quarta-feira, 13 de novembro de 2013


 6º TRABALHO
OS ESTÁBULOS DO REI ÁUGIAS
O Mito

O reino de Élide, na região do Peloponeso, era governado por Áugias. Na juventude participara ele, juntamente com os mais famosos heróis gregos – inclusive Hércules – como um Argonauta, na lendária busca do “Velocínio de Ouro”. Conseguira, Áugias, com esse fato, uma certa popularidade que, – espertamente aproveitada com intrigas e bajulações – permitiu-lhe acercar-se do governo e assumir o trono de Élide, como poderoso rei. Possuía ele uma característica muito própria: não tinha a menor preocupação com a higiene. Era famoso pela imensa imundície em que vivia. Nos reinos vizinhos todos sabiam das sujeiras desse rei, mas nos seus domínios ninguém as comentava, temeroso de represálias.
Possuía Áugias um imenso rebanho bovino e o gado desse rebanho enchafurdava na fétida lama dos seus próprios excrementos, acumulados há mais de trinta anos. Eram milhares e milhares de bois que se amontoavam semimortos pela podridão daqueles gigantescos estábulos de quilômetros e quilômetros de extensão e que por todo aquele tempo nunca foram limpos. O estrume do gado, acumulado em todos esses anos, foi-se petrificando e formando uma sólida massa que quase encobria e imobilizava os animais, já meio mortos com tanta sujeira. A fedentina era tão grande que ninguém se aventurava a aproximar-se daquela região.

A população toda sofria, doente, com a inalação dos gases tóxicos que exalavam dos fétidos estábulos – cobrindo a região – mas ninguém reclamava com medo de represálias dos prepostos do rei, cada qual mais preocupado em bajular o vaidoso monarca, e, assim, ser escolhido para ocupar altos cargos no governo do reino. De quando em vez festas eram promovidas no reino, alguns bois eram abatidos e a carne distribuída gratuitamente entre a população carente. Era esta u’a maneira que o rei tinha para diminuir as tímidas queixas dos moradores e tentar manter uma popularidade que era sustentada pelo medo. Havia, entre Euristeu e Áugias – cada um monarca no seu reino – uma velada disputa de prestígio perante os demais reinos, cada um dos dois querendo parecer melhor que o outro. Disputa que sempre terminava em empate.
Euristeu, cá do seu reino, conhece os aspectos malcheirosos do seu colega Áugias. Sabe dos seus fétidos estábulos e do mal que eles causam à saúde da população do reino de Élide que vive nas vizinhanças dos ditos estábulos. Arma, então, um plano para provocar o rei Áugias e ao mesmo tempo pensa em angariar simpatias da população de Élide que mora próximo aos estábulos, e que é vítima de seus gases tóxicos. Manda, então, Euristeu chamar Hércules que, meditando, pensando, refletindo, descansa percorrendo os campos de trigo no interior do reino. Hércules se apresenta e Euristeu ordena:

- Hércules! Vá ao Peloponeso, no reino de Élide, limpe os estábulos do rei Áugias e traga aqueles bois para mim!

Hércules, consciente da obrigação assumida de obedecer a Euristeu, não discute a ordem recebida. Com uma reverência ao rei, retira-se de palácio. Segue, então, para o reino de Élide. Vai executar mais um Trabalho.

Chegando aos domínios de Áugias, segue direto para a região dos estábulos. E, após andar por algum tempo percebe que se está aproximando dos tais estábulos porque vai sentindo no ar e cada vez aumentando mais, um forte mau cheiro, um fedor insuportável. Mas, curiosamente, as pessoas com quem Hércules vai se encontrando, não sentem aquele mau cheiro. Sabem dos estábulos, mas não sentem a fedentina que os estábulos espalham, nem têm consciência do mal que ela faz.
Dirige-se Hércules para onde ficam os estábulos e logo de longe, põe-se perplexo, pelas suas enormes dimensões. Cobrem os estábulos uma grande área de um terreno de baixada, e, pelo visto já àquela distância, está repleto de gado. Com muito esforço, enfrentando a forte fedentina que se espalha por toda a área, aproxima-se mais, acerca-se dos estábulos. A perplexidade de Hércules aumenta ao ver o repugnante quadro de imensa sujeira à sua frente. Os bois – aos milhares – ocupam, amontoados, todas as áreas dos imundos estábulos e mal podem mover-se, afundados que estão na lama infecta dos seus excrementos, que cobre toda a área.
Resolve Hércules então, fazer um reconhecimento da posição do “inimigo”, no caso a sujeira dos estábulos do rei Áugias. E enquanto vai pensando, meditando, refletindo sobre o que o espera neste Trabalho, segue contornando os enormes estábulos, envolvido sempre pela forte fedentina. Caminhando em volta dos estábulos, passa por uma área onde correm nas proximidades, num ponto mais elevado do terreno, dois rios de límpidas águas: o Alfeu e o Peneu.
Hércules segue em frente, acompanhando sempre o contorno dos estábulos. Concluída a fase de reconhecimento, para Hércules sob uma árvore e vai meditar, pensar, refletir no que fazer. E pensando, refletindo, meditando adormece. E adormecido tem um sonho. No sonho aparece-lhe a deusa Atena que lhe diz: ”o que elimina sujeira é água limpa!” Ele desperta. Lembra-se dos dois rios – Alceu e Peneu – que vira ao passar no seu “reconhecimento”. Percebe que os rios correm a montante dos estábulos e uma ideia ocorre-lhe, e que se posta em prática, vai resolver o problema da limpeza dos estábulos.
Mas existe um outro problema: lembra-se Hércules que Euristeu lhe ordenara limpar os estábulos e levar o gado para ele, Euristeu. Mas “o rebanho não é de Euristeu. O gado é do rei Áugias. Mais uma vez está querendo Euristeu, desonestamente, uma coisa que não lhe pertence!” e assim conjecturando, lembrando-se talvez do episódio da corça dos chifres de ouro da deusa Ártemis, resolve Hércules ir procurar o rei Áugias.
Apresenta-se em palácio e é conduzido á sala do trono, onde está Áugias cercado de todos os seus ministros e assessores. Quando Áugias vê aquele gigantesco homem, musculoso, vestido numa pele de leão, a lhe propor limpar, sozinho, os seus imensos estábulos, dá enormes gargalhadas. No que é acompanhado por todos os seus ministros e assessores que, curiosos a tudo assistem e ouvem. “Para limpar os meus estábulos – pensa Áugias – “necessito de uns cem homens! E por mais que eu tenha procurado, nenhum ainda aceitou, até agora, participar de tal empreitada, com medo dos mortíferos gases dali emanados...”
Hércules não se impressiona com as gargalhadas de Áugias – nem das de seus ministros e assessores. Reafirma sua proposta de limpar aqueles estábulos, se Áugias concordar em pagar pelos serviços, dez por cento do gado que for salvo. Áugias sabendo que o gado morreria todo se os estábulos não fossem limpos, e totalmente incrédulo quanto ao sucesso de Hércules, responde, com voz falsamente solene, num humor forçado que arranca dos ministros e assessores discretos risos de cumplicidade e bajulação:

- Proposta aceita! Como pagamento pelos serviços de limpeza dos meus estábulos, você receberá dez por cento do gado que for salvo!

Volta Hércules então para a região dos imundos estábulos, pensando: “Se Euristeu quer o gado para ele, e Áugias, em pagamento, me dá dez por cento do rebanho salvo, eu darei o gado que receber – e são muitos bois – para Euristeu. Problema resolvido!” E vai por em prática a ideia que tivera a partir do sonho com a deusa Atena, quando ela lhe dissera: “o que elimina sujeira, é água limpa!” A ideia era desviar as límpidas águas dos rios Alfeu e Peneu que correm a montante dos estábulos para dentro destes, e deixar que as águas correntes façam a limpeza, arrancando dali aquela podridão de sujeira e arrastando com elas a lama fétida dos excrementos arrancados. Como o empuxo de cada um dos rios, isoladamente, não era bastante forte para a realização dessa limpeza, tem Hércules, primeiramente – desviando o leito de um – que juntar os dois rios. Depois, desviou este leito, bem mais caudaloso, portanto, para dentro dos estábulos. Trabalho relativamente fácil... (para Hércules!) e que foi feito em curto espaço de tempo. As águas invadem os estábulos, lavando-os completamente e levando com elas toda a podridão e sujeira.

Mas surge um novo problema: as águas que, forte, levam a sujeira dos estábulos, arrastam, também, com elas, os bois! E lá se vai o gado todo descendo, arrastado pelas águas, rio abaixo, misturado com a sujeira. Hércules, aturdido, entra em pânico. Tem que salvar aquele gado que vai sendo levado. Aproveita uma curva existente a jusante do rio, pede ajuda a dois caminhantes que passavam e, com a ajuda deles, faz uma barragem de pedras que dá passagem ás águas com as sujeiras, mas retém o gado. Salva, assim, quase todo o rebanho. 
Salvo o rebanho, lá vai Hércules conduzindo aqueles milhares de bois para o rei Áugias, para juntos contarem o gado e fazer a partilha combinada. Ele então levaria o gado que lhe coubesse em pagamento pelo serviço prestado, para Euristeu, como lhe fora por este ordenado. Chega, assim pensando, com o imenso rebanho a palácio, onde é introduzido (evidentemente sozinho...) na sala do trono, a mesma onde fora anteriormente recebido. Em volta do trono onde se senta Áugias estão os mesmos ministros e assessores que ali estavam da vez anterior. E Hércules diz:

- Eis aí o seu rebanho salvo e os estábulos estão limpos. Agora vamos contar o gado e dividirmos: Dez por cento a minha parte e a outra parte sua. Foi o pagamento que acertamos pelos serviços de limpeza dos seus estábulos!

- Nada disso! Você está louco! Limpou os meus estábulos e eu pago – sou um homem honesto – sou um Rei! Mas pago pelo tempo que você levou fazendo o serviço, que, por sinal, não deve ter sido muito, porque você gastou bem pouco tempo para realizá-lo...

- Mas foi o que nós combinamos. Acertamos que eu receberia pelos serviços de limpeza dos estábulos, dez por cento do rebanho que fosse salvo. O tempo que eu gastei no serviço não importa. Eu tive que desviar as águas de dois rios para limpar os estábulos... Diz Hércules.

- E depois – retruca Áugias – o gado morreu quase todo!

- O que nós acertamos é que eu receberia dez por cento do gado salvo... Responde Hércules. 

- Que fique você com os bois que o rio levou... Arremata Áugias.

- Hércules então voltando-se para os ministros e assessores, os mesmos que estavam da vez anterior e que assistiram ao acerto:

- Vocês todos estavam aqui, quando acertamos o pagamento pelo meu trabalho. Ouviram o que foi acertado... foi ou não foi acertado que eu receberia dez por cento do gado salvo, em pagamento pela limpeza dos estábulos?

Todos, desviando os olhares do olhar de Hércules, mantêm-se mudos. Hércules insiste na pergunta. O mutismo continua. Hércules continua insistindo, desta vez interrogando diretamente um dos ministros, o de aparência mais respeitável:

- O senhor estava aqui, neste mesmo lugar. Assistiu a tudo o que foi combinado... Diga, se o trato foi ou não foi este?

- E o ministro, o de aparência mais respeitável, desviando sempre o seu olhar dos olhos de Hércules, responde:

- Eu... Eu não me lembro de nada... Eu só sei que o nosso rei Áugias é muito honesto... honestíssimo. É um Rei. E se ele diz que acertou o pagamento pelo tempo gasto na execução do serviço, é porque assim foi.

- Hércules passa um demorado olhar, encarando todos aqueles homens, ditos ilustres, ali presentes. Lembra-se que, sob seus mandos e desmandos estava sujeita toda a população daquele infeliz reino. Tem um ímpeto de revolta e uma enorme vontade de acabar com todos eles, ali mesmo. Mas, pensando, meditando, refletindo, contém-se. Readquire a calma. Voltando-se para Áugias, encara-o, e com voz pausada e firme, diz-lhe:

- Trato é trato! E tem que ser cumprido! Ou você me dá os dez por cento do rebanho salvo que eu tenho direito, ou eu levarei o rebanho todo, comigo!

A ameaça de Hércules foi feita com tamanha segurança, com tanta firmeza na voz, com uma postura tão centrada, que Áugias não teve dúvidas de que ele a cumpriria... E concorda em pagar a Hércules os dez por cento do gado, alegando, embora, nunca haver concordado – e que nem sequer tinha discutido aquele pagamento – mas que aceitava por “pura bondade...”
Deixa Hércules o rebanho de gado para Áugias e volta para Micenas com os dez por cento de gado ganho pelo serviço que prestou ao Rei. Chegando a Micenas vai a palácio e entrega a Euristeu aquele imenso rebanho. Euristeu não sabe o que fazer com tanto gado. Morto de medo corre e se esconde no vaso de bronze e nem quer ver a imensidão do rebanho.
O que vai Hércules fazer com todo aquele gado?!
Ele distribui o gado com os pobres, com os famintos, ficando com alguns bois, necessários para a sua manutenção por alguns dias.

Simbolismos e ensinamentos

No simbolismo da Numerologia o 5 (4+1) representa “o poder no homem”. Os quatro corpos inferiores somados ao poder espiritual – superior – representado pelo número 1, o Princípio de tudo, onde tudo se inicia: 4+1= 5. O número 6 (5+1, o Poder Espiritual=6) representa o homem com o poder. Este Trabalho, o sexto de Hércules, mostra com muita clareza a presença do homem (o rei Áugias) com o poder (o reino).
O Poder emana de Deus, porque somente Ele o possui, em essência. Mas, é o homem em si, uma centelha divina. Possui, portanto, uma parcela, infinitamente pequena, do Divino Poder. Pelo livre-arbítrio que cada ser humano tem, pode esta pequena parcela de poder, ser usada por ele bem ou mal. Como Poder, sendo uma qualidade divina é sempre bom. Se, porém, o ser humano – pelo livre-arbítrio – usa-o mal, deturpando, deformando-o, entra em choque com o equilíbrio das leis cósmicas, gerando pesados carmas (débitos) que ele deve resgatar, nesta vida, com sofrimentos que nem ele mesmo tem consciência dos porquês desses acontecimentos, dolorosos, o envolverem; ou, então, tais dolorosos acontecimentos não afloram agora, nesta encarnação – o que é bem pior – porque ele vai ter que resgatar, com maiores sofrimentos, em futuras reencarnações aqui na Terra, os densos carmas agora gerados.

(A imundície de Áugias)

Simboliza tal imundície a sujeira dos seus atos no cotidiano. A imagem de uma pessoa que não se preocupa em fazer as coisas decentemente. Já é famoso – todo mundo já sabe que ele é trapaceiro, desonesto, embora não comentem – no reino – com medo de represálias. O seu rebanho vivia na imundície, porque os atos de uma pessoa desonesta, trapaceira, são o reflexo, o resultado mesmo de sua personalidade. Essa pessoa não está desonesta. Ela é desonesta! E pelo tamanho do rebanho que, na sujeira, Áugias possuía, poder-se-á medir as dimensões de sua desonestidade e que foram mostradas no correr do mito. A desonestidade é como a podridão. Exala enorme fedentina que ninguém – honesto – pode chegar perto, fazer contato, realizar algum negócio, fazer qualquer trato, porque o que sempre acontece, no final, é o desonesto querer sempre ludibriar a outra parte – como tentou Áugias.

(As pessoas com quem Hércules se encontra não sentem o mau cheiro, nem possuem consciência do mal que a fedentina pode causar)

É o inconsciente coletivo. O ser humano tem enorme capacidade de adaptar-se a condições negativas. Habitua-se de tal forma à convivência de condições adversas que nem sente os efeitos danosos que tais situações lhe trazem. Os hábitos, costumes, situações, vivências - deformados – vão sendo passados de pessoas a pessoas, de uma geração para outra geração e as pessoas continuam ignorantes de serem elas as grandes vítimas das várias fedentinas que, inconscientemente, enfrentam pela vida. Não sentem o mau cheiro que as cercam, nem percebem o mal de que são vítimas. Vão pela vida afora repetindo e acostumando-se com as deformações e, assim, com o passar do tempo, o que é ruim, pernicioso e fedorento, passa a ser tido como útil, bom e agradável! Foi isto o que aconteceu com os moradores do reino de Élide. Além do medo de represálias, eles acostumaram-se com a podridão e o mau cheiro dos estábulos de Áugias. Esqueceram-se de que ainda existem jardins, com aroma de flores.

(A deusa Atena aparece a Hércules em sonho e lhe diz: “o que elimina sujeira é água limpa”)

Quando nós (os seres humanos) optamos pelo caminho da evolução espiritual e sozinhos transpomos os obstáculos das primeiras provas, no aspirantado, passamos a receber uma constante ajuda dos planos superiores, das forças espirituais. No princípio, nem sequer percebemos. Depois surpreendemo-nos com as constantes “coincidências”. Finalmente conscientizamo-nos da efetiva presença dessa divina ajuda e compreendemos que não estamos sozinhos no caminho que escolhemos para trilhar. As ajudas chegam através de mensagens manifestadas de maneira as mais variadas, inesperadas e surpreendentes. Daí a necessidade de estarmos sempre vigilantes. É numa frase que lemos ou ouvimos por acaso; numa conversa existente entre duas pessoas, às quais nem conhecemos e cuja conversa não teríamos o menor interesse em ouvir; vem por uma notícia que não procuramos e que é divulgada num jornal, no rádio ou num canal de TV...
Chegam, por vezes, em pequeninas coisas como o canto de um pássaro, o voar de uma borboleta, o nascimento de uma flor. Até um pequenino inseto pode trazer-nos u’a mensagem. Muitas dessas mensagens chegam-nos através dos sonhos. Sonhos de que nos lembramos ao acordar e cujo simbolismo não sabemos decifrar; sonhos de que não nos lembramos, mas que deixam a mensagem no nosso subconsciente e mais tarde afloram ao consciente com bastante clareza; temos, às vezes, “insights”, boas ideias que, de repente nos surgem, não sabemos como, nem de onde vêm.
Quantas vezes – e isto acontece com regular freqüência – a gente para diante de um obstáculo, sem saber como superá-lo. Tenta, em vão, encontrar uma solução que não aparece. Cansados adormecemos. E ao despertar, sem mesmo voltar a procurar, a solução nos surge em forma de ideia, resolvendo o problema, antes aparentemente insolúvel.

(Hércules recebe, em sonho, a mensagem de Atena, a deusa da Justiça: “O que limpa sujeira é água limpa!” Entende o seu significado e aplica, na prática, com sucesso, o divino ensinamento)

Entretanto, para obtermos tais ajudas, é necessário que sempre ajamos com justiça; com honestidade em tudo o que fazemos ou pretendemos fazer; que eliminemos a ansiedade de nossas emoções e, serenamente, coloquemo-nos em sintonia com o equilíbrio das forças cósmicas. E, se o que almejamos é justo e correto, essa sintonia com o equilíbrio cósmico (com as forças divinas) vem, e certamente descobriremos as límpidas águas que lavarão as sujeiras dos nossos infectos estábulos.
O famoso poeta e místico alemão, Goethe, escreveu:“Em relação a todos os atos de iniciativa e de criação, existe uma verdade elementar: No momento em que nos compromissamos, a Providência Divina também se põe em movimento. Todo um fluir de acontecimentos surge a nosso favor. Como resultado da decisão, seguem todas as formas imprevistas de coincidências, encontros e ajuda que nenhum homem jamais poderia ter sonhado encontrar. Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhar você pode começar. A coragem contém em si mesma, o poder, o gênio e a magia com Deus”.

(As águas levam a sujeira, mas levam, também, o gado)

Água simboliza, sempre, emoções. Na hidra de Lerna Hércules enfrentou as densas emoções das águas do pântano (água/terra) em nível terreno; nas aves do Lago Estínfalo, enfrentou, ele, as emoções (lago=água estagnada) em nível astral (as aves voavam) com o címbalo de bronze, presente dos deuses. Neste Trabalho ele usa água (emoções) em níveis positivos. Não as águas (emoções) perniciosas do pântano (água/terra/lama), ou as do lago (água represada com lamaçal no fundo), mas águas límpidas (corrente) dos rios Alfeu e Peneu desviadas, formando outra corrente (também límpida) canalizada para finalidades meritórias: lavar sujeiras, limpar.
Esta emoção positiva devemos cultivar. É ela que nos faz sentir a beleza das coisas belas. Leva-nos ao êxtase da admiração ao contemplarmos o equilíbrio (uma qualidade divina) de uma obra de arte; ao ouvirmos, contritos, uma sinfonia de um iluminado mestre da musica; ao presenciarmos – no palco ou na vida real – uma cena de grande beleza e equilíbrio. Ao deslumbrarmo-nos com as infinitas formas – magníficas em sua beleza – que nos mostra a natureza.
(Por que as límpidas águas levam também o rebanho?)

Porque foram usadas em demasia. As emoções, mesmo as positivas, devem ser usadas na dose certa. Devemos evitar os excessos; não nos deixar arrebatar pelos exageros. Essa atitude moderada deve ser usada, na vida prática, em todos os sentidos. Seja na admiração por uma manifestação de beleza; seja na prática de qualquer ato ou ação que executemos; até mesmo quanto ao fanatismo nas ações e hábitos religiosos. Devemos, sempre, seguirmos o Caminho do Meio, como ensina o amado Senhor Buda.

(Hércules pede ajuda a dois caminhantes)

Mesmo possuindo um adiantado nível espiritual, precisamos da ajuda das forças terrenas - onde nós vivemos e delas participamos - para a nossa caminhada na busca da perfeição. No instante em que, envolvidos pelas emanações das divinas energias, usarmos corretamente os aspectos terrenos, estaremos equilibrando as polaridades céu/terra e fazendo fluir beneficamente o aspecto positivo/negativo das energias cósmicas. Os dois rios, o Alfeu e o Peneu representam esses dois aspectos. A junção de seus dois leitos num só, feita por Hércules marca, muito bem, o simbolismo da união das polaridades, neste Trabalho.
(Discutir com Áugias a divisão do rebanho)
Mesmo que adiantados na senda espiritual, não devemos ficar alheios às questões terrenas, distantes dos problemas de cada dia, afastados dos assuntos que envolvam a vida material, onde todos nós, seres humanos, estamos num contato permanente. Dissociarmo-nos dessas questões – e vivermos isolados, voltados somente para os aspectos espirituais – é um comportamento grandemente prejudicial ao desdobramento do nosso quotidiano, geralmente com resultados altamente negativos. Representa, também, nos planos superiores, um desequilíbrio nas polaridades da energia cósmica positivo/negativo, yin/yang, céu/terra, representando, assim, uma deformação da natureza divina.

(Invocar o testemunho do ministro de “aparência a mais respeitável”)

Mostra, este ensinamento, que as aparências enganam mesmo! Nem sempre o que parece ser, é. Manda-nos, o ensinamento, precavermo-nos dos julgamentos precipitados, antecipados, levados sempre pelas aparências. Mostra, também, que o fato de uma determinada pessoa ocupar eventual - ou demoradamente – um cargo ou exercer uma função de relevância, em qualquer área da atividade humana, seja na área pública ou privada, religiosa, política etc., não significa que ela seja honesta; que ela seja uma pessoa correta. O fato de ser um rei, não é garantia de que seja honesto, honestíssimo... E isto vale, também, para o outro lado da moeda: nem sempre o que nos parece feio, insignificante (no caso de pessoas) ou, mesmo, mau, é exatamente o que prejulgamos ser. Daí ser aconselhável evitar, o mais possível, os julgamentos antecipados.

(“Trato é trato! E é para ser cumprido!”)

Disse Hércules, uma sentença, um axioma. Um decreto de força cósmica. É a força da palavra empenhada que atua no ser humano – em estado de equilíbrio – como um poderoso selo a garantir o cumprimento do que foi assumido. “A força da Palavra falada” é como um mantra que dito na correta vibração cósmica emanada do quinto chakra, o da garganta - como foi pronunciado por Hércules – ecoou no subconsciente de Áugias como uma ordem para ser cumprida. E este, sem nem saber o porquê concordava, concordou.
É a “força da Palavra falada” corretamente empregada funcionando quando a mentira, a falsidade, o sofisma, tenta ofuscar o brilho da verdade e da Justiça. É o Poder da verdade (qualidade divina) que ao chegar, ilumina com a sua forte luz, os sombrios recantos da consciência humana, fazendo desaparecerem as trevas (deformações) criadas pelo embuste e pela mentira.
No dia a dia da vida devemos ser compreensivos sempre, tolerantes, conciliadores, flexíveis, gentis e amáveis. Há instantes, porém, em que temos de usar a força do poder de que dispusermos no momento. É quando os valores estão sendo invertidos e as deformações da mentira, dos interesses egoísticos, escusos, da desonestidade insistem em prevalecer sobre a verdade, a transparência no agir, a honestidade no fazer. Foi num desses momentos que Hércules usou, com precisão, o Poder nele investido – pelo Conhecimento – para fazer prevalecer a verdade que Áugias tentava – espertamente – encobrir. E, em nossa vida diária, se usarmos (com a verdade) corretamente, com segurança, a exata vibração da “Palavra Falada” os resultados se farão sentir.

(Hércules distribui o gado com necessitados e famintos)

À medida em que evoluímos no caminho espiritual vamos aumentando o nosso sentimento de amor pela humanidade; vamos alimentando com o nosso sentimento – a cada instante mais refinado - a chama rosa do amor que existe em nossos corações e que nos põe numa direta vibração solidária com os sofrimentos e necessidades dos nossos irmãos mais carentes e leva-nos à realização de trabalhos amenizadores dessas carências e sofrimentos.

Até então cumpriu Hércules tarefas que lhe foram ordenadas por Euristeu; a partir de agora, no seu grau de evolução espiritual, passa ele a realizar, também, por si mesmo, trabalhos de ajuda a terceiros, prestando serviços de solidariedade humana e de ajuda à humanidade.

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