INTRODUÇÃO
(Da
edição impressa, com revisão)
“Como quer que os
homens se aproximem
de Mim,
mesmo assim eu lhes
dou as boas
vindas, pois todas as
veredas
tomadas pelos homens
são
Minhas.”
(Bagavad-Gita, IV,
II)
Tadução de A. Besant
Este livro embora utilize
Hércules, o maior herói grego, como seu principal personagem, não é,
propriamente, um livro sobre Mitologia Grega. Ele usa a Grécia Antiga como
cenário e a Mitologia Grega como roteiro para levar aos seus leitores preciosos
e úteis ensinamentos sobre o caminhar na senda do esoterismo. É um livro
místico e de busca do autoconhecimento. Fala de coisas espirituais e esotéricas
consideradas misteriosas porque a humanidade ainda não chegou a um estágio de
percepção que lhe permita entendê-las em toda a sua plenitude. Pretende, este
livro, mostrar o Caminho àqueles que, se ainda não o encontraram, buscam
ensinamentos que os levem à iluminação espiritual através da senda mística da
fé. Os Caminhos são vários. Todos eles levam à casa do Pai. Mas o Portal de
entrada é um só. É o ponto no centro do sublime Mandala (1) de onde partem e
para onde convergem todos os raios. O Caminho da Fé liberta o viajante da
pesada carga da inquisição racional que muito limita e faz retroagir o
buscador, numa procura onde somente a intuição é capaz de levá-lo pela mão,
ao portal do Sagrado Templo.
Este livro é como um
Mandala. De seu centro partem raios em todas as direções.
Aborda ensinamentos de
várias e Antigas Escolas de Mistérios, de tradicionais religiões; faz
constantes referências a textos bíblicos e passa, até, por ditos populares, uma
espécie de religião praticada pela sábia intuição nascida das experiências do
ser humano na Terra.
É um livro de busca do
autoconhecimento, porque à medida que o leitor acompanha, no mito, os trabalhos
de Hércules e vai buscar nos ensinamentos dos simbolismos as lições para sua
aplicação no seu dia a dia, está exercitando a máxima do Oráculo de
Delfos:”Homem, conhece-te a ti mesmo”. Conhecendo-se a si mesmo, saberá o ser
humano como encontrar a solução para os problemas que afetam o seu cotidiano.
Os caminhos da busca do
autoconhecimento e os do misticismo juntam-se, encontram-se neste livro. São
eles, verdadeiramente, um só, a conduzir o ser humano à autorrealização, uma
etapa na busca da evolução espiritual. E esta caminhada o leitor vai fazer na
companhia de Hércules, o maior herói da humanidade, em todos os tempos, numa
viagem atemporal no mundo dos deuses da Grécia Antiga.
A religião grega naquela
época - muitas vezes confundida com mitologia – era, na verdade, a relação dos
gregos de então com o divino, religiosa, portanto. É, hoje, o registro
(transformado em lendas e fábulas pelo apoteótico de sua narração através dos
tempos) dos hábitos e costumes de um povo que deixou - resistindo aos milênios
- a marca da sua grandiosidade histórica, da sua inteligência e capacidade
criativas que alimentam a admiração e o respeito de nossa
contemporaneidade.
Confundir com lendas e
fábulas a história religiosa dos gregos antigos é tentar apagar tudo o que
deles aprendemos e admiramos. Os mitos gregos são lendas e fábulas contadas
através dos milênios, com inúmeras variantes cada um, a depender da
criatividade e das fantasias dos narradores e escritores que os passaram.
Mas os deuses gregos que
geraram os mitos são tão reais quanto os nossos deuses, porque são eternos,
imortais, intemporais. São eles as mesmas energias que existiram há milênios,
existem hoje e sempre existirão – porque eternos – e que acompanham com grande
interesse e sublime amor a evolução do ser humano na Terra. São energias
crísticas que desceram à Terra nos primórdios das primeiras raças humanas para
ajudar a humanidade na sua incipiente e insipiente caminhada, que as mais
tradicionais religiões - e correntes de pensamento - através dos tempos, vêm
cultuando como deuses, santos e guias espirituais.
Muitos desses personagens
que fizeram os mitos como admirados heróis - porque se portavam sempre na
defesa da verdade e da justiça - foram seres humanos como nós que, fortalecidos
na fé crística, exercitando poderosa força de vontade, realizando amorosos
serviços de solidariedade humana, tornaram-se homens perfeitos em equilíbrio
com as forças cósmicas: foram alçados a planos espirituais e elevados à
categoria de deuses. Hoje, dos altos planos em que habitam, continuam ajudando
os seres humanos na sua longa caminhada na direção à sonhada imortalidade.
Eram os gregos antigos,
“embora não se ajoelhassem nem se curvassem perante os seus deuses”, muito
religiosos. Cultuavam, em rituais com adoração, suas divindades. Como não estavam,
ainda, impregnados pelas inversões de valores que influenciam tão grandemente o
comportamento da nossa atual chamada Civilização Ocidental e Cristã, permitiam
eles que as energias divinas - os seus deuses - pudessem descer à Terra numa
convivência bem próxima do contexto humano. (O Olimpo, (2) u’a montanha da
Terra, ser morada dos deuses, simboliza muito bem essa proximidade). Estavam os
deuses gregos mais próximos dos homens, porque estavam os homens, bem mais
perto dos deuses, das energias divinas. Energias eternas que continuam a
envolver os quatro cantos da Terra a esperar que o homem retorne do enganoso
atalho que o fez distanciar-se de Deus e retome o Caminho certo do reencontro
com o Pai. Aí, então, verá a humanidade inteira as divinas energias, em
manifestação, descerem dos altos planos espirituais e envolverem os homens num
clima de sublime entendimento. A sagrada meta não é - unicamente - subir aos
Céus, mas também, permitirmos que possam os deuses manifestar-se na Terra, numa
convivência paradisíaca com os humanos, instalando-se assim, aqui, a tantas
vezes anunciada Idade de Ouro, a Nova Era sonhada pela humanidade.
A intenção deste livro é
despertar no leitor a consciência de que Deus não se encontra tão distante dos
seres humanos como procuram mostrar várias das tradicionais religiões. A ideia
que elas passam é que Deus está inacessivelmente instalado, lá em cima, do
outro lado de um profundo fosso como um senhor feudal encastelado; e que a nós,
míseros seres humanos, de um outro lado, só é permitido implorarmos - tementes
a Deus – a divina Misericórdia, pelos erros e pecados cometidos. Misericórdia
que, se conseguida, permitir-nos-á - como se aposentados pelas benesses dos
Céus – atravessarmos o largo fosso e gozarmos - sem nada mais precisar fazer –
a eterna paz celestial. Tal ideia retira do ser humano a sua condição de
filho de Deus, pela absurda separação que cria entre pai e filho (por mais
erros que este haja cometido, principalmente em se tratando do Pai amantíssimo,
que é Deus). Gozar (como aposentados) a eterna paz celestial, subtrai dos seres
humanos a condição de, como filhos de Deus, serem partícipes - com o Pai – da
eterna evolução do Universo, onde nada é estático. Onde tudo vibra em constante
e eterno movimento, envolvendo tudo e todos numa permanente mutação: exigindo
de todos os seres do macro e do microcosmo a participação na execução do
Grandioso Plano de Deus.
Mostra este livro que, a
partir dos bons serviços praticados aqui na Terra, em cada encarnação, vai o
ser humano desenvolvendo o seu potencial divino no caminho da imortalidade. (3)
E, lá chegando - nas divinas dimensões - passa ele a integrar as hostes de
auxiliares do Pai Eterno, a ele fundindo-se e ajudando-o na realização do
Grande e Eterno Plano Cósmico.
A ideia de escrever este
livro surgiu-me a partir de um ”workshop” promovido pela Sociedade Teosófica do
Brasil, Loja Kuthumi (Ser Espiritual de grande luminosidade, a quem devo
reverentemente agradecido a minha súbita e surpreendente conversão, uns vinte
anos atrás, (literalmente) em fração de minuto, de marxista convicto, para o
esoterismo). O curso versando especificamente sobre “Os 12 Trabalhos de
Hércules”, foi ministrado pela professora Sória Maria Lima dos Santos.
Empolgou-me e a todos os participantes, pela erudição e brilhantismo da
expositora, que teosofista das mais ilustres, imprimiu aos ensinamentos um
enfoque teosófico que muito aproveitei para enriquecer este meu trabalho,
puramente místico e de busca do autoconhecimento.
A Mitologia Grega desde
muito cedo me fascinou. Criança ainda (e já faz muito tempo), numa época em que
ainda não havia televisão e as revistas infantis não tinham os apelos das
atuais, os meus grandes ídolos eram os heróis da Mitologia Grega. O sabonete
Eucalol, uma marca então existente, publicava, acompanhando cada caixa dos
sabonetes, figurinhas - as estampas do sabonete Eucalol - com gravuras dos
mitos gregos num lado e, no verso de cada estampa um pequeno texto contando
parte daquele mito. Nas escolas do curso primário era febril a troca das
estampas entre colegas. Eu possuía a coleção de todos os mitos gregos
publicados! Passava horas e horas folheando os vários álbuns com as coleções,
lendo... relendo... e sonhando com os heróis mitológicos. Desses meus álbuns
com as estampas eu não tenho a menor notícia!
Passaram-se os anos... Na Escola de Teatro da Universidade Federal da
Bahia, onde eu estudei - convivi intensamente - através dos autores clássicos -
com aqueles personagens mitológicos... Constituo família... Vieram os filhos...
No genial Monteiro Lobato voltei a encontrar os meus heróis da infância e pude
passar aos meus filhos, lendo e com eles interpretando os personagens
mitológicos como em peças teatrais. Uma das minhas filhas, Júlia Maria, cópia
fidelíssima da boneca Emília, tratava Hércules de: Lelé... Com a mesmíssima
intimidade com que a esperta boneca - na criação de Lobato - tratava o grande
herói!
As contingências da vida, obrigações profissionais, vieram novamente
separar-me dos heróis (e dos meus filhos). Mas, no meu subconsciente
permaneciam guardadas as fantasiosas aventuras daqueles lendários seres...
Chega-me às mãos o convite para o ”workshop”, sobre os mitos gregos, promovido
pela Sociedade Teosófica e tudo voltou ao que era dantes. O meu envolvimento
com aqueles personagens, adormecido, despertou e, eis-me na primeira fila
das cadeiras do brilhante curso ministrado por Sória Maria Lima dos Santos.
Dele nasceu este livro. É um convite para uma viagem aos planos
superiores. E, se o leitor quiser, mesmo, beber a essência dos ensinamentos
nele contidos, deverá despir-se, antes do embarque, de toda a capa da
racionalidade e deixar impregnar-se das sutis energias do sentimento e da
intuição, guias poderosos e capazes de levá-lo ao porto seguro das divinas
paragens.
Se algum leitor, munido desses instrumentos e tendo como mapa de viagem
os caminhos traçados neste livro chegar lá, ele (o livro), cumpriu a sua
finalidade.
Salvador, Ba. 10 de agosto de 2013
(Templo do Mestre Ascenso El Morya
Khan)
Esdras Almada Tosta
esdrastosta@yahoo.com.br
esdrastosta@yahoo.com.br
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