quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A LOUCURA DE HÉRCULES

Hércules continua crescer forte, exuberante, inteligente. Chega aos dezoito anos com três metros de altura, um corpo apolíneo, uma força (literalmente) hercúlea. Aparência de um deus. Zeus cada vez mais apaixonado pelo filho, vendo-o desenvolver-se em tais proporções, envia-lhe os deuses do Olimpo para transmitir-lhe conhecimentos que o jovem aprendiz absorve com apaixonada avidez, sem, contudo, aplicá-los na vida prática, possuindo-os tão somente como conhecimentos velados a nível do intelecto. Aos dezoito anos de idade, sobe aos bosques de Cíteron, mata, sozinho, o feroz leão Téspio, terror dos moradores da região. Da pele do leão faz ele uma vestimenta que orgulhosamente ostenta. Os habitantes do reino já veem, nele, a figura de um futuro herói. Casa-se com Megara, jovem princesa tebana e tem com ela dois filhos.

A deusa Hera fica cada vez mais irritada ao ver o enorme desenvolvimento de Hércules; tem consciência de que na Grécia de então, um herói, por sua popularidade era fácil e frequentemente alçado a um trono, como rei; temendo pelo reinado do próprio Euristeu, alçado ao trono pelo artifício por ela usado, de retardamento do nascimento de Hércules, engendra um terrível plano e, imediatamente, o aciona contra ele. Fomenta um grande atrito ente Hércules e Euristeu; lança sobre Hércules uma forte carga de pragas, com tamanha força, que, desesperado, Hércules enlouquece. Enlouquecido, mata sua mulher, Megara e os seus dois próprios filhos. Mata os filhos de Íficles, seu irmão, deixando vivo apenas um, Yolau. Vai matar o bondoso Anfitreão, quando, do Olimpo, a deusa Atena atira-lhe uma pedra na cabeça. Com a pancada na cabeça Hércules recobra a lucidez e tem, então, consciência dos horrendos crimes que acabara de cometer. Para ele melhor seria ter continuado louco. A cena de sangue – dos seus entes queridos – espalhados por toda a casa. Os pequenos corpos dos filhos trucidados por ele próprio!...

Tais visões, de horríveis quase que o enlouquecem novamente. Envolvido por grande dor e desespero, resolve suicidar-se. Sai para cumprir a horrível decisão. À saída da casa, na porta da rua, encontra-se com o seu jovem primo e grande admirador, Teseu, um dos futuros heróis gregos. Teseu ia passando pela rua, soube do que estava ocorrendo e correu à casa do primo. Num gesto simbólico estende as mãos para Hércules que as não quer pegar. Tenta, Teseu, em vão, por todos os meios, convencer o primo a abandonar os planos suicidas que este, irredutível, se encaminha para executar. De nada adianta lembrar ao desesperado Hércules não existir culpa num ato praticado inconscientemente, num momento de loucura. Teseu sabe da perseguição da deusa Hera a Hércules. Este era um fato que todos conheciam, mas ninguém se atrevia a comentar, com medo de atrair para si as iras da poderosa deusa. O jovem Teseu, corajosamente, arriscando-se mesmo a receber forte castigo da deusa, sabendo ser Hércules um campeão em aceitar desafios, lembra-lhe que o seu enlouquecimento era mais uma provocação da deusa Hera; que Hércules deveria enfrentar esta prova como um desafio a mais, colocado pela deusa no seu caminho. Com a loucura Hércules esquecera-se, momentaneamente, do relacionamento inamistoso da deusa Hera. Volta a lembrar-se. Muda de intenção e simbolicamente aperta nas suas, as mãos de Teseu.
Simbolismos e Ensinamentos

O simbolismo da loucura de Hércules contém um dos maiores ensinamentos para o ser humano que busca a evolução espiritual. Somente a sabedoria divina, neste caso representada simbolicamente pela deusa Hera, poderia por em prática um plano tão eficaz: um ataque direto ao centro da decisão humana que é a mente. Hércules era o modelo exato do ser marcado pelo estigma do culto à personalidade, da autovalorização, do gigantismo do autoengrandecimento: poderoso, bonito, jovem, descendente de nobre linhagem; admirado por todos; casado com uma princesa tebana. Veste - orgulhosamente – a pele do leão de Cíteron que sozinho matara; vive num reino e numa época em que a força física – a área em que é campeão absoluto e supremo – é garantia de poder. De temperamento emocionalmente forte. Com seu físico avantajado de três metros de altura e enorme força, comete, frequentemente, excessos do que logo depois se arrepende, e, arrependido, chega às vezes, a chorar. Ainda criança desfere um soco no seu professor de música de nome Lino que o recriminara por não ter preparado devidamente a lição, prostrando-o morto. Inteligente, assimila os ensinamentos passados pelos deuses do Olimpo a mando de Zeus. Contudo não os põe em prática. O livre-arbítrio que recebera não estava sendo usado e certamente não era esse o caminho de quem tinha pela frente, a cumprir, tão grandiosa missão.
Hércules somos todos nós, seres humanos, filhos e filhas de Deus, centelhas divinas, nascidos na Terra para cumprimento da lei cósmica da reencarnação, única maneira de chegarmos à imortalidade. Como Hércules, movidos pela vaidade, pelas emoções incontroladas, pela presunção, pelo orgulho do poder gerados pela personalidade, usamos mal o livre-arbítrio que nos foi concedido. Adiamos, muitas vezes, por força destes vícios, defeitos e limitações, o cumprimento de obrigações que assumimos antes mesmo do nosso nascimento. Por vezes pensamentos momentâneos – o nosso Eu Superior (10) - a Presença da Divina Centelha - nos convida a adotarmos conduta menos materialista, mais humilde, menos arrogante, voltada para os valores espirituais da caridade e do amor ao próximo.
O ego, entretanto, mais exaltado, retruca:

- Eu sou rico! Sou poderoso! Sou bonito! O mundo é meu! Por que agora eu vou me preocupar com coisas que eu nem sei se existem?!... Sou jovem! Ah! Tenho muito tempo para cuidar disso... E fazemos um bocado de bobagens! Cometemos um mundo de tolices!

De repente, como num passe de mágica, tudo se acaba! É um negócio malsucedido. Um desastre motivado por excessos cometidos, um gesto impensado de consequências graves; uma relação sentimental que se rompe, uma doença grave que surge. E, perplexos, perguntamos:

- O que aconteceu?! Como fui capaz de praticar atos tão horrendos?! Meu Deus! E agora o que é que eu faço?!...

Nem desconfiamos que atrás desses aparentes desacertos está o plano divino, acionado, exatamente, para nos fazer retornar ao caminho que nos foi traçado, com o nosso conhecimento e aprovação. Por não entendermos por que tais desacertos nos acontecem, começamos a questionar, a perguntar, a refletir. E na reflexão vamos nos descobrindo. Através do autoconhecimento vamos tomando consciência da nossa insignificância no contexto cósmico e dentro de nossa pequenez, perguntamos:

- Quem eu sou?! Por que não agi de outra maneira, e me deixei levar pelas emoções descontroladas, pelo desequilíbrio?!...

Foi num desses momentos de reflexão que Hércules se lembrou do Oráculo de Delfos, famoso local de peregrinação e de culto ao deus Apolo, que funcionava na cidade de Delfos, na Grécia antiga.
Simbolismos e Ensinamentos

Matar a mulher e os próprios filhos, os entes queridos, (simbolicamente, aqui no mito...), significa a eliminação do apego, sentimento inferior que prende fortemente os seres humanos às coisas da vida material, tornando-os dependentes inseparáveis. O acúmulo de riqueza; sentimento exagerado de conforto (na maioria das vezes exibicionista) e até mesmo uma estrutura familiar de excessivo envolvimento, por exemplo.
A forte presença desse apego gera no ser humano uma enorme sensação de insegurança, o medo da morte (e de tudo deixar), medo de tudo perder. Levado, assim, por tal insegurança, o indivíduo inverte todos os valores, passa – desrespeitosamente – por cima de todas as leis (morais, éticas, religiosas, de convivência humana) para conseguir sempre mais. Quanto mais tem, maior é o medo de tudo perder. E assim vai, até ele chegar à morte – não a morte chegar a ele – sem ter tido tempo – nem disposição – de se apegar às coisas do espírito; apego que o levaria ao outro lado da vida, eliminando, verdadeiramente, todas as inseguranças e medos. É o apego, portanto, um grande entrave no caminho de quem se dispõe buscar a evolução espiritual. A prática do desapego é o primeiro passo que deve ser dado na caminhada de quem busca a segurança da eternidade.

(O aperto de mão dado simbolicamente por Teseu)

Na Grécia de então havia o costume de ser negado o aperto de mão a quem fosse considerado criminoso. Lá não havia – como temos hoje – toda uma ritualística de leis, com juízes e tribunais para, em nome da sociedade, julgar, condenando ou absolvendo os acusados de algum crime.
A estrutura jurídica que hoje possuímos foi-nos legada pelo Direito Romano, posterior, portanto, aos gregos. A sociedade grega, como repúdio a esses criminosos – quase sempre impunes – negava-lhes o aperto de mão, u’a maneira, embora amena, de discriminá-los. O conhecimento desse costume nos leva a entender o simbolismo do gesto de Teseu ao estender suas mãos para Hércules, dizendo-lhe assim que o não julgava um criminoso e a reação de Hércules - envolvido num enorme sentimento de culpa - em não aceitá-las. Aceitou-as, posteriormente, quando convencido estava de sua inculpabilidade.

NO TEMPLO DE DELFOS

A sinistra intenção suicida foi banida da mente de Hércules, mas o grande sofrimento pelo que fizera, acompanha-o permanentemente. Perambula ele – como um pária – pelo mundo, sem saber o que fazer. Sozinho, sem família, sem amigos, está perdido em sua profunda infelicidade. Em um dos momentos da mais profunda dor, lembra-se Hércules do Santuário do deus Apolo, o Oráculo de Delfos e segue então para lá. Vai consultar sobre o que fazer. No Portal do Templo de Delfos, está escrito: “Homem, conhece-te a ti mesmo!’’ Esta máxima ensina que o homem, ao conhecer-se a si mesmo, passa a conhecer a divindade que traz dentro de si e adquire condições de desvendar os mistérios que o envolvem. Hércules transpõe o Portal da entrada à procura da sala das consultas. Entra numa sala, não é aquela. Vai á outra, também não é. Entra na terceira sala e lá está a Pítia, a mais famosa das sacerdotisas do Oráculo. Essas sacerdotisas – as Sibilas – caíam em transe, recebiam as mensagens do deus Apolo e as retransmitiam aos consulentes.

A sibila Pítia após ouvir as explicações de Hércules sobre as causas que o levaram ali, entra em transe e de mãos para os céus invoca a orientação do deus Apolo. Com voz entrecortada, postura solene e mística, inicia a sua fala lembrando a Hércules sua condição de filho de Deus, partícipe de u’a humanidade onde todos são irmãos – filhos do mesmo Pai – que a todos ama. Fala-lhe que a esta Terra todos vêm para o cumprimento dos desígnios divinos e a cada um compete carregar o peso que lhe está reservado com maiores ou menos dores de sofrimento, a depender dos merecimentos ou faltas trazidas de vidas anteriores; diz-lhe que através da humildade, de serviços prestados ao próximo, de invocações místicas, de sentimentos amorosos, da prática da caridade, do reconhecimento da misericórdia divina, poderia ele resgatar as faltas cometidas, encontrar o caminho da perfeição e através dele alcançar a imortalidade olímpica. Sobre a animosidade de Hera, orientou a sacerdotisa que ele substituísse o seu nome de nascimento que era Alcides – e assim era até então chamado – nome derivado de Alceu, pai de Anfitreão, para Heraklês (ou Hércules) que significa ”a glória de Hera”. U’a maneira de tentar, homenageando-a, aplacar um pouco a ira da deusa.
Finalmente, diz a Sibila a Hércules que ele teria de submeter-se ao primo, o rei Euristeu, por um período de 12 anos, realizando, humildemente, 12 trabalhos que o rei lhe ordenasse a executar. Estaria ele, assim, cumprindo o decreto de Zeus, quando dissera que, dos dois primos, Hércules e Euristeu, “o que nascer primeiro reinará sobre o segundo e este servirá ao primeiro’’. Somente após a realização desses 12 trabalhos, estaria Hércules absolvido dos crimes que praticara e ascenderia ao Olimpo, como um deus.

Hércules sabe ser Euristeu o seu mais rancoroso inimigo. E que levado por grande medo de ver Hércules, um dia, tomar-lhe o trono, nutre, Euristeu, um grande desejo de ver o primo morto. Mas, mesmo assim, Hércules, numa atitude de quem aceita a orientação do deus Apolo, curva a cabeça humildemente. Retira-se (pensativo) do Oráculo. Dirige-se a Micenas. Chega à corte do rei Euristeu. Vai cumprir a inapelável lei emanada do Pai e realizar a missão que o levará à eternidade. Apresenta-se a Euristeu e humildemente se oferece para servir. Euristeu, orgulhoso e arrogante, trata Hércules com todo o desprezo e o subjuga como a um odiado servo. Ordena, autoritariamente, que Hércules se retire de sua presença. Ele iria escolher os trabalhos, disse, e depois ordenaria a Hércules as suas execuções. A deusa Hera que havia interferido no transe da sibila Pítia, induzindo-a a enviar Hércules para os 12 trabalhos de Euristeu, agora vai insuflar este, na escolha dos dificílimos trabalhos a serem realizados.

Simbolismos e Ensinamentos

Outro aspecto de marcante beleza neste Mito e que bem mostra, no seu simbolismo, a sabedoria dos deuses na condução dos atos e ações dos seres humanos na Terra, é a ida de Hércules ao Oráculo de Delfos, aceitar a orientação da sacerdotisa Pítia e submeter-se, humildemente, á arrogância de Euristeu.
Há todo um encadeamento de atos e ações, de situações que parecem desconexas entre si, às vezes de desdobramento aparentemente paradoxal, para levar o ser humano no caminho do Cristo. Se Hércules não houvesse ficado louco, matado mulher e filhos; se ele não tivesse ficado vagando, sozinho, pelo mundo, desprezado por todos os que antes lhe adoravam, teria ele, com todos aqueles atributos que possuía, ido a Delfos consultar o Oráculo? Aceitaria o aconselhamento da Pítia? E, humildemente, apresentar-se-ia a Euristeu, o rei que se sentava no trono que ele, Hércules, deveria ocupar? Ele, todo-poderoso, aureolado por toda aquela imagem de glórias, envaidecido por todo o seu imenso ego, anterior à loucura, iria submeter-se a tanta humilhação? “Deus escreve certo por linhas tortas”, diz a sabedoria popular. E o ser humano quase nunca entende o porquê de ser envolvido em situações que considera horríveis e, desesperado, exclama:

- Meu Deus! Eu não mereço isto. Por que isto me acontece? Por quê?!

Nem percebe que tal situação, aparentemente danosa, faz parte dos planos de Deus, para despertar-lhe a consciência crística e reconduzi-lo de volta, ao caminho do qual ele se desviou. Na grande maioria das vezes o benefício acontece sem que o indivíduo perceba a relação de causa e efeito que atuou naquele contexto.

(“O primeiro que nascer reinará sobre o segundo e este servirá ao primeiro”)

Temos aí – neste decreto de Zeus – um simbolismo do destino do ser humano. Ensina-nos que o homem – antes mesmo do seu nascimento – traz o roteiro de sua caminhada na Terra. Traz ele, assim, uma relação de débitos a saldar. E se tem débitos é porque contraiu dívidas anteriores (carmas), em vidas passadas, sendo sua volta à Terra - a reencarnação – a oportunidade que lhe é dada para a quitação de tais dívidas. Não é, entretanto, tal roteiro inflexível, a exigir do caminhante cega obediência às trilhas que se apresentem – arbitrariamente – à sua frente. Ele é um mapa que dá ao buscador uma visão geral dos vários caminhos que o levarão ao sítio desejado, podendo ele, pelo seu livre-arbítrio, usar os desvios e atalhos, alongando ou diminuindo as distâncias entre o ponto de partida e o da chegada. Se Hércules, logo cedo, se houvesse libertado do enganoso jugo da personalidade e posto em prática os ensinamentos dos deuses olímpicos, enviados por Zeus, teria sido ele o primeiro a nascer - na senda mística, nascimento significa iluminação - e reinaria sobre Euristeu que só estava preocupado com os aspectos materiais do seu reino.  

(Hércules se apresenta a Euristeu e humildemente se oferece para servir)

Por que Hércules aceita humildemente realizar os 12 Trabalhos? Porque ele já não é mais aquele vaidoso jovem que mata o leão Téspio, de Cíteron e se veste – orgulhosamente – de sua pele, incorporando em si, o vaidoso aspecto leonino. No simbolismo da loucura, Hércules começa a conhecer a sua insignificância, a sua pequenez, a fragilidade humana, e sente-se desamparado, sozinho. E apela para a Divina Misericórdia, indo ao Oráculo de Delfos que simboliza a voz divina. Ao aceitar o aconselhamento que lhe é dado pela Pítia, entende o ensinamento contido no axioma “Homem, conhece-te a ti mesmo’’ escrito no Portal da entrada do Oráculo.

Na loucura encontra ele o caminho da Sabedoria que o levará a Deus. O ser humano antes de encontrar Deus, atua sempre – como Hércules – pelas emoções, pelo impulso. Quando ele chega ao Santuário de Delfos está confuso (não encontra, logo, as salas das consultas), está com a mente perturbada. Ao ouvir o Oráculo (a voz de Deus) ele aquieta sua mente. E descobre que aquietando a mente, aprende a discernir. E a primeira coisa que o ser humano precisa para enfrentar os desafios no seu Caminho, é ter discernimento. Este é o ensinamento de todas as Escolas de Sabedoria Antiga. O saber separar o certo do errado, “o joio do trigo”. Sem o uso dessa ferramenta ele não sabe como aplicar bem o seu livre-arbítrio. Nestes 12 Trabalhos vamos acompanhar Hércules (como se fosse nós mesmos) caminhando e procurando discernir o certo do errado. E, de sua correta aplicação, vai depender o nosso acesso ao ponto de chegada.  

Aquietar a mente significa silenciar o nosso mundo exterior. Quando estivermos no auge de um conflito, envolvidos numa situação altamente emocional, devemos parar completamente. Nada fazermos. Nenhuma atitude tomar. Esboçarmos o menor gesto. Porque estando nossas mentes envolvidas pelas emoções, não conseguiremos raciocinar. Quando, porém, silenciamos a mente, buscando na paz interior o discernimento, passamos então a entender o mundo onde estamos, aportamos em sua realidade e não mais nos deixamos prender nas aparências fantasiosas que ele oferece. O discernimento nos mostra o que é real e o que é irreal. E sair da irrealidade para a realidade significa desapego. Somente através do desapego podemos vencer nossos vícios e hábitos errados e aproximarmo-nos da máxima cristã do amar o próximo com a si mesmo, o caminho do encontro com a nossa origem divina. 
No frontispício do Templo de Delfos, na Grécia Antiga, estava escrito: “Homem, conhece-te a ti mesmo”. Esta frase serviu de linha mestra a todos os Colégios Iniciáticos da antiga Grécia, tais como: Eleuzinos, Órficos, Dionisíaco ou Pitagóricos. Todos ensinavam que o caminho exigido para a evolução do homem na Terra, passa pelo conhecimento dos seus próprios vícios e defeitos. Passa pelo “Conhece - te a ti mesmo”. Conhecendo-se a si mesmo, conhece, o homem, a divindade que traz em si, e conhecendo-a, torna-se capaz de desvendar todos os mistérios que o envolvem. Ensinam também, muitas dessas Escolas que a humanidade parte do homem selvagem e vai para o homem de ideal. Passa do homem de ideal para o aspirante à evolução espiritual; do aspirante para um discípulo e do discípulo passa para um iniciado. É este o Caminho para o homem tornar-se perfeito e, assim, chegar à ascensão e á imortalidade. “Estes seres perfeitos existem hoje e são aqueles que nos deram os mitos, porque os mitos mostram o caminho da humanidade até os dias de hoje”.

Muitos desses homens perfeitos que geraram os mitos; homens que exercitaram a vontade nascida da fé, doadora de Poder; praticaram a Grande Sabedoria que é a chave para a abertura dos portais reveladores dos Sagrados Mistérios. Dedicaram-se permanente e incansavelmente à prestação de amorosos serviços à humanidade, equilibraram nos seus corações a Chama Trina (11) do Poder, da Sabedoria e do Amor, garantia da divina ascensão. São eles, hoje, seres imortais, mestres ascensos, hierarquias poderosas que habitam os mais elevados planos e continuam, do alto de suas Divinas Moradas, desenvolvendo grandioso e permanente trabalho de ajuda aos seres humanos na sua constante busca da perfeição e da sonhada imortalidade.

Hércules ao aceitar, humildemente, executar as tarefas que lhe foram impostas nestes 12 Trabalhos, transforma-se num aspirante. “Como um aspirante, sozinho, lá em embaixo no pé de uma escada, quebra, corta, malha uma pedra bruta que é ele próprio. E, à medida em que vai caminhando na realização de cada Trabalho, vai ele colocando o pé no degrau seguinte – mais alto – onde já segura a pedra de configuração mais detalhada. Um degrau a mais e já aparece com um plano de obras nas mãos. É esta a escada do aprendiz que se educa a si mesmo, até atingir o nível de controlar os seus sentidos, de dominar suas emoções, eliminar os seus vícios. Nesse estágio ele se transforma de aspirante a aprendiz e está em condições de contatar um mestre instrutor”.

“Quando o discípulo está pronto o mestre aparece”. Hércules agora vai caminhar como um aspirante, depois como um discípulo na busca das misteriosas sendas da Sagrada Sabedoria, transformando-se mais tarde num iniciado. Á medida em que vai superando as dificuldades encontradas no caminho, vai galgando novos degraus, novos patamares, até chegar, como um mestre, ao topo da Escada da Perfeição e, finalmente, ascender como um imortal. Ele vai ter que reunir, em si, todas as qualidades próprias de um ser perfeito e entregar-se a serviço da humanidade. Como um iluminado, vai ascender à imortalidade e subir ao Olimpo nos braços de Zeus, como um Deus. Este é, também, o Caminho de todos nós, filhos e filhas de Deus, na Terra.


Os 12 Trabalhos de Hércules! O 12 é um dos mais sagrados números na simbologia numerológica. Ele representa o Caminho da Humanidade: 12 foram as Tribos de Israel; 12 são os Apóstolos; 12 são os grandes deuses do Olimpo; 12 são as grandes religiões do mundo; 12 são os Trabalhos de Hércules; 12 são as constelações que o Sol percorre durante o ano; simbolicamente o Zodíaco passa em volta da Terra através dos 12 signos. Esta é a caminhada zodiacal, é a caminhada de Hércules. É o Caminho de todo ser humano, na Terra!  

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