BUSCAR O CÃO CÉRBERO,
O GUARDIÃO DO INFERNO
(2ª parte)
Conclui Hércules a sua iniciação nos “Mistérios de Elêusis”. Está,
portanto, munido de conhecimentos e informações que muito lhe hão de ajudar na
realização deste seu Trabalho: Buscar o Cão Cérbero, o Guardião do Inferno.
Assim pensando, segue ele para a distante região da Lacônia, onde, em profunda
cratera existente no Cabo Tenaro, dizia-se ser ali a “boca-do-Inferno”, a
entrada para os subterrâneos confins da Terra, os domínios de Hades.
Vai refletindo, meditando, pensando sobre o que o espera nas
apavorantes regiões infernais!
Chega Hércules ao “Cabo Tenaro” e se encaminha para a estranha entrada,
a “boca-do-Inferno”. À entrada da imensa cratera ele para. Olha para o céu.
Contempla a grandiosidade do firmamento e é invadido por um enorme sentimento
de amor a Deus pela criação magnífica gerada da sua infinita Sabedoria. Em profunda
reflexão pede ao divino Pai que o ajude nessa difícil e estranha viagem “onde
os que vão não voltam”. Zeus, que do alto do Olimpo observa os passos de
Hércules, manda os deuses Hermes e Atena acompanhar o filho na sua descida aos
Infernos.
Descem do Olimpo os dois deuses e falam a Hércules de suas incumbências.
Entretanto, dizem, eles o acompanharão ao Inferno, veladamente. Estariam, em
todos os momentos, ao lado de Hércules, mas invisíveis. Somente Hércules
poderia ouvi-los. Ninguém os veria. Protegido por dois tão grandes escudos –
Atena, a deusa da Sabedoria; e o habilíssimo Hermes, “conhecedor de todos os
caminhos”, sentiu-se Hércules, grandemente fortalecido no encetamento de sua
descida aos Infernos.
Penetra, então, confiante – e consciente da presença dos deuses – na
“boca-do-Inferno”. Vai às incomensuráveis profundezas da terra, aos
subterrâneos domínios do temido Hades, enfrentá-lo cara a cara. E vai descendo,
descendo, descendo sem parar, às escuras, longas e densas gargantas da
“boca-do-Inferno”. E, à medida em que vai descendo – e mais se aprofundando nos
confins do centro da terra – mais densa vai se tornando a atmosfera, mais
escura e difícil vai se tornando cada passagem. Sem noção do tempo gasto,
porquanto somente trevas o envolvem, ele já nem sabe quanto tempo andou. Dias,
noites – tudo ali é noite! Eterna noite! – E a atmosfera é cada vez mais densa.
À medida em que vai descendo mais ainda, vai sendo envolvido por densos vapores
de desagradável odor. Os seus pés começam a pisar em terreno lamoso.
Continua Hércules descendo. E em sua interminável descida, passa a ouvir
horríveis gemidos de dor; gritos alucinantes; e vislumbra na escuridão que o
cerca, centenas e centenas de seres humanos – transformados em verdadeiros
trapos – contorcendo-se num tétrico e grotesco bailado – enlouquecidos pelo
sofrimento e pela dor. Hércules tem ímpeto de ir em socorro daqueles seres,
embora nem soubesse como ajudá-los. A deusa Atena diz-lhe ao ouvido:
- Não são seres. Todos são sombras de seres humanos mortos!
Hércules segue em frente. Vai descendo a níveis ainda mais densos e,
seguindo orientação do deus Hermes, “o conhecedor de todos os caminhos”, chega
à entrada do Inferno. Vislumbra, na cinzenta paisagem, guardando a entrada dos
infernais domínios, a pavorosa figura de Cérbero. Com suas horrendas três
diferentes cabeças, goelas escancaradas, enormes línguas e fortes mandíbulas,
ele vigia, permanentemente, não a entrada, mas a saída do Inferno. As sombras
das infelizes almas – uma verdadeira multidão – são arrastadas, por uma força
invisível, para o interior daquela densa região.
Hércules vai direto na direção de Cérbero que ao vê-lo dirigir-se para a
entrada, recua e lhe deixa passar. Transpõe, Hércules, a entrada e sege em
frente. Por onde vai passando, por todos os lados, é sempre a mesma presença de
dor e de sofrimento. Os gritos angustiados, lamentos e gemidos profundos,
formam um permanente e enlouquecedor coral de lúgubres sons.
Hércules, andando sempre em frente, depara-se com uma enorme porta de
bronze, que semi-aberta, permite a sua entrada. Entra. Vê-se num salão negro e,
logo à sua frente, depara - se com o temido Hades que ocupando um negro trono,
o encara, firme e interrogativamente. Hércules, preparado sempre para qualquer
surpresa, se detém, calado, em frente ao negro trono. Hades continua a encarar
Hércules de maneira interrogativa e Hércules também com firmeza encara Hades
nos olhos, e se mantém em silêncio. Vendo que Hércules não fala, Hades,
autoritariamente, o interroga:
- Quem és?!
Hércules não responde
Hades repete:
- Quem és?!
- Silêncio...
Hades insiste:
- Quem és?!
Hércules, sem nada responder, joga no chão, aos pés de Hades, a clava
que trouxera, que lhe fora presenteada, há muito tempo, pelo deus Apolo.
Pela clava, parece Hades haver identificado Hércules, e pergunta-lhe:
- O que vieste fazer aqui?
- Vim, a mando do rei Euristeu, buscar Cérbero. Quero permissão para
levá-lo.
Hades:
- Cérbero é o guardião da entrada do meu reino. Ele não pode sair!
- Euristeu o quer emprestado. Ele será devolvido.
- Então cumpra sua missão! Leve-o! Desde que o venças sem uso de armas –
diz Hades.
Indicando uma cadeira de ferro que está ao lado do trono, convida
Hércules a sentar-se. Este, com um gesto de cabeça recusa o oferecimento. De
uma tigela que está ao lado do trono, retira Hades um punhado de grãos de trigo
que oferece a Hércules, e come, ele mesmo, alguns grãos. Hércules se nega a
receber o trigo oferecido. Abaixa-se, sempre fitando Hades, apanha do chão a
clava e pede permissão a Hades para percorrer algumas dependências do seu
reino, no que é atendido. Com uma ligeira curvatura de cabeça cumprimenta Hades
e retira-se de sua presença – sem lhe dar as costas.
Percorre Hércules, guiado pelos deuses Atena e Hermes, (este: “conhecedor
de todos os caminhos”), os meandros daquele reino de sombras. Por toda parte
por onde passa, é sempre a mesma entristecedora visão de dor e sofrimento. São
seres amarrados, acorrentados, gritando, gemendo, lamentando-se. Sedentos,
famintos, arrastando-se pelo chão lamacento, contorcendo-se de dor. A cada
ímpeto de Hércules para socorrê-los, o aviso de Atena:
- São todos sombras!
Na sua passagem por um imenso e escuro corredor, vislumbra, Hércules, lá
no fundo de uma escura sala, um homem sentado numa cadeira de ferro e nela
acorrentado. Hércules deixa o corredor por onde vai, entra na sala escura e
segue na direção daquele homem acorrentado na cadeira.
Curiosamente desta vez a deusa Atena não lhe disse que era “sombra”.
Hércules dirige-se, então, para o homem e – pasmo de surpresa!– depara-se com o
seu grande amigo e primo Teseu que ali estava prisioneiro de Hades. Hércules
com um soco quebra as correntes que atam Teseu à cadeira de ferro. Mas este
permanece sentado, semi-adormecido, como se não quisesse sair dali. Hércules
arrebenta a cadeira, destruindo-a em pedacinhos e demolindo-a liberta Teseu
que, parecendo acordar de profundo sono, reconhece Hércules.
Conta, então, Teseu a Hércules que para ali fora na tentativa de
resgatar a deusa Perséfone, a pedido de Pirito, rei dos Lápidas, que queria
casar-se com a deusa. Hades o recebera muito bem e o convidara a sentar-se
naquela “cadeira do esquecimento” (igual a que oferecera para Hércules
sentar-se) na qual quem nela se senta, é envolvido por um permanente e eterno
esquecimento de tudo, e dali nunca mais sai - e Teseu aceitara a oferta de
Hades – sentara-se na tal cadeira. Silenciosos, os dois primos se encaminham
para a porta de saída, guardada por Cérbero. Enquanto caminham para a saída do Inferno
vai Hércules pensando, meditando, refletindo em como enfrentar Cérbero e
levá-lo para Euristeu. Ao chegarem à porta guardada por Cérbero, Hércules vai
logo direto ao monstruoso cão e diz-lhe:
- Vim buscar você! Já falei com Hades!
E Cérbero:
- Meu Senhor me deu a você?
- Não. Emprestou-me.
- Então vamos! – respondeu Cérbero.
Hércules despede-se de Teseu que já refeito do trauma do esquecimento,
recobrara toda a sua força e lucidez. Sai, puxando Cérbero pela corrente. Hades
havia consentido na saída de Cérbero por achar impossível Hércules vencê-lo,
ainda mais sem armas. Quando, lá do seu negro trono, Hades vê Hércules puxando
tranquilamente Cérbero, dócil, pela coleira, fica furioso de raiva e quer
inverter a situação. Somente desiste quando Perséfone - sua esposa – interfere
e lhe diz:
- Você permitiu! Suas exigências foram cumpridas! Ele venceu Cérbero sem
qualquer arma!
A volta foi mais fácil. São sempre mais fáceis E quem consegue escapar
dos Infernos, tem bastante sabedoria para vencer as dificuldades de volta à
vida terrena!
Puxando o temido Cérbero pela coleira, caminha Hércules, tranquilo,
pelas ruas de Micenas. A cidade inteira sabia da “impossível” missão de
Hércules e torcia pelo seu sucesso. Assim, tão logo se espalhou a notícia de
sua vitoriosa volta (boatos em todos os tempos e lugares se espalham com muita
rapidez), u’a multidão de curiosos acompanha (mantidas as cautelosas
distâncias) aquela estranha dupla que se encaminha para o palácio real. Vai ao
encontro do rei Euristeu. À entrada do palácio, não teve Hércules a menor
dificuldade em acessá-lo.
Os “briosos” componentes da real guarda, quando veem Hércules puxando –
embora acorrentado – aquele monstruoso animal de três enormes e diferentes
cabeças, imenso corpo de serpente, enorme cauda de dragão, identificam logo o
temível Cérbero – e há, então, enorme debandada, ficando o palácio totalmente
desguarnecido. Hércules adentra a Palácio e vai diretamente aos aposentos
reais. Euristeu, surpreendido sozinho – com a presença de Hércules a quem tanto
temia – ao ver Cérbero, fica tão apavorado de medo que nem sequer consegue
entrar no vaso de bronze. Tremendo dos pés à cabeça, declara ter-se arrependido
de haver mandado buscar Cérbero e, de longe mesmo, pede para Hércules
devolvê-lo ao seu dono. Hércules volta com Cérbero aos Infernos (as voltas são,
sempre, mais fáceis) e o deixa no seu antigo posto, cumprindo o “trivial”
serviço de castigar, impiedosamente, os que tentam fugir do julgamento cósmico.
Simbolismos e Ensinamentos
Deméter, a deusa da Fertilidade – da terra cultivada, dos seres humanos
e dos animais – simboliza a própria mãe natureza, dadivosa na sua abundância,
manifestada na germinação das sementes plantadas, no brotar dos vegetais – no
nascer dos seres humanos e dos animais de todas as espécies; na fartura dos
campos cultivados.
Perséfone, sua filha, representa a própria semente que desce ás
profundezas da terra nos períodos de chuva ara a hibernação periódica.
Alimentando-se dos nutrientes da terra, as sementes brotam nos albores da
Primavera á superfície da terra, nutrindo com o colorido das flores e a
maturação dos frutos, a alegria e a existência dos que aqui vivem. Mantém-se
sempre virgem Perséfone, porque somente virgem - integral - pode a semente
brotar, voltar à superfície da terra na forma de uma planta.
Simboliza, ainda, Deméter, o sentido do amor maternal que possui a
natureza humana: a busca constante por toda parte, da filha querida; o
desespero pela sua sorte; ao violentar profundamente a sua natureza de deusa da
Fertilidade e tornar infértil a terra, único – e extremo – meio de conseguir
sua filha de volta. É, a plenitude do amor de mãe, o mais próximo do amor
divino, poderosa força capaz até de romper as infernais barreiras e semeando
luz onde só há trevas, arrancar de lá um filho querido, transmutando, pelo amor
materno, o carma que o envolve.
A mãe é, pelo seu sublime amor, nos ensinos da Sabedoria Esotérica, a
única pessoa que pode, sem atrair a carga cósmica para si, interferir
benevolamente no carma de outra pessoa – do próprio filho ou filha – sem
permissão expressa ou pedido deste. Isto enquanto o filho (ou filha) não
possuir plena capacidade para o uso do seu livre-arbítrio, adquirida por volta
dos vinte e um anos de idade. Essa limitação da faixa etária “não permitiu que
Maria, com todo o seu grande amor por Jesus, conseguisse transmutar o carma que
o seu divino Filho, por livre-arbítrio assumira, de toda a humanidade.”
(Temporariamente, nos ensinamentos da Fraternidade dos Guardiães da Chama).
Qualquer outra pessoa, todavia, pode interferir, beneficamente, na
transmutação do carma de outrem, desde que, por este solicitado, cuja
interferência - pedida – seja feita obedecendo-se a certos e determinados
preceitos. Pode, ainda, outra pessoa (embora não seja mãe), interferir na
transmutação (benevolente) do carma de outrem, sem que seja solicitado. Mas não
deve fazê-lo, porque vai canalizar para si o carma da outra pessoa. Foi o que
aconteceu com Jesus, o Cristo, em relação ao carma da humanidade.
(À entrada da “boca-do-inferno”
Hércules contempla o céu e pede ajuda ao Pai. Zeus, do alto do Olimpo, observa
o filho)
Deus, do alto de sua onipresença, acompanha passo a passo, todos os
passos de seus filhos, em suas caminhadas na Terra. Entretanto, nem mesmo Ele
pode interferir no livre-arbítrio de cada um, na escolha do caminho a
percorrer. Somente quando Hercules curvou-se à magnitude do firmamento – a
criação de Deus – e pediu ajuda ao Pai, pôde ser por este socorrido com a
descida dos dois deuses: Atena (da Sabedoria) e Hermes (do Conhecimento), para
ajudá-lo na perigosa viagem.
(Por que os dois deuses, Atena e Hermes
acompanham Hércules, veladamente?)
Porque um deus jamais pode descer aos Infernos. As sutis energias (vibrações)
dos altíssimos planos divinos nunca se misturariam às vibrações (densas) dos
inferiores planos infernais. Representam, ainda, os deuses, a luz da
consciência cósmica que ilumina – como um clarão – todos os lugares por onde
incide. O Inferno é um lugar de permanentes e eternas trevas. A presença ali,
dos deuses – um clarão a iluminar todos os cantos – eliminaria as trevas,
portanto, extinguir-se-ia o Inferno, ato em tudo contrário ao equilíbrio das
leis cósmicas, no atual estágio da humanidade.
A companhia a Hércules dos dois deuses Atena e Hermes (Sabedoria e
Conhecimento) de maneira velada, significa que Hércules foi protegido pela
Sabedoria e pelo Conhecimento, adquiridos à medida em que vai galgando os
vários degraus na escada da evolução espiritual, inclusive no aprendizado de
iniciação nos Mistérios de Elêusis. Ele não se sentou – como fez Teseu – na
“cadeira do esquecimento” que Hades lhe ofereceu; não comeu do trigo que Hades
espertamente lhe oferecera; manteve-se silencioso à inquisição de Hades (que
muito bem sabia quem era Hércules e somente perguntou para colher mais
informações, numa atitude típica dos espertalhões), porque Hércules aprendera
na iniciação dos mistérios eleusinos que, se comesse um grão daquele trigo, não
mais sairia dos Infernos; se, se sentasse naquela “cadeira do esquecimento”,
estaria ali eternamente preso. Conservara-se silencioso ante o interrogatório
de Hades, porque também aprendera que muito se deve ouvir e pouco falar, que as
forças malévolas não penetram os pensamentos humanos, mas captam as humanas
intenções pelas palavras pronunciadas. Ele aprendeu o lema ensinado nas Escolas
Esotéricas que é: “saber, ousar, agir e calar”.
Ele vai direto e aborda Cérbero, porque sabe que as forças inferiores –
ali representadas pelo cão Cérbero, não são reais – são meras aparências – e
sucumbem à presença luminosa do saber (Conhecimento), do ousar (pela força da
Fé), do agir (com Amor) e do calar (com Sabedoria). Tais componentes Hércules
usou como um verdadeiro mestre, em todos os contatos e atos praticados no
Inferno.
Aquela atitude firme e de destemor perante Hades, acostumado a vê
tremerem de pavor todos quantos à sua frente passavam, desestabilizou (na
presença da verdade a mentira se enfraquece) de tal forma o poderoso Senhor do
Hades, a ponto de ele pensar – erroneamente – que Hércules não venceria,
desarmado, Cérbero. E permitir – um verdadeiro absurdo, para um ser com a
esperteza dele – que a entrada (ou, principalmente a saída) do Inferno ficasse
desguarnecida.
Usou Hércules a Sabedoria quando foi diretamente a Cérbero e sem
demonstrar medo, delicada e amorosamente com ele conversar. Num ambiente de
permanente violência como só aquele, o tratamento atencioso e afável dispensado
a Cérbero, o surpreendeu e por um instante confundiu as densas energias que ali
permeiam. E Hércules, sem outras armas, conquista e vence Cérbero,
transformando-o num dócil e inofensivo “cachorro de madame”.
(“Não são seres, são sombras!” -
Segreda Atena a Hércules)
A descida aos Infernos é uma volta ao passado, dentro de si mesmo que
todos os seres humanos terão de fazer. É uma verdadeira iniciação nos caminhos
da Sabedoria cósmica, quando a consciência humana, na mais profunda reflexão,
remove todo o lixo do subconsciente e faz dele brotar – da lama podre – toda a
imensa sujeira guardada no mais profundo do ser. O julgamento – das nossas
ações – perante Hades, o Senhor dos Infernos, é um julgamento de nós mesmos,
feito pela nossa própria consciência em sua mais pura essência; reflexo do
nosso Eu Superior, da centelha divina que todos nós temos, que tudo sabe e,
rigoroso juiz, exara a mais justa sentença. Tal julgamento se realiza nos mais
densos subplanos do Plano Astral, o plano das emoções. Ali são estas
gigantescamente ampliadas, transformando no maior suplício qualquer remorso que
acompanhe o ser humano no Plano Astral, após a morte, por atos e ações
praticados em vida, contrários às Sagradas Leis Cósmicas.
Os gritos alucinantes, fortes gemidos, choros e lamentos das sombras que
Hércules ouvia no seu caminhar pelas estreitas e lamacentas passagens do
Inferno são o reflexo do remorso (ampliado muitas vezes) que pesa na
consciência, na alma dos seres humanos, nas sombras subterrâneas do seu próprio
julgamento. Remorsos (é bom sempre lembrar) enormemente aumentados pela energia
das emoções que regem o Plano Astral, o plano das emoções.
Hércules descendo aos Infernos, deu um mergulho no mais profundo do seu
próprio ser; no mais recôndito de sua consciência. E lá dentro enfrentou o seu
próprio juiz, o temido Hades, o guardião do Umbral e o encarou com destemor,
frente a frente. Como um ser humano, cumprindo os mandamentos da grande Lei,
desceu aos Infernos, e como um postulante à suprema ascensão da imortalidade
conheceu os sombrios meandros de suas urdiduras. De lá voltou – com mais esta
iniciação – e pôde, novamente, contemplar o céu, após haver cumprido
vitoriosamente a missão que lhe foi imposta e trazer acorrentado e submisso,
Cérbero, o terrível Guardião dos Infernos.
Contam os teosofistas que Helena Petrovina Blavatsky, fundadora da
Sociedade Teosófica, autora da célebre obra Doutrina Secreta, amanuense dos
Mestres Ascensos, quando descera aos mundos inferiores para enfrentar o seu
próprio julgamento, um extraordinário fato aconteceu: enquanto seus discípulos
reúnem-se preocupados com a sorte dela, veem precipitar-se (cair) sobre a mesa
onde se reuniam, um bilhete assinado pelo Mestre Espiritual Serapis Bey, que
dizia: “A vossa irmã vai enfrentar o mais terrível habitante dos mundos
inferiores, o Guardião do Umbral. Se ela conseguir enfrentá-lo e sair dele,
estará salva; se não, ela ficará por lá. Nós não podemos fazer nada. Mas vocês
podem. Vocês podem envolvê-la com muito amor. Porque nessas regiões o amor
brilha como a luz. Pode rodeá-la e ela terá forças para enfrentar. Ela vai
olhar de frente e os olhos dele são tão poderosos quanto os dela”. E Helena P.
Blavatsky desce para o tremendo julgamento. Algum tempo depois um novo
bilhetinho volta a aparecer: “A vossa irmã venceu”. Tais fatos têm comprovação,
os bilhetes existem e encontram-se no Museu da Sociedade Teosófica, afirmam os
teosofistas.
E o que é o Morador do Umbral? – É tudo aquilo que cada um de nós fez e
plasmou durante as vidas. Torna-se uma página igual a nós. E se nós somos
poderosos ele é, portanto, igual em poder. Helena Blavatsky ia enfrentar tudo o
que ela plasmou. Mesmo sendo uma discípula do Mahatma, (14) desceu ela ao
submundo de sua consciência; ao seu mais inferior estado. Essa é a inapelável
sentença que todos os seres humanos têm que cumprir, cujo veredicto será o
reflexo do amor que semear durante as vidas na Terra. Amor que nascido do
coração, faz brilhar a luz da evolução espiritual. “Amar o próximo como a si
mesmo!” - Este difícil ensinamento deixado pelo Grande Mestre Jesus, se
fielmente cumprido – ele sozinho – tornaria desnecessário tudo o mais que já
foi dito, escrito, discutido e propagado por todos os tempos, como ensinamentos
para a salvação eterna. Amando o próximo com a si mesmo, estaria o homem praticando
– tudo – o que todas as tradicionais religiões, em todos os tempos, vêm
ensinando. Amando o próximo como a si mesmo, colocar-se-ia o homem na condição
de quase um Deus.
Ensina a Fraternidade dos Guardiães da Chama que o ser humano pode
livrar-se desse enfrentamento do “Morador do Umbral” (seu próprio julgamento),
usando os ensinamentos contidos no Relógio Cósmico, ensinado por Maria, Mãe de
Jesus. Ao aplicar tais ensinamentos, ensina a Fraternidade, o indivíduo
identificará (numa busca do autoconhecimento) todos os seus vícios, defeitos e
limitações (responsáveis pela formação do seu carma nas várias encarnações).
Desenvolvendo ele, a partir daí, um sistematizado trabalho de
autotransformação, também baseado nos mesmos ensinamentos, aqueles aspectos
(negativos) seriam transmutados, transformando-se, cada um, nas qualidades
(divinas) correspondentes: o orgulho seria transmutado em humildade, o ódio em
amor, o egoísmo em altruísmo, a intransigência em compreensão etc. Usando
fervorosas invocações à Chama Violeta, constantes repetições de mantras,
decretos e pedidos, dar-se-ia então a transmutação do carma, livrando-se assim,
aquela alma, desse tão temido julgamento.
(Hércules salva Teseu do Inferno)
“Se fizeres o bem colherás o bem!” – Esta é a lei cósmica. Teseu, na
juventude, salvara Hércules do suicídio. Quando este após o acesso de sua
loucura, volta à lucidez e descobre, desesperado, ter matado esposa e filhos,
resolve suicidar-se. Teseu habilmente o demove da sinistra intenção. O suicídio
é considerado pelas leis cósmicas um dos mais hediondos crimes. O corpo humano
é como um templo – sagrado – entregue ao homem para ser protegido e guardado.
Com o suicídio, torna-se aquele ser humano uma espécie de “depositário infiel”,
gerando carmas densos e que somente poderão ser resgatados em futuras
encarnações. Tal penalidade não incide somente no ato único de exterminar a
vida. Por extensão abrange quaisquer hábitos ou atos que possam enfraquecer o
corpo, facilitando o acesso da morte, uma deformação da vida que é uma
qualidade divina, tais como: bebidas alcoólicas em excesso, o fumo, vida
desregrada, drogas etc. Teseu livrou Hércules das sérias penalidades geradas
pelo suicídio e, muito tempo depois, Hércules livra – literalmente – Teseu dos
Infernos.
Outro ensinamento que nos leva a refletir em como agem os deuses na
ajuda e proteção aos seres humanos: a deusa Atena (da Sabedoria e da Justiça),
protetora dos heróis gregos, sabia (“os deuses sabem tudo”) que Teseu estava
prisioneiro no Inferno. Sendo uma deusa (luz), ela não podia descer aos
Infernos (trevas). Acompanha (veladamente) Hércules e o conduz pelos corredores
do Inferno para salvar Teseu. Hércules já havia enfrentado Hades, obtido deste,
autorização – condicionada - para levar Cérbero, e nada mais o poderia ter
motivado a conhecer as dependências do Inferno que ele já sabia serem de dor e
de sofrimento causadores de grandes constrangimentos. “Deus escreve certo por
linhas tortas!” – Diz a sabedoria popular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário