quarta-feira, 13 de novembro de 2013


5º TRABALHO
AS AVES DO LAGO ESTÍNFALO
O Mito
Decorrera já seis meses que Hércules realizara o seu último Trabalho. Enquanto repousa - aguardando um novo chamado de Euristeu – vai percorrendo as pradarias tranquilas do interior do reino; vai meditando, refletindo, silenciando a mente, e aumentando, assim, os seus conhecimentos sobre as coisas sagradas.

No palácio real, em Micenas, a situação é desesperadora! Euristeu não sabe o que fazer. A todo instante e de todas as partes do reino chegam mensagens trazendo as mesmas notícias e pedindo urgentes socorros. O reino inteiro está sendo invadido por gigantescas e ferozes aves de metal! Aparecem aos milhares, em bandos, dizimando os rebanhos, atacando os seres humanos, que devoram vorazmente com enormes garras e bicos de aço. Suas penas de metal, invulneráveis a quaisquer flechas, são atiradas como mortíferas setas sobre quem seja avistado, e que não tem a menor chance de escapar.

As ferozes aves – informam as mensagens – surgidas ninguém sabe de onde, fazem a sua base no Lago Estínfalo, na longínqua região da Arcádia. Saem todas as manhãs – sempre às seis horas – para as suas buscas assassinas por todas as regiões do reino, durante o dia, voltando ao anoitecer, para as águas do Lago. O pânico é geral! As populações, assombradas, não sabem o que fazer. Pedem, todos, urgentes socorros contra as mortíferas aves do Lago Estínfalo.

Euristeu, em total desespero, também não sabe o que fazer, e nem como atender a tão dramáticos apelos. De repente, ele para no meio do seu desespero, e esboça um perverso sorriso de quem possui um plano diabólico: “Como eu não tinha pensado nisso antes?!” - Fala consigo mesmo o malvado. - “As benditas aves do Lago Estínfalo! Está aí um trabalho que nem mesmo Hércules pode fazer.” E manda chamar Hércules.

Chega Hércules a palácio e logo fica sabendo das aves do Lago Estínfalo. São elas o assunto de todas as conversas e comentários. Até mesmo a população de Micenas, a capital do reino, está em pânico com as notícias – não confirmadas - de que as temidas aves já teriam atacado em regiões não muito distantes dali. Hércules apresenta-se a Euristeu, e este, disfarçando um sorriso de desafio, ordena:

- Vá lá! E mate todas estas tremendas aves do Lago Estínfalo! Elas estão pondo em risco todo o reino!

Hércules curva-se humildemente e sai para cumprir mais um Trabalho. Realizar mais uma tarefa ordenada por Euristeu. Volta, então, para a distante Arcádia, região onde já estivera na busca do Javali do Erimanto. Vai primeiramente conhecer a base de pernoite das perigosas aves, para então saber como agir; o que fazer. Enquanto caminha para a longínqua Arcádia, vai pensando, meditando, refletindo sobre este seu novo Trabalho.

Hércules já não é mais um simples aspirante no caminho da evolução espiritual. Passada essa fase, é ele, agora, um aplicado discípulo dos ensinamentos divinos, possuindo, já, um bom grau de conhecimentos esotéricos e uma considerável capacidade intuitiva. E um aspecto deste seu Trabalho o está intrigando: “Como”, - pensa ele – “aves que vêm do céu – de planos mais altos – podem estar causando males na Terra?!...” Assim refletindo, chega ele à região da Arcádia e se dirige para o Lago Estínfalo, onde dormem as aves antropófagas.
Como medida de segurança, já que as perigosas aves retornam sempre ao entardecer – como lhe informaram em Micenas – chega cedo, durante o dia. Percorre, com muito cuidado, as margens do lago e vai encontrando, por toda parte, ossadas humanas e dos animais devorados pelas ferozes aves. Não encontra uma ave sequer. Chega à beira do lago e descobre ter muita lama lá no fundo. Escolhe então um estratégico local de observação no alto de frondosa árvore próxima. Nele se instala e aguarda, pacientemente, no entardecer, a volta das aves.

Lentamente o dia vai passando, o entardecer vai chegando, a noite aproximando-se. De repente, de todos os lados, como imensas nuvens a cobrirem os últimos raios do sol, surgem, em imensos bandos, as gigantescas aves, que no fim do entardecer refletem, nas suas penas de metal, o brilho dos últimos raios de sol (o Carro - de – Apolo). Um dissonante tinir de metais toma todo o espaço e o rouco som partido daqueles milhares de bicos de aço chegam, por um instante, a atordoar Hércules que lá do seu estratégico ponto de observação não tem a menor ideia de como enfrentar o tão poderoso inimigo.
Escurece no Lago Estínfalo e as monstruosas aves silenciam o seu terrível ruído. O silêncio é grande. Do seu ponto de observação continua Hércules meditando, pensando, refletindo. Sabe ele – intuitivamente - ter de encontrar um meio de enfrentar aquelas aves. Mas não sabe como. E no silêncio da noite, enquanto lá no alto do firmamento os astros e estrelas iluminam, em minúsculos pontos de luz, os céus da Grécia – o mundo então conhecido – Hércules, cá embaixo, postado em uma árvore às margens do Lago Estínfalo, pensando, meditando, refletindo, procura um meio de enfrentar as perigosas aves que ali perto dormem. E assim, pacientemente, aguarda o amanhecer do dia, quando aquelas aves – informaram-lhe em Micenas – às seis horas da manhã costumam levantar voo.

O dia amanhece e exatamente às seis horas da manhã - e Hércules sabe o horário pela posição do sol - como se fossem movidas por um só impulso, todas as aves alçam voo. Cobrem, novamente, a luz do sol e seguem rumo ao Sul nas suas sinistras viagens diárias.
Pensa Hércules: dentro do lago, lamoso como é, não teria ele a menor condição de enfrentá-las com a sua clava. Além disso, ele se atolaria na lama e seria presa fácil para as aves. Restava-lhe, somente, o uso das flechas. Mas, como usá-las, se as penas metálicas das aves as tornavam invulneráveis a quaisquer setas? E, depois, suas flechas – embora a aljava estivesse cheia delas – eram pouquíssimas, em relação à quantidade das aves. Mas mesmo assim, ele iria usá-las. Afinal de contas – pensa – suas flechas são bem mais fortes e o impacto por elas causado é bem maior do que o das setas comuns, usadas por qualquer outro ser humano.
Se as aves somente atacam de dia é porque algo as impede de atacarem à noite. Logo – pensa Hércules – “Eu vou atacá-las à noitinha, no retorno delas. Porque no caso de um contra-ataque, com a chegada da noite, elas se recolherão”. E após verificar a segurança do seu esconderijo, prepara Hércules o seu arco e flechas e aguarda, pacientemente, a chegada do entardecer. E o dia vai passando. O Sol – o Carro-de-Apolo – desponta no Oriente e percorre seu caminho no espaço sideral... Descamba para o Ocidente... E Hércules – pacientemente – mantém-se ali, esperando. O dia vai se acabando... O entardecer vai chegando. Pela posição do Sol – o Carro-de-Apolo – sabe Hércules que está bem próxima a hora decisiva e que não tarda a chegar.

Já é de noitinha quando u’a imensa nuvem de aves gigantescas cobre o espaço do Lago Estínfalo, prontas para o pouso. As rápidas setas de Hércules rasgam, com finos assobios, o espaço, e vão bater em cheio nos metálicos peitos das enormes aves e se ouve um tilintar de metais. As aves atingidas, entontecidas pelo impacto dos flechaços vão perdendo altitude e por um instante parecem cair. Retornam o voo e uma saraivada de penas metálicas é distribuída para todos os lados. Hércules continua atirando flechas, mas nenhuma ave é derrubada. A noite cai e as aves descem ao lago para dormir.
Hércules desesperado sente-se completamente impotente para enfrentar aquelas aves, simplesmente porque não dispõe de quaisquer recursos ou meios para combatê-las. Elas atuam no espaço, no alto, local de impossível acesso para ele. E o seu desespero aumenta. E desesperado lembra-se da hidra de Lerna que ele matara no pântano, e do sangue dela altamente venenoso. Sangue que espalhado pelo pântano envenenara toda a água com um veneno que, apenas uma gota, possuía enorme poder letal. Lembrando-se desesperado, do sangue altamente venenoso da hidra, vai à Lerna, e embebe todas as suas setas na água do pântano, envenenada pelo sangue da hidra.
Com todas as setas embebidas no mortal veneno da hidra de Lerna colocadas na aljava, volta Hércules ao Lago Estínfalo para matar as ferozes aves. Vinha com a esperança de que as setas envenenadas pudessem, de algum modo, romper a invulnerabilidade das aves. Chegando ao Lago Estínfalo tenta Hercules, com as suas flechas, mesmo envenenadas, e não consegue, sequer, matar uma ave. E continua tentando... E o tempo vai passando, passando, e ele não mata uma só ave. E todas as manhãs quando elas alçam voo e somem no horizonte, sabe Hércules que vão levando o terror e a morte por onde passam, e ele, impotente, não consegue matar uma sequer. Com o morticínio diário de pessoas e rebanhos elas já representam um perigo para todo o reino e para toda a Grécia (o mundo então conhecido), e o desespero de Hércules cada dia fica maior, por sentir-se incapaz de evitar aquele morticínio. Ele sabe que tem de realizar o Trabalho! Tem que cumprir a tarefa! O seu desespero vai aumentando, e ele tentando sem nada conseguir. Cada vez mais desesperado, quase enlouquecido, fica sem saber o que fazer!
E as aves continuam diariamente levantando voo e sua sombra cobrindo o horizonte. E o desespero de Hércules cada dia aumenta mais porque ele tem consciência de que tem que matá-las. É a sua missão. Mas não sabe como cumpri-la! Sente-se totalmente sem condições de fazê-lo. Assim desesperado lembra-se das palavras de Euristeu: “Elas estão pondo em risco o reino inteiro!” E Hércules se dá conta de que não é, somente, uma região, uma pessoa que está sendo vítima da ferocidade daquelas aves, mas “o reino inteiro” é vítima de seus atos destruidores. No auge do desespero ele sente, intuitivamente, que aquelas aves representam uma ameaça à sobrevivência da própria humanidade e que destruí-las é a prestação de um serviço à humanidade inteira, de salvação de toda a Grécia (o mundo então conhecido). As perigosas aves devem ser detidas e mortas, e matá-las é a sua missão. Mas ele não sabe o que fazer. Sente-se totalmente impotente. E percebe, com sua intuição de discípulo avançado na senda, o risco que corre a humanidade toda (o reino inteiro) com a presença devastadora dessas aves.
Diante de uma visão tão aterradora e totalmente impotente para realizar a importante missão, Hércules chora. Chora profundamente. E chorando desesperado, copiosamente, implora a Zeus – o seu Pai – que o ajude neste Trabalho, de grande importância para a preservação da humanidade. Zeus, lá do Olimpo, vendo a aflição do filho, ouve os seus soluços e atende à sua súplica. Chama Héfesto, o deus do Fogo, o ferreiro do Olimpo, conhecedor de todas as ligas e metais, o forjador dos raios de Zeus, e manda que ele ajude Hércules. Héfesto então vai às suas fornalhas vulcânicas e após preparar uma liga de bronze muito especial, constrói com ela um címbalo e dá a este címbalo a faculdade de vibrar um som tão estridente, que nenhum ouvido humano possa escutá-lo. Concluído o trabalho, pronto o formidável címbalo desce Héfesto do Olimpo, transportado no seu carro de fogo, ajudado pelo deus Apolo, acompanhado da deusa Atena e do deus Hermes. Descem até Hércules que no auge do desespero continua, em prantos, contrito, implorando a ajuda de Zeus. E os quatro deuses entregam a Hércules o especial címbalo de bronze. Héfesto diz-lhe:

- Na hora certa em que teu coração ditar, bate este címbalo. O retinir do som (que não ouvirás) será tão terrível que verás o resultado.

Hercules não matara, ainda, uma ave sequer. Volta atentamente a observar o movimento das aves. Elas levantam voo exatamente às seis horas da manhã e retornam para o lago às seis horas da tarde. E Hércules observando atentamente – pensando, meditando, refletindo – percebe que existe um exato momento, especial, que é o instante em que todas as aves levantam voo. Todas, no mesmo instante, alçam voo e de repente cobrem o horizonte, como se obedecessem todas juntas a u’a mesma ordem, a um mesmo comando.
Hércules fica atento, observando cuidadosamente, todas as manhãs, no mesmo horário, os instantes que antecedem o alçar do voo e o exato momento do seu início. Muito atenciosamente não perde um só detalhe. Numa manhã, então, resolve Hércules acionar aquela arma – o címbalo – presente dos deuses, contra as aves. Prepara-se! Címbalo na mão. Sentidos alertas! E, no momento exato em que as aves alçam voo, ele aciona o címbalo. Imediatamente invade o espaço o retinir de um som estridente – de tantas e tais vibrações – inaudíveis para Hércules, mas de efeitos extraordinariamente sentidos. As grandes aves completamente atordoadas – desestabilizadas no espaço – nos seus voos velozes chocam-se violentamente, umas contra as outras e vão caindo, todas mortas, no lago.
Hércules vai atirando todas as suas flechas envenenadas, deixando apenas uma na aljava. Terminada as flechas – à exceção da única que ficou na aljava – senta-se Hércules à beira do lago e, deslumbrado, fica assistindo à total destruição das perigosas aves que punham em perigo a preservação da própria humanidade.
Uma vez mortas todas aquelas aves, a paz e a harmonia voltam a imperar em todo o reino. Hércules, do mais profundo do seu ser, formula uma prece de agradecimento ao Pai que o ajudou neste difícil Trabalho. Apanha uma das penas que caíra à margem do Lago Estínfalo e a leva para Euristeu como prova do cumprimento do Trabalho. Euristeu quando vê aquela enorme e estranha pena de metal brilhando nas mãos de Hércules, pensa que é uma arma, e, morto de medo, corre e se esconde no jarro de bronze!

Simbolismos e Ensinamentos

Na simbologia dos números, o 6 (os seis meses que Hércules passa aguardando novo chamado de Euristeu, as seis horas, da manhã e da tarde, quando as aves alçavam voo ou retornavam para o Lago Estínfalo) representa aqui,a conclusão de um Trabalho perfeito. (Foi no sexto dia que Deus concluiu todo o trabalho e Sua Criação, e descansou no sétimo). Um trabalho só é perfeito quando elaborado obedecendo-se ao equilíbrio das leis divinas, portanto, com a ajuda de Deus. Isto foi o que aconteceu com Hércules, neste Trabalho.

Em cada trabalho que realiza, vai Hércules subindo a escada da evolução espiritual. (É importante lembrar sempre este aspecto). No leão da Nemeia usou Hércules, como aspirante, a força física e o discernimento intelectivo inferior; na hidra de Lerna usou ainda a força, mas já aplica conhecimentos de níveis superiores (ensinamentos dos deuses, o seu Eu Superior); na corça dos chifres de ouro, embora em condições deformadas (dor e sofrimento da corça), ele se depara com a presença divina (a beleza da corça, propriedade de uma deusa) e logo depois enfrenta a ira da própria divindade (a deusa Ártemis). No Javali do Erimanto ele, já um discípulo, percebe logo o engano de Euristeu no tocante à monstruosidade do Javali do Erimanto; sente – intuitivamente – a presença divina por todos os lugares por onde vai passando, identifica as pegadas do Javali na branca neve; aguarda, pacientemente, à entrada da caverna, a réstia do sol para iluminar o javali adormecido.

Neste Trabalho, ele, discípulo avançado na senda, tem, despertada em sua consciência, a visão reveladora dos perigos de destruição da humanidade pelas horrendas aves do Lago Estínfalo. Sozinho, desesperado, impotente para enfrentá-las (cumprir a missão), implora ajuda a Zeus. E é atendido. Quatro poderosos deuses descem à sua presença! Colocam-lhe nas mãos o címbalo, única arma que pôde vencer as tremendas aves.
No grau evolutivo em que Hércules se encontra, tem, já, um relacionamento direto com as forças divinas. E isto acontece na caminhada evolutiva de todos os seres humanos. Quando iniciamos a caminhada na busca da nossa evolução espiritual, as forças divinas acorrem ao nosso encontro abrindo novas perspectivas em nosso caminhar. A presença divina, por vezes, é tão grande, tão clara, que chegamos, às vezes, até nos surpreender, ou até nos espantar. Tais ajudas, claramente manifestadas, dão-nos novos estímulos para o prosseguimento no Caminho e reforçam em nós a certeza das verdades que buscamos.

Neste Trabalho é bem maior em Hércules a percepção das coisas divinas e ele já pôde perceber, no estágio em que se encontra, os meandros que o estão conduzindo aos mistérios dos mundos espirituais. Inspirado por uma visão mística dos perigos que corre todo o reino e por extensão toda a Grécia (o mundo então conhecido) e impotente para agir, ele chora. E chora copiosamente.
Chora porque percebe, de repente, serem aquelas ferozes aves surgidas das águas do Lago Estínfalo, as emoções humanas! (Nos ensinamentos místicos a água simboliza sempre as emoções humanas). Embora voassem e atuassem em planos mais altos (nos ensinamentos, o plano mais alto simboliza, sempre, presença divina), não simbolizavam a presença divina, porque eram danosas para a humanidade. Atacavam, matavam e devoravam tudo o que encontravam, amedrontando o reino inteiro que corria sério perigo de um dia ser todo devorado pela periculosidade das gigantescas aves.

Percebe Hércules, na sua visão mística, serem aquelas aves as emoções coletivas negativas exacerbadas (formas-pensamentos) que geram poderosa egrégora no Plano Astral (ao mesmo tempo causa e efeito do carma mundial). São elas as responsáveis – agindo sobre os seres humanos – pelas grandes comoções que envolvem a humanidade: as guerras, as grandes hecatombes, os genocídios, conflitos raciais, lutas religiosas que levam ao massacre milhares – ou até milhões de inocentes. Deturpando e deformando barbaramente todo o sentido de fraternidade que rege os princípios divinos e pondo em risco a sobrevivência da própria humanidade.
Ao crepúsculo do anoitecer elas se escondem nas águas do lago. No dia seguinte, revigorada com as sombrias formas-pensamentos geradas pelos interesses egoísticos, pelo desamor, pela discórdia, pela ganância, pela escuridão da estupidez humana – aspetos deturpados das qualidades divinas – alçam o seu voo sinistro, rastejante, à caça de suas indefesas vítimas. E nesses voos se espalham pelo mundo inteiro – não respeitando fronteiras, porque alimentadas por toda parte – levando consigo o assombro, o desespero à humanidade inconsciente e passiva. E Hércules – como um discípulo avançado na senda da evolução crística – chora, e chora desesperado porque sabe que elas atuam fora do nível terreno, além do Plano Físico. Ele sabe que elas agem no Plano Astral e ele as vê, mas impotente, não tem como enfrentá-las. São elas invulneráveis às suas flechas. E o que fazer, então?

É a hora de apelarmos, desesperados, para a misericórdia de Deus e, em comovedor pranto implorarmos sua ajuda. É a hora de usarmos – transformadas em “fiats” de luz – todas as flechas da nossa aljava; de acionarmos – com repetidos mantras – o címbalo da fé (presente dos deuses); de fortalecermo-nos com a proteção dos mestres espirituais, (simbolizados pelos deuses Atenas, Apolo, Hermes, Héfesto), seres iluminados que já foram humanos com nós e, como Hércules, percorreram o Caminho que os levou à ascensão e à imortalidade. Habitam, hoje, como deuses, os Planos Superiores e socorrem os seres humanos nos momentos de suas maiores aflições e chamamentos. Ensinam-nos, orientam-nos, instruem-nos sobre o Caminho a seguir e, amorosamente, aguardam que encontremos a senda que eles mesmos percorreram e que nos levará de volta à nossa original e eterna Morada.

É a hora de desenvolvermos um permanente e incansável trabalho voltado para as coisas divinas. De, humildemente, como Hércules – invocarmos, em fervorosas orações, a divina misericórdia. É a hora de repetirmos, em uníssono e incansavelmente, poderosos mantras, “fiats”, chamados e decretos; de realizarmos constantes práticas de rituais religiosos; de exercitarmos uma consciência meditativa, voltada, contritamente, para os planos superiores. E, paralelamente, irmos desenvolvendo desinteressados trabalhos de ajuda aos desamparados e necessitados em todos os níveis: físico, mental e espiritual, dentro dos ensinamentos de Francisco de Assis:

“Senhor,
fazei de mim um instrumento de vossa paz:
onde houver ódio, que eu leve o amor,
onde houver ofensa, que eu leve o perdão,
onde houver discórdia, que eu leve a união,
onde houver dúvida, que eu leve a fé,
onde houver erro, que eu leve a verdade,
onde houver desespero, que eu leve a esperança,
onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
onde houver treva, que eu leve a luz.
Mestre,
fazei com que eu procure mais:
Consolar do que ser consolado,
Compreender, que ser compreendido,
Amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando, que se é perdoado.
E morrendo é que se vive para a vida eterna”.

E, inspirado nestas palavras de grande saber, cultivarmos aquele profundo sentimento de amor pela humanidade inteira, único instrumento capaz de conduzir o ser humano ao encontro de Deus, como nos ensina o apóstolo Paulo:
“Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como um bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Ainda que tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; e ainda que eu tenha tamanha fé a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso aproveitarei!”
Seguindo, assim, as pegadas dos grandes mestres espirituais, mantermos acesa, equilibrada, no mais profundo do nosso coração a Chama Trina da Fé, da Sabedora e do Amor, e deixarmo-nos envolver pela mensagem maior do “amai o próximo como a si mesmo”, para, então, lograrmos assistir, deslumbrados (porque deslumbrados ficamos, como Hércules, ao percebermos a magnitude das obras de Deus), à queda mortal das aves do Lago Estínfalo.

(Ficar atento, observando todas as manhãs, o movimento das aves)

É saber usar, na hora oportuna, as dádivas (o címbalo) que as forças divinas colocam em nossas mãos. Ficar atento, vigiar sempre para não usar de maneira errada, orgulhosamente, arrogantemente as forças superiores, nem empregar os conhecimentos adquiridos em magia negra. Não atirar “pérolas aos porcos” insistindo em passar, de modo, às vezes exibicionista, os ensinamentos espirituais a pessoas desinteressadas, que ainda não possuam nível, nem sensibilidade para entendê-los. Aplicar os ensinamentos exatamente como foram passados, sem deformações. Se Hércules acionasse o címbalo na hora errada, ele não teria eliminado as aves do Lago Estínfalo.

(Na hora certa em que o teu coração ditar, bate este címbalo)

O nosso Eu Superior – o mestre interno – o ponto mais central da centelha divina que temos dentro de nós, seres humanos, tudo sabe. E leva-nos sempre a fazer – ou não – determinadas coisas no momento adequado. Tomarmos determinada decisão que sentirmos correta. Embora nem sequer saibamos – às vezes – o porquê de tais e quais decisões terem sido tomadas. É a chamada voz do coração: o nosso Eu Superior que, dentro de nós, orienta-nos – a uns mais, a outros menos – a depender do grau evolutivo de cada um, nas opções a serem escolhidas.

(“O retinir do som, que não ouvirás, será tão terrível que verás o resultado”)

Hércules não ouviu o incrível retinir das vibrações do címbalo que desnorteou as aves, porque, dos atos divinos, nós somente conseguimos ver ou sentir, os resultados finais. Somos impotentes, em nossa imensa pequenez, para acompanharmos o processo das realizações divinas. No solo, não vemos o processo do desenvolvimento das sementes, já vemos a flor...

(Atirar flechas enquanto as aves se chocam, atordoadas, no espaço)

Conseguida uma ajuda divina pedida, não devemos ficar parados de abraços cruzados, apenas confiantes em Deus e esperando que tudo aconteça. Devemos, com as flechas de nossa aljava, colaborarmos com as forças divinas. É o “Faz a tua parte que te ajudarei” bíblico, para merecermos a graça da ajuda pedida.

(Voltar ao pântano de Lerna para envenenar as setas)


Representa nossas voltas ao passado, nesta ou em outras encarnações – as conexões entre um fato e outro de um mesmo mito ou entre diferentes mitos – que vão gerar efeitos – às vezes cármicos – em nossas vidas no futuro (não se deve esquecer disso!). Ou em futuras encarnações.

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