, nossa vaidade, nossa prepotência, somente nós não os vemos. Hércules procura o leão da Nemeia por toda parte, mas não o encontra. E começa a duvidar de sua existência que pode ser uma criação da fantasia dos que o cercam. Isto é o que acontece conosco, quando alguém nos fala de nossos vícios que nós não vemos. Simplesmente duvidamos de sua existência... Mas, refletindo, meditando, usando o discernimento, passamos a nos questionar: “Não é possível que todos estejam errados... E só eu esteja certo!”...

Assim refletindo nós vamos descobrindo as marcas das patas do leão deixadas na lama pantanosa do nosso subconsciente. E dizemos, então, para nós mesmos, bem baixinho para que os outros não ouçam: “O leão existe...” Para descobrirmos – aceitarmos – o leão em nós, o que é muito difícil, temos, antes, de vagar pela densa floresta, subir montanhas, descer vales, seguir trilhas e mais trilhas, até chegar à caverna sinuosa da nossa mente e ouvirmos, forte, dentro de nós, o tenebroso rugido do leão. Aí vamos recordar que nas “trilhas” por onde passamos, estavam claras as marcas do leão, nós é que as não víamos. “Ah! Ele passou por aqui, olhe os galhos quebrados... “Ah! Aquele dia, eu nem me lembrava mais... Fui muito grosseiro com aquele empregado... E aquele humilde guardador de carro? Como fui arrogante com ele porque não lhe queria pagar por um trabalho que eu sabia que ele não tinha realizado?”... “Ah! Aquela mocinha, a empregadinha doméstica lá de casa! Como eu era autoritária... Eu pago bem pago, mas quero o serviço perfeito... Não peço favor... Com o desemprego que há por aí... Não falta quem queira trabalhar...”

É através das pequenas coisas do dia a dia, no relacionamento quotidiano que temos de aprender a ser humildes. Devemos ser, como ensina Helena Blavatsky no livro A Voz do Silêncio - O Caminho do Discipulado: “Sê humilde se queres ter a Sabedoria; sê mais humilde ainda quando te houveres assenhoreado da Sabedoria. Sê como o mar que recebe todos os rios e riachos mas mantém a sua imensa calma inalterada”.

E Hércules vai meditando, vai aquietando a mente, usando o discernimento enquanto vai seguindo a pista do leão, cada vez mais forte. Tenebroso rugido ecoa pela floresta e Hércules já não tem a menor dúvida da ferocidade do monstro, que de tão forte – ele está perto – já ameaça o próprio Hércules. Mais cuidadosamente ainda vai Hércules refletindo, meditando, pensando... E para, perplexo, em frente à caverna de onde sai novo rugido. Não é possível! - Exclama – “Esta caverna eu conheço! É a minha própria mente! É o meu subconsciente!... Como eu tenho deixado um monstro destes viver no meu próprio subconsciente?! Eu tenho que matá-lo! Mas, como?! Se minhas armas não causam danos ao seu corpo invulnerável?”
E Hércules vai meditar, vai refletir, vai usar o discernimento. Refletindo, meditando, descobre que o leão é invulnerável às suas armas porque, estando ele na sua própria mente, é tão forte quanto ela, quanto à sua vontade, tornando-a assim, impotente contra ele. E voltando a meditar, tem Hércules uma ideia: “Eu preciso conhecer os hábitos deste leão. Conhecendo seus hábitos vou descobrir seu ponto fraco e vou saber como atacá-lo”. Assim pensa Hércules porque, se quisermos destruir nossos vícios, descubramos os hábitos que ele deixa em nós... Põe-se Hércules, atento, em frente à sinuosa caverna e descobre que o leão somente sai ao romper da madrugada para atacar suas vítimas, porque os nossos vícios e defeitos não aparecem toda hora, nas ocasiões em que os esperamos. Eles se escondem na caverna do nosso subconsciente e sorrateiramente aparecem para atacar de surpresa – quando ninguém espera – em determinadas ocasiões. Daí as dificuldades para sua identificação:

- “Eu não sou orgulhoso... Não sou vaidoso, não! Eu sou até muito simples!... As outras pessoas são que não me entendem... Agora, o que eu não posso é, com a minha responsabilidade, na posição que eu ocupo, ficar dando trela a todo mundo. De repente começam a confundir as coisas... Vêm as explorações... É preciso manter uma certa distância...”

E Hércules pensa: “mudando os hábitos deste leão, vou enfraquecê-lo e assim fica mais fácil vencê-lo...”.

Não é assim que a gente faz, no dia a dia, para eliminar um vício? Quando se quer deixa de fumar, por exemplo, e, sabendo que um cafezinho sempre atrai um cigarro, a gente deve tomar menos cafezinho; se é o cigarro que atrai o café, aí a gente não usa os dois juntos. Se somos glutões, tivermos o hábito de comer demais, evitemos ir à mesa àquela hora que estivermos com muita fome. Esperemos um pouco. Tomemos um gole de água, um cafezinho, aguardemos algum tempo, e então almoçaremos. A mesma coisa deve ser feita em relação ao álcool, drogas etc. Mudando-se os hábitos dos nossos vícios fica bem mais fácil vencê-los. E para vencê-los, temos que atacá-los moderadamente, aos poucos, apertando vagarosamente a garganta do leão, (porque se tentarmos eliminá-los de vez, eles fugirão, mas voltarão). Devemos fazer como fez Hércules orientado pela voz do seu eu Superior, voz interior que todos nós possuímos e que tudo sabe e nos orienta, desde que aquietando nossas mentes, pensando, refletindo, usemos o discernimento como o primeiro passo no caminho da nossa evolução espiritual.


Hércules ao se vestir com a pele do leão da Nemeia e usar a máscara do leão como capacete, o faz pela necessidade de provar a Euristeu a realização do Trabalho. Simboliza o seu retorno vitorioso com a missão cumprida: - o leão que é ele próprio - mas expurgado dos aspectos negativos (o leão morto) da personalidade que esse animal simboliza. 

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