quarta-feira, 13 de novembro de 2013

BUSCAR O CÃO CÉRBERO,
O GUARDIÃO DO INFERNO
(2ª parte)

Conclui Hércules a sua iniciação nos “Mistérios de Elêusis”. Está, portanto, munido de conhecimentos e informações que muito lhe hão de ajudar na realização deste seu Trabalho: Buscar o Cão Cérbero, o Guardião do Inferno. Assim pensando, segue ele para a distante região da Lacônia, onde, em profunda cratera existente no Cabo Tenaro, dizia-se ser ali a “boca-do-Inferno”, a entrada para os subterrâneos confins da Terra, os domínios de Hades.

 Vai refletindo, meditando, pensando sobre o que o espera nas apavorantes regiões infernais! 
Chega Hércules ao “Cabo Tenaro” e se encaminha para a estranha entrada, a “boca-do-Inferno”. À entrada da imensa cratera ele para. Olha para o céu. Contempla a grandiosidade do firmamento e é invadido por um enorme sentimento de amor a Deus pela criação magnífica gerada da sua infinita Sabedoria. Em profunda reflexão pede ao divino Pai que o ajude nessa difícil e estranha viagem “onde os que vão não voltam”. Zeus, que do alto do Olimpo observa os passos de Hércules, manda os deuses Hermes e Atena acompanhar o filho na sua descida aos Infernos.

Descem do Olimpo os dois deuses e falam a Hércules de suas incumbências. Entretanto, dizem, eles o acompanharão ao Inferno, veladamente. Estariam, em todos os momentos, ao lado de Hércules, mas invisíveis. Somente Hércules poderia ouvi-los. Ninguém os veria. Protegido por dois tão grandes escudos – Atena, a deusa da Sabedoria; e o habilíssimo Hermes, “conhecedor de todos os caminhos”, sentiu-se Hércules, grandemente fortalecido no encetamento de sua descida aos Infernos.

Penetra, então, confiante – e consciente da presença dos deuses – na “boca-do-Inferno”. Vai às incomensuráveis profundezas da terra, aos subterrâneos domínios do temido Hades, enfrentá-lo cara a cara. E vai descendo, descendo, descendo sem parar, às escuras, longas e densas gargantas da “boca-do-Inferno”. E, à medida em que vai descendo – e mais se aprofundando nos confins do centro da terra – mais densa vai se tornando a atmosfera, mais escura e difícil vai se tornando cada passagem. Sem noção do tempo gasto, porquanto somente trevas o envolvem, ele já nem sabe quanto tempo andou. Dias, noites – tudo ali é noite! Eterna noite! – E a atmosfera é cada vez mais densa. À medida em que vai descendo mais ainda, vai sendo envolvido por densos vapores de desagradável odor. Os seus pés começam a pisar em terreno lamoso.

Continua Hércules descendo. E em sua interminável descida, passa a ouvir horríveis gemidos de dor; gritos alucinantes; e vislumbra na escuridão que o cerca, centenas e centenas de seres humanos – transformados em verdadeiros trapos – contorcendo-se num tétrico e grotesco bailado – enlouquecidos pelo sofrimento e pela dor. Hércules tem ímpeto de ir em socorro daqueles seres, embora nem soubesse como ajudá-los. A deusa Atena diz-lhe ao ouvido:

- Não são seres. Todos são sombras de seres humanos mortos! 

Hércules segue em frente. Vai descendo a níveis ainda mais densos e, seguindo orientação do deus Hermes, “o conhecedor de todos os caminhos”, chega à entrada do Inferno. Vislumbra, na cinzenta paisagem, guardando a entrada dos infernais domínios, a pavorosa figura de Cérbero. Com suas horrendas três diferentes cabeças, goelas escancaradas, enormes línguas e fortes mandíbulas, ele vigia, permanentemente, não a entrada, mas a saída do Inferno. As sombras das infelizes almas – uma verdadeira multidão – são arrastadas, por uma força invisível, para o interior daquela densa região.

Hércules vai direto na direção de Cérbero que ao vê-lo dirigir-se para a entrada, recua e lhe deixa passar. Transpõe, Hércules, a entrada e sege em frente. Por onde vai passando, por todos os lados, é sempre a mesma presença de dor e de sofrimento. Os gritos angustiados, lamentos e gemidos profundos, formam um permanente e enlouquecedor coral de lúgubres sons.

Hércules, andando sempre em frente, depara-se com uma enorme porta de bronze, que semi-aberta, permite a sua entrada. Entra. Vê-se num salão negro e, logo à sua frente, depara - se com o temido Hades que ocupando um negro trono, o encara, firme e interrogativamente. Hércules, preparado sempre para qualquer surpresa, se detém, calado, em frente ao negro trono. Hades continua a encarar Hércules de maneira interrogativa e Hércules também com firmeza encara Hades nos olhos, e se mantém em silêncio. Vendo que Hércules não fala, Hades, autoritariamente, o interroga:

- Quem és?!

Hércules não responde

Hades repete: 

- Quem és?!

- Silêncio...

Hades insiste:

- Quem és?!

Hércules, sem nada responder, joga no chão, aos pés de Hades, a clava que trouxera, que lhe fora presenteada, há muito tempo, pelo deus Apolo.

Pela clava, parece Hades haver identificado Hércules, e pergunta-lhe:

- O que vieste fazer aqui?

- Vim, a mando do rei Euristeu, buscar Cérbero. Quero permissão para levá-lo.

Hades:
- Cérbero é o guardião da entrada do meu reino. Ele não pode sair!

- Euristeu o quer emprestado. Ele será devolvido.

- Então cumpra sua missão! Leve-o! Desde que o venças sem uso de armas – diz Hades. 

Indicando uma cadeira de ferro que está ao lado do trono, convida Hércules a sentar-se. Este, com um gesto de cabeça recusa o oferecimento. De uma tigela que está ao lado do trono, retira Hades um punhado de grãos de trigo que oferece a Hércules, e come, ele mesmo, alguns grãos. Hércules se nega a receber o trigo oferecido. Abaixa-se, sempre fitando Hades, apanha do chão a clava e pede permissão a Hades para percorrer algumas dependências do seu reino, no que é atendido. Com uma ligeira curvatura de cabeça cumprimenta Hades e retira-se de sua presença – sem lhe dar as costas.

Percorre Hércules, guiado pelos deuses Atena e Hermes, (este: “conhecedor de todos os caminhos”), os meandros daquele reino de sombras. Por toda parte por onde passa, é sempre a mesma entristecedora visão de dor e sofrimento. São seres amarrados, acorrentados, gritando, gemendo, lamentando-se. Sedentos, famintos, arrastando-se pelo chão lamacento, contorcendo-se de dor. A cada ímpeto de Hércules para socorrê-los, o aviso de Atena:

- São todos sombras!

Na sua passagem por um imenso e escuro corredor, vislumbra, Hércules, lá no fundo de uma escura sala, um homem sentado numa cadeira de ferro e nela acorrentado. Hércules deixa o corredor por onde vai, entra na sala escura e segue na direção daquele homem acorrentado na cadeira. 


 Curiosamente desta vez a deusa Atena não lhe disse que era “sombra”. Hércules dirige-se, então, para o homem e – pasmo de surpresa!– depara-se com o seu grande amigo e primo Teseu que ali estava prisioneiro de Hades. Hércules com um soco quebra as correntes que atam Teseu à cadeira de ferro. Mas este permanece sentado, semi-adormecido, como se não quisesse sair dali. Hércules arrebenta a cadeira, destruindo-a em pedacinhos e demolindo-a liberta Teseu que, parecendo acordar de profundo sono, reconhece Hércules.

Conta, então, Teseu a Hércules que para ali fora na tentativa de resgatar a deusa Perséfone, a pedido de Pirito, rei dos Lápidas, que queria casar-se com a deusa. Hades o recebera muito bem e o convidara a sentar-se naquela “cadeira do esquecimento” (igual a que oferecera para Hércules sentar-se) na qual quem nela se senta, é envolvido por um permanente e eterno esquecimento de tudo, e dali nunca mais sai - e Teseu aceitara a oferta de Hades – sentara-se na tal cadeira. Silenciosos, os dois primos se encaminham para a porta de saída, guardada por Cérbero. Enquanto caminham para a saída do Inferno vai Hércules pensando, meditando, refletindo em como enfrentar Cérbero e levá-lo para Euristeu. Ao chegarem à porta guardada por Cérbero, Hércules vai logo direto ao monstruoso cão e diz-lhe: 

- Vim buscar você! Já falei com Hades!

E Cérbero:
- Meu Senhor me deu a você?

- Não. Emprestou-me.

- Então vamos! – respondeu Cérbero.

Hércules despede-se de Teseu que já refeito do trauma do esquecimento, recobrara toda a sua força e lucidez. Sai, puxando Cérbero pela corrente. Hades havia consentido na saída de Cérbero por achar impossível Hércules vencê-lo, ainda mais sem armas. Quando, lá do seu negro trono, Hades vê Hércules puxando tranquilamente Cérbero, dócil, pela coleira, fica furioso de raiva e quer inverter a situação. Somente desiste quando Perséfone - sua esposa – interfere e lhe diz:

- Você permitiu! Suas exigências foram cumpridas! Ele venceu Cérbero sem qualquer arma! 

A volta foi mais fácil. São sempre mais fáceis E quem consegue escapar dos Infernos, tem bastante sabedoria para vencer as dificuldades de volta à vida terrena!

Puxando o temido Cérbero pela coleira, caminha Hércules, tranquilo, pelas ruas de Micenas. A cidade inteira sabia da “impossível” missão de Hércules e torcia pelo seu sucesso. Assim, tão logo se espalhou a notícia de sua vitoriosa volta (boatos em todos os tempos e lugares se espalham com muita rapidez), u’a multidão de curiosos acompanha (mantidas as cautelosas distâncias) aquela estranha dupla que se encaminha para o palácio real. Vai ao encontro do rei Euristeu. À entrada do palácio, não teve Hércules a menor dificuldade em acessá-lo.

Os “briosos” componentes da real guarda, quando veem Hércules puxando – embora acorrentado – aquele monstruoso animal de três enormes e diferentes cabeças, imenso corpo de serpente, enorme cauda de dragão, identificam logo o temível Cérbero – e há, então, enorme debandada, ficando o palácio totalmente desguarnecido. Hércules adentra a Palácio e vai diretamente aos aposentos reais. Euristeu, surpreendido sozinho – com a presença de Hércules a quem tanto temia – ao ver Cérbero, fica tão apavorado de medo que nem sequer consegue entrar no vaso de bronze. Tremendo dos pés à cabeça, declara ter-se arrependido de haver mandado buscar Cérbero e, de longe mesmo, pede para Hércules devolvê-lo ao seu dono. Hércules volta com Cérbero aos Infernos (as voltas são, sempre, mais fáceis) e o deixa no seu antigo posto, cumprindo o “trivial” serviço de castigar, impiedosamente, os que tentam fugir do julgamento cósmico.


                       Simbolismos e Ensinamentos

Deméter, a deusa da Fertilidade – da terra cultivada, dos seres humanos e dos animais – simboliza a própria mãe natureza, dadivosa na sua abundância, manifestada na germinação das sementes plantadas, no brotar dos vegetais – no nascer dos seres humanos e dos animais de todas as espécies; na fartura dos campos cultivados.

Perséfone, sua filha, representa a própria semente que desce ás profundezas da terra nos períodos de chuva ara a hibernação periódica. Alimentando-se dos nutrientes da terra, as sementes brotam nos albores da Primavera á superfície da terra, nutrindo com o colorido das flores e a maturação dos frutos, a alegria e a existência dos que aqui vivem. Mantém-se sempre virgem Perséfone, porque somente virgem - integral - pode a semente brotar, voltar à superfície da terra na forma de uma planta.

Simboliza, ainda, Deméter, o sentido do amor maternal que possui a natureza humana: a busca constante por toda parte, da filha querida; o desespero pela sua sorte; ao violentar profundamente a sua natureza de deusa da Fertilidade e tornar infértil a terra, único – e extremo – meio de conseguir sua filha de volta. É, a plenitude do amor de mãe, o mais próximo do amor divino, poderosa força capaz até de romper as infernais barreiras e semeando luz onde só há trevas, arrancar de lá um filho querido, transmutando, pelo amor materno, o carma que o envolve.

A mãe é, pelo seu sublime amor, nos ensinos da Sabedoria Esotérica, a única pessoa que pode, sem atrair a carga cósmica para si, interferir benevolamente no carma de outra pessoa – do próprio filho ou filha – sem permissão expressa ou pedido deste. Isto enquanto o filho (ou filha) não possuir plena capacidade para o uso do seu livre-arbítrio, adquirida por volta dos vinte e um anos de idade. Essa limitação da faixa etária “não permitiu que Maria, com todo o seu grande amor por Jesus, conseguisse transmutar o carma que o seu divino Filho, por livre-arbítrio assumira, de toda a humanidade.” (Temporariamente, nos ensinamentos da Fraternidade dos Guardiães da Chama).

Qualquer outra pessoa, todavia, pode interferir, beneficamente, na transmutação do carma de outrem, desde que, por este solicitado, cuja interferência - pedida – seja feita obedecendo-se a certos e determinados preceitos. Pode, ainda, outra pessoa (embora não seja mãe), interferir na transmutação (benevolente) do carma de outrem, sem que seja solicitado. Mas não deve fazê-lo, porque vai canalizar para si o carma da outra pessoa. Foi o que aconteceu com Jesus, o Cristo, em relação ao carma da humanidade.

(À entrada da “boca-do-inferno” Hércules contempla o céu e pede ajuda ao Pai. Zeus, do alto do Olimpo, observa o filho)

Deus, do alto de sua onipresença, acompanha passo a passo, todos os passos de seus filhos, em suas caminhadas na Terra. Entretanto, nem mesmo Ele pode interferir no livre-arbítrio de cada um, na escolha do caminho a percorrer. Somente quando Hercules curvou-se à magnitude do firmamento – a criação de Deus – e pediu ajuda ao Pai, pôde ser por este socorrido com a descida dos dois deuses: Atena (da Sabedoria) e Hermes (do Conhecimento), para ajudá-lo na perigosa viagem.

(Por que os dois deuses, Atena e Hermes acompanham Hércules, veladamente?)

Porque um deus jamais pode descer aos Infernos. As sutis energias (vibrações) dos altíssimos planos divinos nunca se misturariam às vibrações (densas) dos inferiores planos infernais. Representam, ainda, os deuses, a luz da consciência cósmica que ilumina – como um clarão – todos os lugares por onde incide. O Inferno é um lugar de permanentes e eternas trevas. A presença ali, dos deuses – um clarão a iluminar todos os cantos – eliminaria as trevas, portanto, extinguir-se-ia o Inferno, ato em tudo contrário ao equilíbrio das leis cósmicas, no atual estágio da humanidade.

A companhia a Hércules dos dois deuses Atena e Hermes (Sabedoria e Conhecimento) de maneira velada, significa que Hércules foi protegido pela Sabedoria e pelo Conhecimento, adquiridos à medida em que vai galgando os vários degraus na escada da evolução espiritual, inclusive no aprendizado de iniciação nos Mistérios de Elêusis. Ele não se sentou – como fez Teseu – na “cadeira do esquecimento” que Hades lhe ofereceu; não comeu do trigo que Hades espertamente lhe oferecera; manteve-se silencioso à inquisição de Hades (que muito bem sabia quem era Hércules e somente perguntou para colher mais informações, numa atitude típica dos espertalhões), porque Hércules aprendera na iniciação dos mistérios eleusinos que, se comesse um grão daquele trigo, não mais sairia dos Infernos; se, se sentasse naquela “cadeira do esquecimento”, estaria ali eternamente preso. Conservara-se silencioso ante o interrogatório de Hades, porque também aprendera que muito se deve ouvir e pouco falar, que as forças malévolas não penetram os pensamentos humanos, mas captam as humanas intenções pelas palavras pronunciadas. Ele aprendeu o lema ensinado nas Escolas Esotéricas que é: “saber, ousar, agir e calar”.

Ele vai direto e aborda Cérbero, porque sabe que as forças inferiores – ali representadas pelo cão Cérbero, não são reais – são meras aparências – e sucumbem à presença luminosa do saber (Conhecimento), do ousar (pela força da Fé), do agir (com Amor) e do calar (com Sabedoria). Tais componentes Hércules usou como um verdadeiro mestre, em todos os contatos e atos praticados no Inferno.

Aquela atitude firme e de destemor perante Hades, acostumado a vê tremerem de pavor todos quantos à sua frente passavam, desestabilizou (na presença da verdade a mentira se enfraquece) de tal forma o poderoso Senhor do Hades, a ponto de ele pensar – erroneamente – que Hércules não venceria, desarmado, Cérbero. E permitir – um verdadeiro absurdo, para um ser com a esperteza dele – que a entrada (ou, principalmente a saída) do Inferno ficasse desguarnecida.

Usou Hércules a Sabedoria quando foi diretamente a Cérbero e sem demonstrar medo, delicada e amorosamente com ele conversar. Num ambiente de permanente violência como só aquele, o tratamento atencioso e afável dispensado a Cérbero, o surpreendeu e por um instante confundiu as densas energias que ali permeiam. E Hércules, sem outras armas, conquista e vence Cérbero, transformando-o num dócil e inofensivo “cachorro de madame”.

(“Não são seres, são sombras!” - Segreda Atena a Hércules)

A descida aos Infernos é uma volta ao passado, dentro de si mesmo que todos os seres humanos terão de fazer. É uma verdadeira iniciação nos caminhos da Sabedoria cósmica, quando a consciência humana, na mais profunda reflexão, remove todo o lixo do subconsciente e faz dele brotar – da lama podre – toda a imensa sujeira guardada no mais profundo do ser. O julgamento – das nossas ações – perante Hades, o Senhor dos Infernos, é um julgamento de nós mesmos, feito pela nossa própria consciência em sua mais pura essência; reflexo do nosso Eu Superior, da centelha divina que todos nós temos, que tudo sabe e, rigoroso juiz, exara a mais justa sentença. Tal julgamento se realiza nos mais densos subplanos do Plano Astral, o plano das emoções. Ali são estas gigantescamente ampliadas, transformando no maior suplício qualquer remorso que acompanhe o ser humano no Plano Astral, após a morte, por atos e ações praticados em vida, contrários às Sagradas Leis Cósmicas.

Os gritos alucinantes, fortes gemidos, choros e lamentos das sombras que Hércules ouvia no seu caminhar pelas estreitas e lamacentas passagens do Inferno são o reflexo do remorso (ampliado muitas vezes) que pesa na consciência, na alma dos seres humanos, nas sombras subterrâneas do seu próprio julgamento. Remorsos (é bom sempre lembrar) enormemente aumentados pela energia das emoções que regem o Plano Astral, o plano das emoções.

Hércules descendo aos Infernos, deu um mergulho no mais profundo do seu próprio ser; no mais recôndito de sua consciência. E lá dentro enfrentou o seu próprio juiz, o temido Hades, o guardião do Umbral e o encarou com destemor, frente a frente. Como um ser humano, cumprindo os mandamentos da grande Lei, desceu aos Infernos, e como um postulante à suprema ascensão da imortalidade conheceu os sombrios meandros de suas urdiduras. De lá voltou – com mais esta iniciação – e pôde, novamente, contemplar o céu, após haver cumprido vitoriosamente a missão que lhe foi imposta e trazer acorrentado e submisso, Cérbero, o terrível Guardião dos Infernos.

Contam os teosofistas que Helena Petrovina Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica, autora da célebre obra Doutrina Secreta, amanuense dos Mestres Ascensos, quando descera aos mundos inferiores para enfrentar o seu próprio julgamento, um extraordinário fato aconteceu: enquanto seus discípulos reúnem-se preocupados com a sorte dela, veem precipitar-se (cair) sobre a mesa onde se reuniam, um bilhete assinado pelo Mestre Espiritual Serapis Bey, que dizia: “A vossa irmã vai enfrentar o mais terrível habitante dos mundos inferiores, o Guardião do Umbral. Se ela conseguir enfrentá-lo e sair dele, estará salva; se não, ela ficará por lá. Nós não podemos fazer nada. Mas vocês podem. Vocês podem envolvê-la com muito amor. Porque nessas regiões o amor brilha como a luz. Pode rodeá-la e ela terá forças para enfrentar. Ela vai olhar de frente e os olhos dele são tão poderosos quanto os dela”. E Helena P. Blavatsky desce para o tremendo julgamento. Algum tempo depois um novo bilhetinho volta a aparecer: “A vossa irmã venceu”. Tais fatos têm comprovação, os bilhetes existem e encontram-se no Museu da Sociedade Teosófica, afirmam os teosofistas.

E o que é o Morador do Umbral? – É tudo aquilo que cada um de nós fez e plasmou durante as vidas. Torna-se uma página igual a nós. E se nós somos poderosos ele é, portanto, igual em poder. Helena Blavatsky ia enfrentar tudo o que ela plasmou. Mesmo sendo uma discípula do Mahatma, (14) desceu ela ao submundo de sua consciência; ao seu mais inferior estado. Essa é a inapelável sentença que todos os seres humanos têm que cumprir, cujo veredicto será o reflexo do amor que semear durante as vidas na Terra. Amor que nascido do coração, faz brilhar a luz da evolução espiritual. “Amar o próximo como a si mesmo!” - Este difícil ensinamento deixado pelo Grande Mestre Jesus, se fielmente cumprido – ele sozinho – tornaria desnecessário tudo o mais que já foi dito, escrito, discutido e propagado por todos os tempos, como ensinamentos para a salvação eterna. Amando o próximo com a si mesmo, estaria o homem praticando – tudo – o que todas as tradicionais religiões, em todos os tempos, vêm ensinando. Amando o próximo como a si mesmo, colocar-se-ia o homem na condição de quase um Deus. 

 Ensina a Fraternidade dos Guardiães da Chama que o ser humano pode livrar-se desse enfrentamento do “Morador do Umbral” (seu próprio julgamento), usando os ensinamentos contidos no Relógio Cósmico, ensinado por Maria, Mãe de Jesus. Ao aplicar tais ensinamentos, ensina a Fraternidade, o indivíduo identificará (numa busca do autoconhecimento) todos os seus vícios, defeitos e limitações (responsáveis pela formação do seu carma nas várias encarnações). Desenvolvendo ele, a partir daí, um sistematizado trabalho de autotransformação, também baseado nos mesmos ensinamentos, aqueles aspectos (negativos) seriam transmutados, transformando-se, cada um, nas qualidades (divinas) correspondentes: o orgulho seria transmutado em humildade, o ódio em amor, o egoísmo em altruísmo, a intransigência em compreensão etc. Usando fervorosas invocações à Chama Violeta, constantes repetições de mantras, decretos e pedidos, dar-se-ia então a transmutação do carma, livrando-se assim, aquela alma, desse tão temido julgamento.

(Hércules salva Teseu do Inferno)

“Se fizeres o bem colherás o bem!” – Esta é a lei cósmica. Teseu, na juventude, salvara Hércules do suicídio. Quando este após o acesso de sua loucura, volta à lucidez e descobre, desesperado, ter matado esposa e filhos, resolve suicidar-se. Teseu habilmente o demove da sinistra intenção. O suicídio é considerado pelas leis cósmicas um dos mais hediondos crimes. O corpo humano é como um templo – sagrado – entregue ao homem para ser protegido e guardado. Com o suicídio, torna-se aquele ser humano uma espécie de “depositário infiel”, gerando carmas densos e que somente poderão ser resgatados em futuras encarnações. Tal penalidade não incide somente no ato único de exterminar a vida. Por extensão abrange quaisquer hábitos ou atos que possam enfraquecer o corpo, facilitando o acesso da morte, uma deformação da vida que é uma qualidade divina, tais como: bebidas alcoólicas em excesso, o fumo, vida desregrada, drogas etc. Teseu livrou Hércules das sérias penalidades geradas pelo suicídio e, muito tempo depois, Hércules livra – literalmente – Teseu dos Infernos.


Outro ensinamento que nos leva a refletir em como agem os deuses na ajuda e proteção aos seres humanos: a deusa Atena (da Sabedoria e da Justiça), protetora dos heróis gregos, sabia (“os deuses sabem tudo”) que Teseu estava prisioneiro no Inferno. Sendo uma deusa (luz), ela não podia descer aos Infernos (trevas). Acompanha (veladamente) Hércules e o conduz pelos corredores do Inferno para salvar Teseu. Hércules já havia enfrentado Hades, obtido deste, autorização – condicionada - para levar Cérbero, e nada mais o poderia ter motivado a conhecer as dependências do Inferno que ele já sabia serem de dor e de sofrimento causadores de grandes constrangimentos. “Deus escreve certo por linhas tortas!” – Diz a sabedoria popular.

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