A LOUCURA DE HÉRCULES
Hércules continua crescer forte, exuberante, inteligente. Chega aos
dezoito anos com três metros de altura, um corpo apolíneo, uma força
(literalmente) hercúlea. Aparência de um deus. Zeus cada vez mais apaixonado
pelo filho, vendo-o desenvolver-se em tais proporções, envia-lhe os deuses do
Olimpo para transmitir-lhe conhecimentos que o jovem aprendiz absorve com
apaixonada avidez, sem, contudo, aplicá-los na vida prática, possuindo-os tão
somente como conhecimentos velados a nível do intelecto. Aos dezoito anos de
idade, sobe aos bosques de Cíteron, mata, sozinho, o feroz leão Téspio, terror
dos moradores da região. Da pele do leão faz ele uma vestimenta que
orgulhosamente ostenta. Os habitantes do reino já veem, nele, a figura de um
futuro herói. Casa-se com Megara, jovem princesa tebana e tem com ela dois
filhos.
A deusa Hera fica cada vez mais irritada ao ver o enorme desenvolvimento
de Hércules; tem consciência de que na Grécia de então, um herói, por sua
popularidade era fácil e frequentemente alçado a um trono, como rei; temendo
pelo reinado do próprio Euristeu, alçado ao trono pelo artifício por ela usado,
de retardamento do nascimento de Hércules, engendra um terrível plano e,
imediatamente, o aciona contra ele. Fomenta um grande atrito ente Hércules e
Euristeu; lança sobre Hércules uma forte carga de pragas, com tamanha força,
que, desesperado, Hércules enlouquece. Enlouquecido, mata sua mulher, Megara e
os seus dois próprios filhos. Mata os filhos de Íficles, seu irmão, deixando
vivo apenas um, Yolau. Vai matar o bondoso Anfitreão, quando, do Olimpo, a
deusa Atena atira-lhe uma pedra na cabeça. Com a pancada na cabeça Hércules
recobra a lucidez e tem, então, consciência dos horrendos crimes que acabara de
cometer. Para ele melhor seria ter continuado louco. A cena de sangue – dos
seus entes queridos – espalhados por toda a casa. Os pequenos corpos dos filhos
trucidados por ele próprio!...
Tais visões, de horríveis quase que o enlouquecem novamente. Envolvido
por grande dor e desespero, resolve suicidar-se. Sai para cumprir a horrível
decisão. À saída da casa, na porta da rua, encontra-se com o seu jovem primo e
grande admirador, Teseu, um dos futuros heróis gregos. Teseu ia passando pela
rua, soube do que estava ocorrendo e correu à casa do primo. Num gesto
simbólico estende as mãos para Hércules que as não quer pegar. Tenta, Teseu, em
vão, por todos os meios, convencer o primo a abandonar os planos suicidas que
este, irredutível, se encaminha para executar. De nada adianta lembrar ao
desesperado Hércules não existir culpa num ato praticado inconscientemente, num
momento de loucura. Teseu sabe da perseguição da deusa Hera a Hércules. Este
era um fato que todos conheciam, mas ninguém se atrevia a comentar, com medo de
atrair para si as iras da poderosa deusa. O jovem Teseu, corajosamente,
arriscando-se mesmo a receber forte castigo da deusa, sabendo ser Hércules um
campeão em aceitar desafios, lembra-lhe que o seu enlouquecimento era mais uma
provocação da deusa Hera; que Hércules deveria enfrentar esta prova como um
desafio a mais, colocado pela deusa no seu caminho. Com a loucura Hércules
esquecera-se, momentaneamente, do relacionamento inamistoso da deusa Hera.
Volta a lembrar-se. Muda de intenção e simbolicamente aperta nas suas, as mãos
de Teseu.
Simbolismos e Ensinamentos
O simbolismo da loucura de Hércules contém um dos maiores ensinamentos
para o ser humano que busca a evolução espiritual. Somente a sabedoria divina,
neste caso representada simbolicamente pela deusa Hera, poderia por em prática
um plano tão eficaz: um ataque direto ao centro da decisão humana que é a
mente. Hércules era o modelo exato do ser marcado pelo estigma do culto à
personalidade, da autovalorização, do gigantismo do autoengrandecimento: poderoso,
bonito, jovem, descendente de nobre linhagem; admirado por todos; casado com
uma princesa tebana. Veste - orgulhosamente – a pele do leão de Cíteron que
sozinho matara; vive num reino e numa época em que a força física – a área em
que é campeão absoluto e supremo – é garantia de poder. De temperamento
emocionalmente forte. Com seu físico avantajado de três metros de altura e
enorme força, comete, frequentemente, excessos do que logo depois se arrepende,
e, arrependido, chega às vezes, a chorar. Ainda criança desfere um soco no seu
professor de música de nome Lino que o recriminara por não ter preparado
devidamente a lição, prostrando-o morto. Inteligente, assimila os ensinamentos
passados pelos deuses do Olimpo a mando de Zeus. Contudo não os põe em prática.
O livre-arbítrio que recebera não estava sendo usado e certamente não era esse
o caminho de quem tinha pela frente, a cumprir, tão grandiosa missão.
Hércules somos todos nós, seres humanos, filhos e filhas de Deus,
centelhas divinas, nascidos na Terra para cumprimento da lei cósmica da
reencarnação, única maneira de chegarmos à imortalidade. Como Hércules, movidos
pela vaidade, pelas emoções incontroladas, pela presunção, pelo orgulho do
poder gerados pela personalidade, usamos mal o livre-arbítrio que nos foi
concedido. Adiamos, muitas vezes, por força destes vícios, defeitos e
limitações, o cumprimento de obrigações que assumimos antes mesmo do nosso
nascimento. Por vezes pensamentos momentâneos – o nosso Eu Superior (10) - a
Presença da Divina Centelha - nos convida a adotarmos conduta menos
materialista, mais humilde, menos arrogante, voltada para os valores
espirituais da caridade e do amor ao próximo.
O ego, entretanto, mais exaltado, retruca:
- Eu sou rico! Sou poderoso! Sou bonito! O mundo é meu! Por que agora eu
vou me preocupar com coisas que eu nem sei se existem?!... Sou jovem! Ah! Tenho
muito tempo para cuidar disso... E fazemos um bocado de bobagens! Cometemos um
mundo de tolices!
De repente, como num passe de mágica, tudo se acaba! É um negócio
malsucedido. Um desastre motivado por excessos cometidos, um gesto impensado de
consequências graves; uma relação sentimental que se rompe, uma doença grave
que surge. E, perplexos, perguntamos:
- O que aconteceu?! Como fui capaz de praticar atos tão horrendos?! Meu
Deus! E agora o que é que eu faço?!...
Nem desconfiamos que atrás desses aparentes desacertos está o plano
divino, acionado, exatamente, para nos fazer retornar ao caminho que nos foi
traçado, com o nosso conhecimento e aprovação. Por não entendermos por que tais
desacertos nos acontecem, começamos a questionar, a perguntar, a refletir. E na
reflexão vamos nos descobrindo. Através do autoconhecimento vamos tomando
consciência da nossa insignificância no contexto cósmico e dentro de nossa
pequenez, perguntamos:
- Quem eu sou?! Por que não agi de outra maneira, e me deixei levar
pelas emoções descontroladas, pelo desequilíbrio?!...
Foi num desses momentos de reflexão que Hércules se lembrou do Oráculo
de Delfos, famoso local de peregrinação e de culto ao deus Apolo, que
funcionava na cidade de Delfos, na Grécia antiga.
Simbolismos e Ensinamentos
Matar a mulher e os próprios filhos, os entes queridos, (simbolicamente,
aqui no mito...), significa a eliminação do apego, sentimento inferior que
prende fortemente os seres humanos às coisas da vida material, tornando-os
dependentes inseparáveis. O acúmulo de riqueza; sentimento exagerado de
conforto (na maioria das vezes exibicionista) e até mesmo uma estrutura
familiar de excessivo envolvimento, por exemplo.
A forte presença desse apego gera no ser humano uma enorme sensação de
insegurança, o medo da morte (e de tudo deixar), medo de tudo perder. Levado,
assim, por tal insegurança, o indivíduo inverte todos os valores, passa –
desrespeitosamente – por cima de todas as leis (morais, éticas, religiosas, de
convivência humana) para conseguir sempre mais. Quanto mais tem, maior é o medo
de tudo perder. E assim vai, até ele chegar à morte – não a morte chegar a ele
– sem ter tido tempo – nem disposição – de se apegar às coisas do espírito;
apego que o levaria ao outro lado da vida, eliminando, verdadeiramente, todas
as inseguranças e medos. É o apego, portanto, um grande entrave no caminho de
quem se dispõe buscar a evolução espiritual. A prática do desapego é o primeiro
passo que deve ser dado na caminhada de quem busca a segurança da eternidade.
(O aperto de mão dado simbolicamente
por Teseu)
Na Grécia de então havia o costume de ser negado o aperto de mão a quem
fosse considerado criminoso. Lá não havia – como temos hoje – toda uma
ritualística de leis, com juízes e tribunais para, em nome da sociedade,
julgar, condenando ou absolvendo os acusados de algum crime.
A estrutura jurídica que hoje possuímos foi-nos legada pelo Direito
Romano, posterior, portanto, aos gregos. A sociedade grega, como repúdio a
esses criminosos – quase sempre impunes – negava-lhes o aperto de mão, u’a
maneira, embora amena, de discriminá-los. O conhecimento desse costume nos leva
a entender o simbolismo do gesto de Teseu ao estender suas mãos para Hércules,
dizendo-lhe assim que o não julgava um criminoso e a reação de Hércules -
envolvido num enorme sentimento de culpa - em não aceitá-las. Aceitou-as,
posteriormente, quando convencido estava de sua inculpabilidade.
NO TEMPLO DE DELFOS
A sinistra intenção suicida foi banida da mente de Hércules, mas o
grande sofrimento pelo que fizera, acompanha-o permanentemente. Perambula ele –
como um pária – pelo mundo, sem saber o que fazer. Sozinho, sem família, sem
amigos, está perdido em sua profunda infelicidade. Em um dos momentos da mais
profunda dor, lembra-se Hércules do Santuário do deus Apolo, o Oráculo de
Delfos e segue então para lá. Vai consultar sobre o que fazer. No Portal do
Templo de Delfos, está escrito: “Homem, conhece-te a ti mesmo!’’ Esta máxima
ensina que o homem, ao conhecer-se a si mesmo, passa a conhecer a divindade que
traz dentro de si e adquire condições de desvendar os mistérios que o envolvem.
Hércules transpõe o Portal da entrada à procura da sala das consultas. Entra
numa sala, não é aquela. Vai á outra, também não é. Entra na terceira sala e lá
está a Pítia, a mais famosa das sacerdotisas do Oráculo. Essas sacerdotisas –
as Sibilas – caíam em transe, recebiam as mensagens do deus Apolo e as
retransmitiam aos consulentes.
A sibila Pítia após ouvir as explicações de Hércules sobre as causas que
o levaram ali, entra em transe e de mãos para os céus invoca a orientação do
deus Apolo. Com voz entrecortada, postura solene e mística, inicia a sua fala
lembrando a Hércules sua condição de filho de Deus, partícipe de u’a humanidade
onde todos são irmãos – filhos do mesmo Pai – que a todos ama. Fala-lhe que a
esta Terra todos vêm para o cumprimento dos desígnios divinos e a cada um
compete carregar o peso que lhe está reservado com maiores ou menos dores de
sofrimento, a depender dos merecimentos ou faltas trazidas de vidas anteriores;
diz-lhe que através da humildade, de serviços prestados ao próximo, de
invocações místicas, de sentimentos amorosos, da prática da caridade, do
reconhecimento da misericórdia divina, poderia ele resgatar as faltas
cometidas, encontrar o caminho da perfeição e através dele alcançar a
imortalidade olímpica. Sobre a animosidade de Hera, orientou a sacerdotisa que
ele substituísse o seu nome de nascimento que era Alcides – e assim era até
então chamado – nome derivado de Alceu, pai de Anfitreão, para Heraklês (ou
Hércules) que significa ”a glória de Hera”. U’a maneira de tentar,
homenageando-a, aplacar um pouco a ira da deusa.
Finalmente, diz a Sibila a Hércules que ele teria de submeter-se ao
primo, o rei Euristeu, por um período de 12 anos, realizando, humildemente, 12
trabalhos que o rei lhe ordenasse a executar. Estaria ele, assim, cumprindo o
decreto de Zeus, quando dissera que, dos dois primos, Hércules e Euristeu, “o
que nascer primeiro reinará sobre o segundo e este servirá ao primeiro’’.
Somente após a realização desses 12 trabalhos, estaria Hércules absolvido dos
crimes que praticara e ascenderia ao Olimpo, como um deus.
Hércules sabe ser Euristeu o seu mais rancoroso inimigo. E que levado
por grande medo de ver Hércules, um dia, tomar-lhe o trono, nutre, Euristeu, um
grande desejo de ver o primo morto. Mas, mesmo assim, Hércules, numa atitude de
quem aceita a orientação do deus Apolo, curva a cabeça humildemente. Retira-se
(pensativo) do Oráculo. Dirige-se a Micenas. Chega à corte do rei Euristeu. Vai
cumprir a inapelável lei emanada do Pai e realizar a missão que o levará à
eternidade. Apresenta-se a Euristeu e humildemente se oferece para servir.
Euristeu, orgulhoso e arrogante, trata Hércules com todo o desprezo e o subjuga
como a um odiado servo. Ordena, autoritariamente, que Hércules se retire de sua
presença. Ele iria escolher os trabalhos, disse, e depois ordenaria a Hércules
as suas execuções. A deusa Hera que havia interferido no transe da sibila
Pítia, induzindo-a a enviar Hércules para os 12 trabalhos de Euristeu, agora
vai insuflar este, na escolha dos dificílimos trabalhos a serem realizados.
Simbolismos e Ensinamentos
Outro aspecto de marcante beleza neste Mito e que bem mostra, no seu
simbolismo, a sabedoria dos deuses na condução dos atos e ações dos seres
humanos na Terra, é a ida de Hércules ao Oráculo de Delfos, aceitar a
orientação da sacerdotisa Pítia e submeter-se, humildemente, á arrogância de
Euristeu.
Há todo um encadeamento de atos e ações, de situações que parecem
desconexas entre si, às vezes de desdobramento aparentemente paradoxal, para
levar o ser humano no caminho do Cristo. Se Hércules não houvesse ficado louco,
matado mulher e filhos; se ele não tivesse ficado vagando, sozinho, pelo mundo,
desprezado por todos os que antes lhe adoravam, teria ele, com todos aqueles
atributos que possuía, ido a Delfos consultar o Oráculo? Aceitaria o
aconselhamento da Pítia? E, humildemente, apresentar-se-ia a Euristeu, o rei
que se sentava no trono que ele, Hércules, deveria ocupar? Ele, todo-poderoso,
aureolado por toda aquela imagem de glórias, envaidecido por todo o seu imenso
ego, anterior à loucura, iria submeter-se a tanta humilhação? “Deus escreve
certo por linhas tortas”, diz a sabedoria popular. E o ser humano quase nunca
entende o porquê de ser envolvido em situações que considera horríveis e,
desesperado, exclama:
- Meu Deus! Eu não mereço isto. Por que isto me acontece? Por quê?!
Nem percebe que tal situação, aparentemente danosa, faz parte dos planos
de Deus, para despertar-lhe a consciência crística e reconduzi-lo de volta, ao
caminho do qual ele se desviou. Na grande maioria das vezes o benefício
acontece sem que o indivíduo perceba a relação de causa e efeito que atuou
naquele contexto.
(“O primeiro que nascer reinará sobre o segundo
e este servirá ao primeiro”)
Temos aí – neste decreto de Zeus – um simbolismo do destino do ser
humano. Ensina-nos que o homem – antes mesmo do seu nascimento – traz o roteiro
de sua caminhada na Terra. Traz ele, assim, uma relação de débitos a saldar. E
se tem débitos é porque contraiu dívidas anteriores (carmas), em vidas
passadas, sendo sua volta à Terra - a reencarnação – a oportunidade que lhe é
dada para a quitação de tais dívidas. Não é, entretanto, tal roteiro
inflexível, a exigir do caminhante cega obediência às trilhas que se apresentem
– arbitrariamente – à sua frente. Ele é um mapa que dá ao buscador uma visão geral
dos vários caminhos que o levarão ao sítio desejado, podendo ele, pelo seu
livre-arbítrio, usar os desvios e atalhos, alongando ou diminuindo as
distâncias entre o ponto de partida e o da chegada. Se Hércules, logo cedo, se
houvesse libertado do enganoso jugo da personalidade e posto em prática os
ensinamentos dos deuses olímpicos, enviados por Zeus, teria sido ele o primeiro
a nascer - na senda mística, nascimento significa iluminação - e reinaria sobre
Euristeu que só estava preocupado com os aspectos materiais do seu reino.
(Hércules se apresenta a Euristeu e
humildemente se oferece para servir)
Por que Hércules aceita humildemente realizar os 12 Trabalhos? Porque
ele já não é mais aquele vaidoso jovem que mata o leão Téspio, de Cíteron e se
veste – orgulhosamente – de sua pele, incorporando em si, o vaidoso aspecto
leonino. No simbolismo da loucura, Hércules começa a conhecer a sua
insignificância, a sua pequenez, a fragilidade humana, e sente-se desamparado,
sozinho. E apela para a Divina Misericórdia, indo ao Oráculo de Delfos que
simboliza a voz divina. Ao aceitar o aconselhamento que lhe é dado pela Pítia,
entende o ensinamento contido no axioma “Homem, conhece-te a ti mesmo’’ escrito
no Portal da entrada do Oráculo.
Na loucura encontra ele o caminho da Sabedoria que o levará a Deus. O
ser humano antes de encontrar Deus, atua sempre – como Hércules – pelas
emoções, pelo impulso. Quando ele chega ao Santuário de Delfos está confuso
(não encontra, logo, as salas das consultas), está com a mente perturbada. Ao
ouvir o Oráculo (a voz de Deus) ele aquieta sua mente. E descobre que
aquietando a mente, aprende a discernir. E a primeira coisa que o ser humano
precisa para enfrentar os desafios no seu Caminho, é ter discernimento. Este é
o ensinamento de todas as Escolas de Sabedoria Antiga. O saber separar o certo
do errado, “o joio do trigo”. Sem o uso dessa ferramenta ele não sabe como
aplicar bem o seu livre-arbítrio. Nestes 12 Trabalhos vamos acompanhar Hércules
(como se fosse nós mesmos) caminhando e procurando discernir o certo do errado.
E, de sua correta aplicação, vai depender o nosso acesso ao ponto de chegada.
Aquietar a mente significa silenciar o nosso mundo exterior. Quando
estivermos no auge de um conflito, envolvidos numa situação altamente
emocional, devemos parar completamente. Nada fazermos. Nenhuma atitude tomar.
Esboçarmos o menor gesto. Porque estando nossas mentes envolvidas pelas
emoções, não conseguiremos raciocinar. Quando, porém, silenciamos a mente,
buscando na paz interior o discernimento, passamos então a entender o mundo
onde estamos, aportamos em sua realidade e não mais nos deixamos prender nas
aparências fantasiosas que ele oferece. O discernimento nos mostra o que é real
e o que é irreal. E sair da irrealidade para a realidade significa desapego.
Somente através do desapego podemos vencer nossos vícios e hábitos errados e
aproximarmo-nos da máxima cristã do amar o próximo com a si mesmo, o caminho do
encontro com a nossa origem divina.
No frontispício do Templo de Delfos, na Grécia Antiga, estava escrito:
“Homem, conhece-te a ti mesmo”. Esta frase serviu de linha mestra a todos os
Colégios Iniciáticos da antiga Grécia, tais como: Eleuzinos, Órficos,
Dionisíaco ou Pitagóricos. Todos ensinavam que o caminho exigido para a evolução
do homem na Terra, passa pelo conhecimento dos seus próprios vícios e defeitos.
Passa pelo “Conhece - te a ti mesmo”. Conhecendo-se a si mesmo, conhece, o
homem, a divindade que traz em si, e conhecendo-a, torna-se capaz de desvendar
todos os mistérios que o envolvem. Ensinam também, muitas dessas Escolas que a
humanidade parte do homem selvagem e vai para o homem de ideal. Passa do homem
de ideal para o aspirante à evolução espiritual; do aspirante para um discípulo
e do discípulo passa para um iniciado. É este o Caminho para o homem tornar-se
perfeito e, assim, chegar à ascensão e á imortalidade. “Estes seres perfeitos
existem hoje e são aqueles que nos deram os mitos, porque os mitos mostram o
caminho da humanidade até os dias de hoje”.
Muitos desses homens perfeitos que geraram os mitos; homens que
exercitaram a vontade nascida da fé, doadora de Poder; praticaram a Grande
Sabedoria que é a chave para a abertura dos portais reveladores dos Sagrados
Mistérios. Dedicaram-se permanente e incansavelmente à prestação de amorosos
serviços à humanidade, equilibraram nos seus corações a Chama Trina (11) do
Poder, da Sabedoria e do Amor, garantia da divina ascensão. São eles, hoje,
seres imortais, mestres ascensos, hierarquias poderosas que habitam os mais elevados
planos e continuam, do alto de suas Divinas Moradas, desenvolvendo grandioso e
permanente trabalho de ajuda aos seres humanos na sua constante busca da
perfeição e da sonhada imortalidade.
Hércules ao aceitar, humildemente, executar as tarefas que lhe foram
impostas nestes 12 Trabalhos, transforma-se num aspirante. “Como um aspirante,
sozinho, lá em embaixo no pé de uma escada, quebra, corta, malha uma pedra
bruta que é ele próprio. E, à medida em que vai caminhando na realização de
cada Trabalho, vai ele colocando o pé no degrau seguinte – mais alto – onde já
segura a pedra de configuração mais detalhada. Um degrau a mais e já aparece
com um plano de obras nas mãos. É esta a escada do aprendiz que se educa a si
mesmo, até atingir o nível de controlar os seus sentidos, de dominar suas
emoções, eliminar os seus vícios. Nesse estágio ele se transforma de aspirante
a aprendiz e está em condições de contatar um mestre instrutor”.
“Quando o discípulo está pronto o mestre aparece”. Hércules agora vai
caminhar como um aspirante, depois como um discípulo na busca das misteriosas
sendas da Sagrada Sabedoria, transformando-se mais tarde num iniciado. Á medida
em que vai superando as dificuldades encontradas no caminho, vai galgando novos
degraus, novos patamares, até chegar, como um mestre, ao topo da Escada da
Perfeição e, finalmente, ascender como um imortal. Ele vai ter que reunir, em
si, todas as qualidades próprias de um ser perfeito e entregar-se a serviço da
humanidade. Como um iluminado, vai ascender à imortalidade e subir ao Olimpo
nos braços de Zeus, como um Deus. Este é, também, o Caminho de todos nós,
filhos e filhas de Deus, na Terra.
Os 12 Trabalhos de Hércules! O 12 é um dos mais sagrados números na
simbologia numerológica. Ele representa o Caminho da Humanidade: 12 foram as
Tribos de Israel; 12 são os Apóstolos; 12 são os grandes deuses do Olimpo; 12
são as grandes religiões do mundo; 12 são os Trabalhos de Hércules; 12 são as
constelações que o Sol percorre durante o ano; simbolicamente o Zodíaco passa
em volta da Terra através dos 12 signos. Esta é a caminhada zodiacal, é a
caminhada de Hércules. É o Caminho de todo ser humano, na Terra!
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