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quinta-feira, 14 de novembro de 2013
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
ÍNDICE
DEDICO ESTE LIVRO ................................................................................................................5
AGRADEÇO .................................................................................................................................6
P R Ó L O G O: MITO E ESPERANÇA ......................................................................................7
P R E F Á C I O ........................................................................................................................... .8
INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................10
FANTÁSTICA VIAGEM ...............................................................................................................17
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS..........................................................................................23
O NASCIMENTO DE HÉRCULES .............................................................................................31
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS..........................................................................................33
A DUALIDADE ZEUS/HERA ......................................................................................................38
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS..........................................................................................39
A LOUCURA DE HÉRCULES ....................................................................................................42
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS..........................................................................................44
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS..........................................................................................46
NO TEMPLO DE DELFOS ..........................................................................................................48
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS...........................................................................................50
1º TRABALHO
O LEÃO DA NEMEIA ....................................................................................................................56
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS...........................................................................................61
2º TRABALHO
A HIDRA DE LERNA ....................................................................................................................69
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS..........................................................................................73
3º TRABALHO
A CORÇA DOS CASCOS DE
BRONZE E CHIFRES DE OURO ..............................................................................................84
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS.........................................................................................89
4° TRABALHO
O JAVALI DA MONTANHA
DO ERIMANTO ............................................................................................................................95
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS.........................................................................................101
5º TRABALHO
AS AVES DO LAGO ESTÍNFALO ............................................................................................108
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS.........................................................................................116
6º TRABALHO
OS ESTÁBULOS DO REI ÁUGIAS ...........................................................................................124
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS .........................................................................................132
7º TRABALHO
O TOURO DE CRETA .................................................................................................................141
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS..........................................................................................145
A LENDA DO MINOTAURO ........................................................................................................152
8º TRABALHO
AS ÉGUAS DE DIOMEDES .......................................................................................................157
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS..........................................................................................161
9º TRABALHO
O CINTURÃO DA RAINHA
DAS AMAZONAS .........................................................................................................................172
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS...........................................................................................183
10º TRABALHO
BUSCAR O CÃO CÉRBERO,O GUARDIÃO DO INFERNO(1ª PARTE) ...............................191
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS...........................................................................................193
OS MISTÉRIOS DE ELÊUSIS .....................................................................................................195
BUSCAR O CÃO CÉRBERO,O GUARDIÃO DO INFERNO (2ª PARTE) ..............................200
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS...........................................................................................207
11º TRABALHO
OS BOIS VERMELHOS DE GERIÃO ........................................................................................215
SIMBOLISMOS E ENSINAMENTOS..........................................................................................227
12º TRABALHO
AS MAÇÃS DE OURO DO JARDIM DAS HESPÉRIDES .....................................................236
ASCENSÃO AO OLIMPO ...........................................................................................................245
INVOCAÇÃO A HÉRCULES, ELOHIM .....................................................................................249
GENEALOGIA DOS DEUSES NA MITOLOGIA GREGA .......................................................251
DENOMINAÇÃO DOS DEUSES NA MITOLOGIA GRECO-ROMANA ................................255
GLOSSÁRIO .................................................................................................................................256
DEDICO ESTE LIVRO
A Hilda,
esposa e companheira durante quase trinta anos, ser humano dotado de grande
sensibilidade, com todo o meu afeto e saudade.
Aos meus
filhos Eduardo, Júlia Maria, Patrícia Maria, Ricardo André e Esdras Tosta
Filho, a eles agradecido. A necessidade de mantê-los preservou-me de um maior
engajamento político-ideológico na resistência ao recente regime militar, que,
talvez, me tivesse conduzido a uma morte precoce, ou o que seria pior, gerado
carmas que necessitassem de várias encarnações para o resgate. Dedico, ainda,
este livro à minha neta Eduarda e aos meus netos Gabriel, Gustavo e Leonardo,
pela ordem de chegada. E mais recentemente, ao meu novo neto Pedro Augusto. E a
quem mais vier...
AGRADEÇO
A Vânia Brito
pela digitação do texto deste livro; a Lamartine Augusto, Vânia Queirós e Neila
Nascimento, respectivamente pela revisão, diagramação e paginação. Sou
agradecido, também, a Margarida Sinclair Moreira de Carvalho e às suas filhas
Tarsila Carvalho de Jesus, Agnes Carvalho de Jesus e Gabriela Carvalho de Jesus
pelo empenho demonstrado na elaboração desta edição digital do livro, e a todos
os que por quaisquer meios, ajudaram-me na realização destes meus “12
Trabalhos”.
PRÓLOGO:
MITO E ESPERANÇA
“O homem
é o inacabado (...) e por isso faz poemas.” Octávio Paz
O homem,
este mistério.... Um ser ainda futuro, apenas um desejo, uma vontade, devir. E
assim - ou por isso mesmo – fala, cria, recria suas hi(e)stórias, seus poemas,
única forma de dizer daquilo que é e daquilo que lhe excede, ultrapassa: flecha
em direção ao coração do alvo: dEUs.
O Mito é
isto: um modo do homem - Narciso! – vê a face de si mesmo, ser do por-vir,
plenitude.
(h)omenização
“A poesia
é o entrar no ser”. Octávio Paz
“É minha
criação isto que vejo”. Octávio Paz
e
continuar a fazer este movimento contemplando a si mesmo no Caminho, kairós,
esta culminância do homem no infinito do tempo: última esperança.
O Mito é
assim, como que nos devolve um rosto futuro, aquilo que precisamos fazer
existir, finalizando na conclusão da sua gesta onde tudo ainda é lástima,
lágrimas, dor... Dionísio, vinho novo, um deus bailarina, menina/menino e
flor...
“Os 12
Trabalhos de Hércules”, de Esdras, nos reporta a estas pulsações, municia a
viagem, diz do que precisamos recordar: lembrar com as fibras íntimas do
coração.
Hércules
é guia, paradigma, senso de realidade, possibilidades... O texto testemunha,
valoriza o caminhar.
SAJA
(Professor
de Filosofia da Universidade Federal da Bahia. Mestre em Artes Visuais. Doutor
em Letras e Lingüística.)
PREFÁCIO
Numa
determinada época de sua evolução, o Espírito Humano é despertado e conduzido
por um ideal maior que o leva à procura de novo caminho a seguir. É um impulso
determinante, surgido como um renascer, aflorando como certeza e, firmando-se
num coração amoroso como um ideal de vida que se instala num momento,
aparentemente inesperado, reformulando toda uma existência para preenchê-la de
força, coragem, justiça e forte decisão. Espírito, mente e corpo
sincronizam-se, entre comportamentos de padrões diversos, resultando daí numa
nova capacidade de reorganização interior. É, exatamente, o ponto em que as
indecisões do livre-arbítrio se dissolvem como brumas numa noite escura. O
homem “persona” refreia seus impulsos e o homem global, causal, superior, passa
a dirigir sua carruagem. Os cavalos já não se impõem na direção, o auriga é
firme condutor, sabe para onde quer ir e como ir. Não importam as dificuldades
que possam surgir. Se há paradas, retardos ou comprometimentos inesperados, o
caminho foi escolha sua e vai trilhá-lo. O poder é sua vontade e a cooperação
seu instrumento de campanha. Seguir é sinônimo de alcançar. O alcance torna-se
um dever a cumprir.
Os
obstáculos são torres cujos faróis iluminam, não só o caminho pedregoso como
também, a alma aflita e ansiosa por seguir. Neste caminho o homem desperto é um
peregrino, um eremita ciente de que há um ponto a alcançar, um centro a chegar:
chame-se Wahalla, Olimpo, Casa de Deus, Jerusalém Celeste ou Shamballa, jamais
deixará o desânimo dominá-lo. Ele tem uma certeza: chegará ao centro, onde
habita o Poder Universal, pois seu reflexo ele o descobriu através de sinais e
símbolos, fulgura em seu próprio interior, em seu Coração Espiritual.
Ele o sabe. A caminhada ensina. À proporção que se
torna um guerreiro do destemor, descobre-se como Discípulo do Rei, cujo reino
haverá de acolhê-lo como filho.
Tendo
descoberto a qualidade básica, essencialmente positiva - a Bondade Humana - ele
aprende que se luta para viver, se vive para vencer, se vence para servir e
serve-se para crescer como um todo, como uma Humanidade rumo à Fraternidade
Universal.
Este é o
Caminho traçado por Esdras no seu livro “Os 12 Trabalhos de Hércules O Caminho
do Ser Humano.” Certamente conseguirá despertar o leitor, através da saga do
maior guerreiro, do mito do Discípulo, conduzindo-o à grande aspiração, que é a
Liberdade Interior. Descortinando a persistência e a força do herói grego,
Esdras o apresenta através de seus 12 trabalhos, como o maior exemplo de
firmeza de caráter. Através de linguagem cativante, ora mística, ora mítica e
simbólica, enriquecida de profundo ardor espiritual, o livro é um convite
incessante a embarcarmos na Nau Cósmica da ideação rumo à Evolução Humana.
Parabéns,
Esdras. Parabéns leitor. Vamos juntos, sem parar, rumo ao infinito.
Sória
Lima dos Santos
(Professora, conferencista, pesquisadora das Ciências Ocultas e
estudiosa das obras de Helena Petrovina Blavatsky)
INTRODUÇÃO
(Da
edição impressa, com revisão)
“Como quer que os
homens se aproximem
de Mim,
mesmo assim eu lhes
dou as boas
vindas, pois todas as
veredas
tomadas pelos homens
são
Minhas.”
(Bagavad-Gita, IV,
II)
Tadução de A. Besant
Este livro embora utilize
Hércules, o maior herói grego, como seu principal personagem, não é,
propriamente, um livro sobre Mitologia Grega. Ele usa a Grécia Antiga como
cenário e a Mitologia Grega como roteiro para levar aos seus leitores preciosos
e úteis ensinamentos sobre o caminhar na senda do esoterismo. É um livro
místico e de busca do autoconhecimento. Fala de coisas espirituais e esotéricas
consideradas misteriosas porque a humanidade ainda não chegou a um estágio de
percepção que lhe permita entendê-las em toda a sua plenitude. Pretende, este
livro, mostrar o Caminho àqueles que, se ainda não o encontraram, buscam
ensinamentos que os levem à iluminação espiritual através da senda mística da
fé. Os Caminhos são vários. Todos eles levam à casa do Pai. Mas o Portal de
entrada é um só. É o ponto no centro do sublime Mandala (1) de onde partem e
para onde convergem todos os raios. O Caminho da Fé liberta o viajante da
pesada carga da inquisição racional que muito limita e faz retroagir o
buscador, numa procura onde somente a intuição é capaz de levá-lo pela mão,
ao portal do Sagrado Templo.
Este livro é como um
Mandala. De seu centro partem raios em todas as direções.
Aborda ensinamentos de
várias e Antigas Escolas de Mistérios, de tradicionais religiões; faz
constantes referências a textos bíblicos e passa, até, por ditos populares, uma
espécie de religião praticada pela sábia intuição nascida das experiências do
ser humano na Terra.
É um livro de busca do
autoconhecimento, porque à medida que o leitor acompanha, no mito, os trabalhos
de Hércules e vai buscar nos ensinamentos dos simbolismos as lições para sua
aplicação no seu dia a dia, está exercitando a máxima do Oráculo de
Delfos:”Homem, conhece-te a ti mesmo”. Conhecendo-se a si mesmo, saberá o ser
humano como encontrar a solução para os problemas que afetam o seu cotidiano.
Os caminhos da busca do
autoconhecimento e os do misticismo juntam-se, encontram-se neste livro. São
eles, verdadeiramente, um só, a conduzir o ser humano à autorrealização, uma
etapa na busca da evolução espiritual. E esta caminhada o leitor vai fazer na
companhia de Hércules, o maior herói da humanidade, em todos os tempos, numa
viagem atemporal no mundo dos deuses da Grécia Antiga.
A religião grega naquela
época - muitas vezes confundida com mitologia – era, na verdade, a relação dos
gregos de então com o divino, religiosa, portanto. É, hoje, o registro
(transformado em lendas e fábulas pelo apoteótico de sua narração através dos
tempos) dos hábitos e costumes de um povo que deixou - resistindo aos milênios
- a marca da sua grandiosidade histórica, da sua inteligência e capacidade
criativas que alimentam a admiração e o respeito de nossa
contemporaneidade.
Confundir com lendas e
fábulas a história religiosa dos gregos antigos é tentar apagar tudo o que
deles aprendemos e admiramos. Os mitos gregos são lendas e fábulas contadas
através dos milênios, com inúmeras variantes cada um, a depender da
criatividade e das fantasias dos narradores e escritores que os passaram.
Mas os deuses gregos que
geraram os mitos são tão reais quanto os nossos deuses, porque são eternos,
imortais, intemporais. São eles as mesmas energias que existiram há milênios,
existem hoje e sempre existirão – porque eternos – e que acompanham com grande
interesse e sublime amor a evolução do ser humano na Terra. São energias
crísticas que desceram à Terra nos primórdios das primeiras raças humanas para
ajudar a humanidade na sua incipiente e insipiente caminhada, que as mais
tradicionais religiões - e correntes de pensamento - através dos tempos, vêm
cultuando como deuses, santos e guias espirituais.
Muitos desses personagens
que fizeram os mitos como admirados heróis - porque se portavam sempre na
defesa da verdade e da justiça - foram seres humanos como nós que, fortalecidos
na fé crística, exercitando poderosa força de vontade, realizando amorosos
serviços de solidariedade humana, tornaram-se homens perfeitos em equilíbrio
com as forças cósmicas: foram alçados a planos espirituais e elevados à
categoria de deuses. Hoje, dos altos planos em que habitam, continuam ajudando
os seres humanos na sua longa caminhada na direção à sonhada imortalidade.
Eram os gregos antigos,
“embora não se ajoelhassem nem se curvassem perante os seus deuses”, muito
religiosos. Cultuavam, em rituais com adoração, suas divindades. Como não estavam,
ainda, impregnados pelas inversões de valores que influenciam tão grandemente o
comportamento da nossa atual chamada Civilização Ocidental e Cristã, permitiam
eles que as energias divinas - os seus deuses - pudessem descer à Terra numa
convivência bem próxima do contexto humano. (O Olimpo, (2) u’a montanha da
Terra, ser morada dos deuses, simboliza muito bem essa proximidade). Estavam os
deuses gregos mais próximos dos homens, porque estavam os homens, bem mais
perto dos deuses, das energias divinas. Energias eternas que continuam a
envolver os quatro cantos da Terra a esperar que o homem retorne do enganoso
atalho que o fez distanciar-se de Deus e retome o Caminho certo do reencontro
com o Pai. Aí, então, verá a humanidade inteira as divinas energias, em
manifestação, descerem dos altos planos espirituais e envolverem os homens num
clima de sublime entendimento. A sagrada meta não é - unicamente - subir aos
Céus, mas também, permitirmos que possam os deuses manifestar-se na Terra, numa
convivência paradisíaca com os humanos, instalando-se assim, aqui, a tantas
vezes anunciada Idade de Ouro, a Nova Era sonhada pela humanidade.
A intenção deste livro é
despertar no leitor a consciência de que Deus não se encontra tão distante dos
seres humanos como procuram mostrar várias das tradicionais religiões. A ideia
que elas passam é que Deus está inacessivelmente instalado, lá em cima, do
outro lado de um profundo fosso como um senhor feudal encastelado; e que a nós,
míseros seres humanos, de um outro lado, só é permitido implorarmos - tementes
a Deus – a divina Misericórdia, pelos erros e pecados cometidos. Misericórdia
que, se conseguida, permitir-nos-á - como se aposentados pelas benesses dos
Céus – atravessarmos o largo fosso e gozarmos - sem nada mais precisar fazer –
a eterna paz celestial. Tal ideia retira do ser humano a sua condição de
filho de Deus, pela absurda separação que cria entre pai e filho (por mais
erros que este haja cometido, principalmente em se tratando do Pai amantíssimo,
que é Deus). Gozar (como aposentados) a eterna paz celestial, subtrai dos seres
humanos a condição de, como filhos de Deus, serem partícipes - com o Pai – da
eterna evolução do Universo, onde nada é estático. Onde tudo vibra em constante
e eterno movimento, envolvendo tudo e todos numa permanente mutação: exigindo
de todos os seres do macro e do microcosmo a participação na execução do
Grandioso Plano de Deus.
Mostra este livro que, a
partir dos bons serviços praticados aqui na Terra, em cada encarnação, vai o
ser humano desenvolvendo o seu potencial divino no caminho da imortalidade. (3)
E, lá chegando - nas divinas dimensões - passa ele a integrar as hostes de
auxiliares do Pai Eterno, a ele fundindo-se e ajudando-o na realização do
Grande e Eterno Plano Cósmico.
A ideia de escrever este
livro surgiu-me a partir de um ”workshop” promovido pela Sociedade Teosófica do
Brasil, Loja Kuthumi (Ser Espiritual de grande luminosidade, a quem devo
reverentemente agradecido a minha súbita e surpreendente conversão, uns vinte
anos atrás, (literalmente) em fração de minuto, de marxista convicto, para o
esoterismo). O curso versando especificamente sobre “Os 12 Trabalhos de
Hércules”, foi ministrado pela professora Sória Maria Lima dos Santos.
Empolgou-me e a todos os participantes, pela erudição e brilhantismo da
expositora, que teosofista das mais ilustres, imprimiu aos ensinamentos um
enfoque teosófico que muito aproveitei para enriquecer este meu trabalho,
puramente místico e de busca do autoconhecimento.
A Mitologia Grega desde
muito cedo me fascinou. Criança ainda (e já faz muito tempo), numa época em que
ainda não havia televisão e as revistas infantis não tinham os apelos das
atuais, os meus grandes ídolos eram os heróis da Mitologia Grega. O sabonete
Eucalol, uma marca então existente, publicava, acompanhando cada caixa dos
sabonetes, figurinhas - as estampas do sabonete Eucalol - com gravuras dos
mitos gregos num lado e, no verso de cada estampa um pequeno texto contando
parte daquele mito. Nas escolas do curso primário era febril a troca das
estampas entre colegas. Eu possuía a coleção de todos os mitos gregos
publicados! Passava horas e horas folheando os vários álbuns com as coleções,
lendo... relendo... e sonhando com os heróis mitológicos. Desses meus álbuns
com as estampas eu não tenho a menor notícia!
Passaram-se os anos... Na Escola de Teatro da Universidade Federal da
Bahia, onde eu estudei - convivi intensamente - através dos autores clássicos -
com aqueles personagens mitológicos... Constituo família... Vieram os filhos...
No genial Monteiro Lobato voltei a encontrar os meus heróis da infância e pude
passar aos meus filhos, lendo e com eles interpretando os personagens
mitológicos como em peças teatrais. Uma das minhas filhas, Júlia Maria, cópia
fidelíssima da boneca Emília, tratava Hércules de: Lelé... Com a mesmíssima
intimidade com que a esperta boneca - na criação de Lobato - tratava o grande
herói!
As contingências da vida, obrigações profissionais, vieram novamente
separar-me dos heróis (e dos meus filhos). Mas, no meu subconsciente
permaneciam guardadas as fantasiosas aventuras daqueles lendários seres...
Chega-me às mãos o convite para o ”workshop”, sobre os mitos gregos, promovido
pela Sociedade Teosófica e tudo voltou ao que era dantes. O meu envolvimento
com aqueles personagens, adormecido, despertou e, eis-me na primeira fila
das cadeiras do brilhante curso ministrado por Sória Maria Lima dos Santos.
Dele nasceu este livro. É um convite para uma viagem aos planos
superiores. E, se o leitor quiser, mesmo, beber a essência dos ensinamentos
nele contidos, deverá despir-se, antes do embarque, de toda a capa da
racionalidade e deixar impregnar-se das sutis energias do sentimento e da
intuição, guias poderosos e capazes de levá-lo ao porto seguro das divinas
paragens.
Se algum leitor, munido desses instrumentos e tendo como mapa de viagem
os caminhos traçados neste livro chegar lá, ele (o livro), cumpriu a sua
finalidade.
Salvador, Ba. 10 de agosto de 2013
(Templo do Mestre Ascenso El Morya
Khan)
Esdras Almada Tosta
esdrastosta@yahoo.com.br
esdrastosta@yahoo.com.br
FANTÁSTICA VIAGEM
Era dia de festa no Olimpo, a morada dos deuses. Mas todo dia é de festa
– porque de paz e felicidade – na “Casa do Pai”. Lá, só tem dia, porque não há
noite. É um permanente e imenso clarão (4) onde trevas não medram e cada instante
tem a duração da eternidade. Seria aquele um dia comum, se não fosse especial.
E era. Estava sendo esperado com divino e solene banquete, de volta à Celestial
Morada, mais um filho de Zeus, Filho da Luz - uma centelha divina - deixara a
Morada do Pai, cumprindo leis cósmicas. Navegara, num périplo cósmico, uma
longa e difícil viagem. Percorrera planos e subplanos; (5) envolvera-se em suas
variadas e densas camadas de matéria; nelas sendo envolvido e delas
impregnado-se, chegara ao plano físico na forma de um ser humano: u’a alma,
formada das experiências adquiridas em suas passagens por esses densos
caminhos.
Prisioneiro das limitações deste plano, passara por várias e várias
encarnações. Milhares e milhares de vezes errara o caminho. Acertara tantas outras.
Gerara e resgatara carmas. Dera milhares de voltas em espirais, enfrentando mil
dificuldades, transpondo imensos obstáculos, vencendo enormes desafios.
Retorna, agora, livre de todas as limitações, à Morada do Pai. Volta
engrandecido pela imensa luminosidade conseguida nesta fantástica viagem;
luminosidade que incorporada ao Supremo Luzeiro do Divino Lar Paterno, faria
aumentar neste, mais ainda o seu clarão, se ele já não fosse Luz Absoluta.
Este filho amado – tão esperado – somos nós, seres humanos, filhos da
Luz, centelha divina que nesta viagem grandiosa – estagiários de várias vidas –
caminhamos em busca da nossa identidade cósmica. E, um dia, ascensos à gloria
da imortalidade, elevados à categoria de deuses, reencontrar-nos-emos na Casa
do Pai Celestial e, todos juntos, celebraremos a sublime apoteose da “Grande
Unidade”.
Tudo está pronto para a recepção. Zeus, pai de todos os deuses, Senhor
dos Céus e da Terra, detentor absoluto de todas as vontades e mandos, ocupa,
com todo o seu divino esplendor, o celestial trono de luz. Ao seu lado, a
poderosa deusa Hera, sua esposa e irmã. “Cabelos acobreados e olhos azuis”,
tem, cingindo-lhe a divina cabeça, lindo diadema de ouro. Aureolada de luz,
fita amorosamente o celestial esposo e irmão, enquanto esboça um leve sorriso
de felicidade. Aguardam, assim, a volta do esperado filho.
Um após outro vão chegando os deuses do Olimpo – filhos e filhas de Zeus
– para a grandiosa recepção. À medida em que cada um chega, Zeus, com a sua
poderosa mente divina faz aflorar na tela de sua memória, momentos ocorridos
com cada um deles.
O primeiro a chegar é o deus Hermes, filho da ninfa Maia. É ele o
mensageiro do Olimpo, o embaixador dos deuses. Com suas pequeninas asas nos
pés, percorre, velozmente, todos os recantos do mundo, realizando missões as
mais delicadas e de tudo informando o divino Pai, se este de tudo já não
soubesse, mercê de sua poderosa mente onisciente. Logo depois chega Atena, a
deusa da Sabedoria e da Justiça, sua filha preferida. De porte altivo e resoluto,
é a grande protetora dos heróis gregos e de todos os que se batem em prol da
Justiça. Nascera da cabeça de Zeus, de onde saltou – para espanto geral dos
deuses presentes – já vestida de guerreira, empunhando lança e escudo, dançando
uma dança de guerra e soltando um vitorioso grito de guerra: implacável guerra
contra todo tipo de injustiças.
Chegam, em seguida, os irmãos gêmeos Apolo e Ártemis. Ele, o deus da
Música e da Poesia, personifica o Sol. Nasceu na ilha de Delos, a Brilhante.
Era adorado na cidade de Delfos, onde mantinha o Oráculo de Delfos, o mais
famoso de toda a Grécia. Através de sacerdotisas – as Sibilas – aconselhava o
Oráculo, a quantos – e eram muitos, praticamente todos os gregos – que em
constante peregrinação para lá acorriam em busca de orientação para
enfrentamento dos mais variados problemas da vida. Ártemis, a deusa da Caça e
das Florestas, protetora dos caçadores, exibe arco e flechas, símbolos do seu
poder como divindade campestre. Chega Afrodite, a deusa do Amor, linda e sensual,
a personificação da beleza feminina. Nasceu das espumas do mar (aphros =
espuma). Não tem, ela, uma relação direta de nascimento com Zeus, mas como
este, descende de Urano e Geia (Céu/Terra). Perséfone, acompanhada da mãe, a
deusa Deméter, também chega. Perséfone, raptada por Hades (o Senhor dos
Infernos) com ele se casara. Seis meses por ano passa com a mãe, na superfície
da terra; os outros seis meses passa com o esposo nos infernais subterrâneos.
Sua mãe, Deméter, é a deusa da terra cultivada, da fertilidade, da agricultura,
da abundância. Inclusive da fertilidade humana. Preside as colheitas e os
trabalhos agrícolas.
Chega Dioniso, filho de Sêmele, nascido da coxa de Zeus. É chamado o
nascido duas vezes. Personifica a força vegetativa da natureza. Héfesto, o deus
do Fogo, esposo de Afrodite. Com sua forja instalada no centro do Olimpo,
fabrica objetos maravilhosos para os deuses. Até mesmo seres animados, como
Pandora. A deusa Héstia, filha de Crono e de Reia, portanto irmã de Zeus e de
Hera. Muito querida por todos os deuses do Olimpo. O deus Hélio, o próprio Sol,
com seu carro dourado, puxado por quatro lindos corcéis brancos.
Deuses e deusas, filhos e filhas de Zeus, iluminam numa feérica
atmosfera, aquele ambiente de total e divina plenitude. Falta, porém, ali,
naquele instante de paz e harmonia, a presença do deus Ares. Filho de Zeus e de
Hera é, Ares, o violento deus da Guerra. E certamente o mais ocupado de todos
os deuses do Olimpo. No seu potentíssimo carro, trajando armadura de bronze, brandindo
a poderosa lança; escoltado por Dermos (o Terror), Fobos (o Pavor), Ênio (a
destruidora de cidade) e pelos Keres (divindades da morte violenta), percorre,
Ares, os sangrentos campos de todas as batalhas, de todas as guerras em todos
os lugares do mundo, em todas as épocas.
Zeus percebe a ausência de Ares e sabe (os deuses sabem tudo) onde ele
está naquele momento. Foca sua poderosa mente no filho e vê (os deuses veem
tudo) lá embaixo, na Terra, a luta que está sendo travada naquele exato momento
na cidade de Argos, invadida por tropas de reino vizinho. A Grécia daquela
época (o mundo então conhecido) era uma colcha de retalhos com seu território e
uma infinidade de ilhas divididos em numerosos e pequeninos reinos. Tais reinos
eram governados, uns, por reis que foram príncipes, legalmente herdeiros;
outros, por usurpadores inescrupulosos, homens que se tornavam poderosos e, por
um ou outro meio alcançavam o poder, oprimiam e amedrontavam as populações e
proclamavam – se reis. Outros reinos, ainda, eram governados por heróis,
defensores da justiça e dos humildes. Heróis esses que lutavam muitas vezes
contra um rei tirano que, uma vez destronado, era o herói vencedor aclamado
rei. Uns aceitavam, outros indicavam substitutos que assumissem o compromisso de
governar com justiça e bondade.
Embora cultuando os mesmos deuses, falando a mesma língua, possuindo os
mesmos costumes, havia entre os vários reinos constantes disputas que quase
sempre terminavam em guerras, fomentadas, na maioria das vezes, por insignificantes
questões. Tinha Ares, portanto - como ainda hoje - muito trabalho a realizar.
Zeus sabe disso. E naquele mesmo instante arquiteta um plano para eliminar tais
disputas: unificar toda a Grécia (o mundo então conhecido) em um só país sob o
comando de um só governo, de inspiração divina. Precisa Zeus para isso, gerar
um filho que sendo mortal – não sendo um deus – esteja, portanto, envolvido com
as energias da Terra. E esse filho teria que ser gerado com u’a mulher mortal.
Vê, Zeus, lá embaixo, o reino de Argos invadido e uma lindíssima mulher,
Alcmena, que chora em prantos a morte de seus dois irmãos massacrados pelos
invasores e implora os deuses que façam cessar aquela luta. Zeus ordena a Ares
que suspenda o ataque e faça o exército invasor recuar. Ares obedece. Zeus
volta a ver Alcmena em soluços e a escolhe para ser a mãe do filho que ele vai
gerar para unificar os reinos da Grécia (o mundo então conhecido) e governar,
sabiamente, ”os filhos de Prometeu” (6).
A belíssima, mortal, terrena Alcmena, era filha de Eletrião, rei de
Micenas, e de Lilídice, sua esposa. Descendia diretamente da nobre linhagem de
Perseu (outro herói grego que matou a terrível Medusa, cortando-lhe a horrível
cabeça). Era casada com Anfitreão, seu primo, general influente do real
exército do tio, Eletrião, pai de Alcmena. Casara-se ela bem recentemente, sem
amor, levada por contingências familiares. Naquelas primeiras noites de casados
vinha Alcmena negando-se a manter com o esposo qualquer relação matrimonial,
sob a alegação de que se casara – e a ele disso sempre lembrava – sem lhe ter
amor, embora lhe cultivasse muita estima. Argos é invadida e seus irmãos
assassinados. Alcmena, desesperada, pede ao marido que vá vingar a morte dos
irmãos. Anfitreão, apaixonadíssimo pela esposa e vendo naquele pedido uma
oportunidade de “mostrar serviço” e conquistar de Alcmena o amor que tanto
deseja, atende ao seu apelo. Organiza uma tropa e embarca para vingar a morte
dos cunhados, deixando Alcmena, virgem, em Argos.
Na ausência de Anfitreão, Zeus, usando dos poderes inerentes aos deuses
(os deuses podem tudo) transveste-se de Anfitreão e se apresenta a Alcmena como
se fosse o seu esposo voltando, vitorioso, da guerra da vingança. Conta-lhe
tudo o que está ocorrendo no campo de batalha (os deuses sabem tudo). Até a
taça que o rei inimigo usava, ele mostrou a Alcmena, como troféu de guerra e
comprovação de que a vingança fora consumada. Alcmena acredita em tudo.
Agradecida e sabendo ser Anfitreão apaixonadíssimo por ela, entrega-se a Zeus pensando
ser ele o seu esposo. E durante três dias e três noites vive Zeus os maiores
momentos de amor com Alcmena (porque naquele período ele realmente a amou), que
um deus já tivera com u’a mortal – diz a Mitologia. Para ficar mais tempo com
Alcmena, Zeus chamou Apolo (os deuses podem tudo) e lhe diz para, durante
aqueles três dias e três noites, não passar pelo horizonte com o Carro-do-Sol.
Apolo obedece e desatrela o Carro-do-Sol – dizem uns; outros afirmam que ele
ficou passeando, nesse período, pelos confins do Universo, com o Carro-do-Sol,
enquanto Zeus vive seus divinos amores com a belíssima Alcmena, como se fosse
apenas um dia.
Simbolismos e Ensinamentos
(Zeus arquiteta um plano para unificar
todos os reinos da Grécia, o mundo então conhecido)
Este ensinamento mostra que as forças divinas não estão indiferentes às
nossas questões governamentais; que os deuses além de acompanharem cada nuança
destas questões, indicam equações, encaminham soluções, respeitando sempre o
livre-arbítrio individual e coletivo – das populações envolvidas nessas
pendências. Sendo os deuses eternos e nossa permanência em cada encarnação aqui
na Terra muito curta, não percebemos as divinas equações para os nossos
problemas governamentais. A vontade de Deus é, automaticamente, realizada. Seus
efeitos, porém, são, às vezes, demorados, tendo em vista o processo
transformador (ou criador) gerado pelo Divino Decreto (a Divina Vontade). “Deus
tarda, mas não falta” ou “quando Deus tarda, vem no caminho”, como diz a
sabedoria popular. Observemos as transformações nas relações entre governantes
e governados através dos milênios. Vejamos, por exemplo, a Lei de Talião, ”olho
por olho, dente por dente”, - confirmada por Moisés (Êxodo – 21:24 - e revogada
por Jesus – Mateus 5:38,39) era, aparentemente, uma barbaridade. Mas
representou um grande progresso na área do relacionamento humano, para a época.
Antes dela, era um dente pela vida, às vezes pela vida de todos os parentes e,
até mesmo, de toda uma comunidade. A Bíblia (Velho Testamento) mostra exemplos,
e um deles é a história do rapto de Diná e o morticínio de Siquém (Gêneses 34:1
a 30). Morticínio praticado por Simeão e Levi, filhos de Jacó (ato por este
reprovado) pessoas, portando, presumivelmente as mais virtuosas.
“Deus escreve certo por linhas tortas”, diz a sabedoria popular. As
forças divinas atuam, portanto, às vezes, de maneira indireta – imperceptível
às limitações dos nossos sentidos – na consecução de resultados grandiosos para
os seres humanos – tendo, ainda, de respeitar o livre-arbítrio de cada um e o
desdobramento cármico individual e coletivo, como já foi dito. Busquemos um
ensinamento no hinduísmo: “A batalha de Kurukshetra que nos relata com
maravilhosos detalhes o Bhagavad-gitã, Krishna (o deus) induz os exércitos rivais
a se enfrentarem, tendo, ambos, forças equivalentes. Nesta batalha os dois
exércitos mutuamente se exterminam e com o seu extermínio finda-se a casta dos
clãs guerreiros (que por muito tempo imperava na Índia), com a ascensão dos
Brâmanes e início (na Índia) da Grande Idade da Filosofia que durou até depois
de Gautama, o Buda’’.
O plano arquitetado por Zeus para unificação do mundo então conhecido, a
Grécia, num só governo, hoje, alguns milênios depois, está concretizado. Mas
fica aqui o simbolismo que nos leva a um projeto maior – e sonhado ardentemente
por muitos espiritualistas: A Grécia representava, à época, o mundo então
conhecido. Isso nos faz supor ser o projeto divino, por extensão, de unificação
de todas as nações da Terra, sob a égide de um governo único, central, sem
discriminação de nacionalidades; exercido por governantes sábios, de inspiração
divina, englobando toda a humanidade.
Conta a Mitologia Grega ter sido Hércules o fundador dos Jogos
Olímpicos: ao realizar um de seus Trabalhos (matar o leão da Nemeia),
hospedou-se Hércules, de passagem, uma noite, em casa de um humilde agricultor
da região da Nemeia, chamado Molorco, que tivera o seu único filho devorado
pela fera. Sabendo, por Hércules, que o leão tinha sido morto, sacrifica Molorco
o único carneiro que possuía num culto a Zeus, nascendo, daí, os famosos jogos
Nemeus (de Nemeia), e mais populares da Grécia Antiga que foram, diz a versão,
os precursores de nossas Olimpíadas.
De origem religiosa, portanto, representam hoje, os nossos Jogos
Olímpicos, o maior esforço da humanidade em busca da Confraternização
Universal. A formação da Comunidade Europeia, a adoção de uma única moeda – o
Euro – a junção da mais sensível área – a financeira – nas relações entre
países – é uma indicação, embora embrionária, de que a humanidade caminha,
neste Terceiro Milênio, para a união de todas as nações da Terra, a Grandiosa
Fraternidade Universal tão ardorosamente sonhada. A própria ideia de
globalização hoje falada, pode ser u’a manifestação, embora deturpada (nos
termos em que está sendo conduzida) do inconsciente coletivo mundial.
O ex-presidente do Brasil (e Sociólogo) Fernando Henrique Cardoso, no
seu livro ’’O Presidente Segundo o Sociólogo,’’ elabora proposta de uma
democracia mundial: ’’Precisamos, colocando as coisas utopicamente, de um
governo mundial. Falta um Estado mundial, uma espécie de Constituição do mundo,
que declare os direitos dos povos, diante da especulação. Não concordo com esta
ideia de fim da história. Não há fim da história. É cedo, talvez para vê-la com
nitidez. Mas há, ou vai haver breve uma nova história. Entrados no terceiro
milênio, assistiremos a um novo pacto mundial. Acho que vamos precisar de uma
peça que seja uma nova Constituição do mundo”.
E, esgotadas todas as tentativas de ordenação dos desmandos do mundo
através dos governos da Terra, as forças divinas – ensina a Fraternidade dos
Guardiães da Chama (7) – têm, ainda, na transmutação do carma mundial pela
Chama Violeta, o último recurso para evitar a hecatombe final do Apocalipse.
(Deuses e deusas, filhos e filhas de
Zeus)
O politeísmo da religião grega daquela época, tem uma particularidade
que o faz bem diferente do tradicional conceito politeísta. Cada um dos deuses
olimpianos - filho ou filha de Zeus – representa um dos aspectos divinos do
pai, Zeus, (Atena, a Justiça e a Sabedoria; Afrodite, o Amor; Ares, a Guerra,
dentre outros) que centraliza em si todo o poder divino e age dentro de um
contexto basicamente monoteísta. Os deuses-filhos podem muito, cada um na sua
área (os aspectos divinos), mas, estão todos, no entanto, subalternos à vontade
de Zeus. Existe aí uma grande semelhança com o monoteísmo da Igreja Católica
onde os santos podem muito, atuam indiscriminadamente, em cada um nos diversos
aspectos divinos - inclusive fazendo milagres - mas sujeitos sempre à vontade
do Grande Pai Celeste. Até na geração do filho - que vem para salvar ou ajudar
a humanidade, reformando-a ou governando-a, há semelhança: ambos filhos de Deus
com u’a mãe terrena. No cristianismo, o anjo do Senhor vem anunciar a Maria que
o filho vai ser gerado. U’a concebe virgem, a outra não. Este último aspecto
marca u’a diferença entre uma e outra religião, dá a Maria o sentido de sua
maternidade e revela o grandioso Ser Cósmico que ela é.
(Falta, naquele instante de paz e
felicidade, a presença de Ares, o deus da Guerra)
Ares nunca poderia estar num local onde se reúnem a paz e a felicidade.
Sendo o deus da Guerra, ele representa a desarmonia, logo, representa a
deturpação de um aspecto divino que é a paz. Mas as guerras existem, e sendo
Deus, absoluto, é, também a guerra, um aspecto de sua divindade e também
instrumento para a realização de seus planos na Terra. Como já foi dito, a
batalha de Kurukshetra, Krishna, a divindade, usou-a como instrumento para
fazer surgir, na Índia, a Idade da Filosofia. Conta a Mitologia Grega em uma de
suas variantes, a relação amorosa que existiu no Olimpo entre Ares (o deus da
Guerra) e Afrodite (a deusa do Amor). Esta relação simboliza a atração das polaridades
(amor/desamor). Dela nasceu uma filha: Harmonia, a síntese, portanto.
Poder-se-ia comparar, num certo sentido, a relação de funcionamento do
Olimpo a uma grande empresa administrada por várias diretorias, (os aspectos
divinos de Zeus), cada uma com o seu funcionamento totalmente autônomo da
outra. Tais diretorias, funcionando com total independência entre si, estaria
subordinada, cada uma, ao seu respectivo diretor, um deus (filho ou filha de
Zeus), com plena autonomia de ação. No topo da pirâmide, todavia, estaria o
absoluto dono da empresa: Zeus. Quando alguma questão de maior relevância,
geralmente desentendimentos entre os poderosos deuses diretores surge, Zeus,
com a sua onipotência, interfere (nos seus próprios aspectos, nele próprio, portanto)
fazendo prevalecer (automaticamente) a sua vontade. Cada deus diretor não tem a
menor preocupação ou compromisso com o que acontece na área do outro. Há,
mesmo, freqüentes desentendimentos dos deuses diretores entre si, cada um
defendendo os aspectos de suas áreas, às vezes conflitantes com as do outro.
Há, por exemplo, o caso de Hipólito, filho de Teseu, que morreu num
acidente fomentado por Afrodite (a deusa do Amor), porque Hipólito (exímio
caçador, protegido da deusa Ártemis, a deusa da Caça, protetora dos caçadores),
se negara a aceitar o amor de Fedra (sua madrasta), levando-a ao suicídio. Tal
fato causou um atrito entre Afrodite e Ártemis, esta protetora de Hipólito.
Para Afrodite, não importavam os aspectos éticos e morais contidos na atitude correta
de Hipólito. A ela, deusa do Amor, importava tão-somente o aspecto do amor por
ela regido. A deusa Atena (da Justiça), em tal contexto certamente agiria de
modo diferente. Percebendo-se tais sutilezas, melhor compreenderemos as
aparentes contradições que tanto marcam o comportamento dos deuses olimpianos
ao longo de toda a Mitologia Grega.
(Por que Zeus, um deus, o deus dos
deuses, foi escolher logo u’a mulher casada para com ela gerar um filho? Com o
esposo saindo para o campo de batalha, indo, como herói, vingar a honra da
família e a morte dos cunhados? Ainda usou do artifício pouco ético de se
transvestir no marido ausente e enganar a esposa?)
A ética divina é bem diferente dos padrões éticos dos humanos. Os
desígnios de Deus – pela sua grandiosidade – jamais poderão ser compreendidos
pela infinitamente pequena percepção dos seres humanos. Ao escolher Alcmena,
Zeus não o fez, certamente, levado por uma leviana conquista de u’a mulher
bonita, casada, virgem. Tinha ela a linhagem de um herói grego, Perseu, e isso
contava muito no conceito das populações gregas da época. Sua família era,
assim, altamente indicada para a convivência de quem viria destinado a governar
toda a Grécia (o mundo então conhecido). O fato de Alcmena ser ou não casada
não teve a menor importância para Zeus. Ele, como um deus (o deus de todos os
deuses do Olimpo) estava muito acima de qualquer convenção de ética ou de moral
dos seres humanos. Além do mais, havia, então, uma tradição determinando que a
primeira noite do casamento a noiva passasse com um deus. Era uma grande
honraria para a noiva. Tinha o sentido simbólico de um ritual de preparação
para a convivência matrimonial. (Até no período feudal, bem mais recente,
portanto, em alguns feudos – na Europa – tal costume existia em relação ao
senhor feudal sem, obviamente, a conotação religiosa dada pelos antigos gregos,
em relação aos deuses).
Zeus se transveste de Anfitreão, porque a nenhum mortal é permitido ver
Deus em toda a sua plenitude; em toda a sua luz; em todo o seu poder e
presença. Esse ser humano seria fulminado pela grandiosidade da presença
divina. No Velho Testamento, Deus disse a Moisés; “Eu Sou o Deus de teu pai, o
Deus de Abrão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o rosto,
porque temeu olhar para Deus’’. (Êxodo 3,6). Deus se mostra aos homens através
de suas leis justas e perfeitas; de suas criações; do seu amor; pela bondade;
pela caridade, por todos os seus atributos. Compete ao ser humano identificá-lo
nas suas várias manifestações. Mas semelhantemente a Alcmena, quase nunca
identificamos Deus quando ele está (e sempre está) bem próximo.
O fato de Zeus transvestir-se de Anfitreão, ensina, em uma variante do
Mito (um mito tem muitas variantes) que nos devemos precaver contra os enganos,
a ilusão. Por mais convincentes que nos pareçam as coisas, devemos sempre ficar
na dúvida quanto à veracidade dos fatos, sem nos deixar envolver totalmente
pelas aparências.
(Desatrelar o Carro-do-Sol e
transformar três dias e três noites em um só dia)
É um simbolismo da criação divina. O tempo para enquanto os deuses
criam. A eternidade é, e sempre será, como eternos são os feitos divinos. Esses
três dias e três noites representam, simbolicamente, os seis dias da Criação,
(Deus descansou no sétimo), de que nos fala o Gênese – no Velho Testamento.
São, as eternidades passadas, presentes e eternidades futuras, u’a mesma e
única eternidade. E dentro desta eternidade, os deuses continuam criando,
criando eternamente, numa criação sem fim. Na simbologia dos números, o 3
indica a Criação. O Tao, a energia Primordial, o 1, dividiu-se em 2 (as
polaridades) yin/yang, o masculino/feminino) que somado à unidade Primordial,
1, sempre presente, dá: 1 dividido por 2=2, +1=3. O 3 produz (cria) todas
coisas.
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