5º TRABALHO
AS AVES DO LAGO ESTÍNFALO
O Mito
Decorrera já seis meses que Hércules realizara o seu último Trabalho.
Enquanto repousa - aguardando um novo chamado de Euristeu – vai percorrendo as
pradarias tranquilas do interior do reino; vai meditando, refletindo,
silenciando a mente, e aumentando, assim, os seus conhecimentos sobre as coisas
sagradas.
No palácio real, em Micenas, a situação é desesperadora! Euristeu não
sabe o que fazer. A todo instante e de todas as partes do reino chegam
mensagens trazendo as mesmas notícias e pedindo urgentes socorros. O reino
inteiro está sendo invadido por gigantescas e ferozes aves de metal! Aparecem
aos milhares, em bandos, dizimando os rebanhos, atacando os seres humanos, que
devoram vorazmente com enormes garras e bicos de aço. Suas penas de metal,
invulneráveis a quaisquer flechas, são atiradas como mortíferas setas sobre
quem seja avistado, e que não tem a menor chance de escapar.
As ferozes aves – informam as mensagens – surgidas ninguém sabe de onde,
fazem a sua base no Lago Estínfalo, na longínqua região da Arcádia. Saem todas
as manhãs – sempre às seis horas – para as suas buscas assassinas por todas as
regiões do reino, durante o dia, voltando ao anoitecer, para as águas do Lago.
O pânico é geral! As populações, assombradas, não sabem o que fazer. Pedem,
todos, urgentes socorros contra as mortíferas aves do Lago Estínfalo.
Euristeu, em total desespero, também não sabe o que fazer, e nem como
atender a tão dramáticos apelos. De repente, ele para no meio do seu desespero,
e esboça um perverso sorriso de quem possui um plano diabólico: “Como eu não
tinha pensado nisso antes?!” - Fala consigo mesmo o malvado. - “As benditas
aves do Lago Estínfalo! Está aí um trabalho que nem mesmo Hércules pode fazer.”
E manda chamar Hércules.
Chega Hércules a palácio e logo fica sabendo das aves do Lago Estínfalo.
São elas o assunto de todas as conversas e comentários. Até mesmo a população
de Micenas, a capital do reino, está em pânico com as notícias – não
confirmadas - de que as temidas aves já teriam atacado em regiões não muito
distantes dali. Hércules apresenta-se a Euristeu, e este, disfarçando um
sorriso de desafio, ordena:
- Vá lá! E mate todas estas tremendas aves do Lago Estínfalo! Elas estão
pondo em risco todo o reino!
Hércules curva-se humildemente e sai para cumprir mais um Trabalho.
Realizar mais uma tarefa ordenada por Euristeu. Volta, então, para a distante
Arcádia, região onde já estivera na busca do Javali do Erimanto. Vai
primeiramente conhecer a base de pernoite das perigosas aves, para então saber
como agir; o que fazer. Enquanto caminha para a longínqua Arcádia, vai
pensando, meditando, refletindo sobre este seu novo Trabalho.
Hércules já não é mais um simples aspirante no caminho da evolução
espiritual. Passada essa fase, é ele, agora, um aplicado discípulo dos
ensinamentos divinos, possuindo, já, um bom grau de conhecimentos esotéricos e
uma considerável capacidade intuitiva. E um aspecto deste seu Trabalho o está
intrigando: “Como”, - pensa ele – “aves que vêm do céu – de planos mais altos –
podem estar causando males na Terra?!...” Assim refletindo, chega ele à região
da Arcádia e se dirige para o Lago Estínfalo, onde dormem as aves antropófagas.
Como medida de segurança, já que as perigosas aves retornam sempre ao
entardecer – como lhe informaram em Micenas – chega cedo, durante o dia.
Percorre, com muito cuidado, as margens do lago e vai encontrando, por toda
parte, ossadas humanas e dos animais devorados pelas ferozes aves. Não encontra
uma ave sequer. Chega à beira do lago e descobre ter muita lama lá no fundo.
Escolhe então um estratégico local de observação no alto de frondosa árvore
próxima. Nele se instala e aguarda, pacientemente, no entardecer, a volta das
aves.
Lentamente o dia vai passando, o entardecer vai chegando, a noite
aproximando-se. De repente, de todos os lados, como imensas nuvens a cobrirem
os últimos raios do sol, surgem, em imensos bandos, as gigantescas aves, que no
fim do entardecer refletem, nas suas penas de metal, o brilho dos últimos raios
de sol (o Carro - de – Apolo). Um dissonante tinir de metais toma todo o espaço
e o rouco som partido daqueles milhares de bicos de aço chegam, por um
instante, a atordoar Hércules que lá do seu estratégico ponto de observação não
tem a menor ideia de como enfrentar o tão poderoso inimigo.
Escurece no Lago Estínfalo e as monstruosas aves silenciam o seu
terrível ruído. O silêncio é grande. Do seu ponto de observação continua
Hércules meditando, pensando, refletindo. Sabe ele – intuitivamente - ter de
encontrar um meio de enfrentar aquelas aves. Mas não sabe como. E no silêncio
da noite, enquanto lá no alto do firmamento os astros e estrelas iluminam, em
minúsculos pontos de luz, os céus da Grécia – o mundo então conhecido –
Hércules, cá embaixo, postado em uma árvore às margens do Lago Estínfalo,
pensando, meditando, refletindo, procura um meio de enfrentar as perigosas aves
que ali perto dormem. E assim, pacientemente, aguarda o amanhecer do dia,
quando aquelas aves – informaram-lhe em Micenas – às seis horas da manhã
costumam levantar voo.
O dia amanhece e exatamente às seis horas da manhã - e Hércules sabe o
horário pela posição do sol - como se fossem movidas por um só impulso, todas
as aves alçam voo. Cobrem, novamente, a luz do sol e seguem rumo ao Sul nas
suas sinistras viagens diárias.
Pensa Hércules: dentro do lago, lamoso como é, não teria ele a menor
condição de enfrentá-las com a sua clava. Além disso, ele se atolaria na lama e
seria presa fácil para as aves. Restava-lhe, somente, o uso das flechas. Mas,
como usá-las, se as penas metálicas das aves as tornavam invulneráveis a
quaisquer setas? E, depois, suas flechas – embora a aljava estivesse cheia
delas – eram pouquíssimas, em relação à quantidade das aves. Mas mesmo assim,
ele iria usá-las. Afinal de contas – pensa – suas flechas são bem mais fortes e
o impacto por elas causado é bem maior do que o das setas comuns, usadas por
qualquer outro ser humano.
Se as aves somente atacam de dia é porque algo as impede de atacarem à
noite. Logo – pensa Hércules – “Eu vou atacá-las à noitinha, no retorno delas.
Porque no caso de um contra-ataque, com a chegada da noite, elas se
recolherão”. E após verificar a segurança do seu esconderijo, prepara Hércules
o seu arco e flechas e aguarda, pacientemente, a chegada do entardecer. E o dia
vai passando. O Sol – o Carro-de-Apolo – desponta no Oriente e percorre seu
caminho no espaço sideral... Descamba para o Ocidente... E Hércules –
pacientemente – mantém-se ali, esperando. O dia vai se acabando... O entardecer
vai chegando. Pela posição do Sol – o Carro-de-Apolo – sabe Hércules que está
bem próxima a hora decisiva e que não tarda a chegar.
Já é de noitinha quando u’a imensa nuvem de aves gigantescas cobre o
espaço do Lago Estínfalo, prontas para o pouso. As rápidas setas de Hércules
rasgam, com finos assobios, o espaço, e vão bater em cheio nos metálicos peitos
das enormes aves e se ouve um tilintar de metais. As aves atingidas,
entontecidas pelo impacto dos flechaços vão perdendo altitude e por um instante
parecem cair. Retornam o voo e uma saraivada de penas metálicas é distribuída
para todos os lados. Hércules continua atirando flechas, mas nenhuma ave é
derrubada. A noite cai e as aves descem ao lago para dormir.
Hércules desesperado sente-se completamente impotente para enfrentar
aquelas aves, simplesmente porque não dispõe de quaisquer recursos ou meios
para combatê-las. Elas atuam no espaço, no alto, local de impossível acesso
para ele. E o seu desespero aumenta. E desesperado lembra-se da hidra de Lerna
que ele matara no pântano, e do sangue dela altamente venenoso. Sangue que
espalhado pelo pântano envenenara toda a água com um veneno que, apenas uma
gota, possuía enorme poder letal. Lembrando-se desesperado, do sangue altamente
venenoso da hidra, vai à Lerna, e embebe todas as suas setas na água do
pântano, envenenada pelo sangue da hidra.
Com todas as setas embebidas no mortal veneno da hidra de Lerna
colocadas na aljava, volta Hércules ao Lago Estínfalo para matar as ferozes
aves. Vinha com a esperança de que as setas envenenadas pudessem, de algum
modo, romper a invulnerabilidade das aves. Chegando ao Lago Estínfalo tenta
Hercules, com as suas flechas, mesmo envenenadas, e não consegue, sequer, matar
uma ave. E continua tentando... E o tempo vai passando, passando, e ele não
mata uma só ave. E todas as manhãs quando elas alçam voo e somem no horizonte,
sabe Hércules que vão levando o terror e a morte por onde passam, e ele,
impotente, não consegue matar uma sequer. Com o morticínio diário de pessoas e
rebanhos elas já representam um perigo para todo o reino e para toda a Grécia
(o mundo então conhecido), e o desespero de Hércules cada dia fica maior, por
sentir-se incapaz de evitar aquele morticínio. Ele sabe que tem de realizar o
Trabalho! Tem que cumprir a tarefa! O seu desespero vai aumentando, e ele tentando
sem nada conseguir. Cada vez mais desesperado, quase enlouquecido, fica sem
saber o que fazer!
E as aves continuam diariamente levantando voo e sua sombra cobrindo o
horizonte. E o desespero de Hércules cada dia aumenta mais porque ele tem
consciência de que tem que matá-las. É a sua missão. Mas não sabe como
cumpri-la! Sente-se totalmente sem condições de fazê-lo. Assim desesperado
lembra-se das palavras de Euristeu: “Elas estão pondo em risco o reino
inteiro!” E Hércules se dá conta de que não é, somente, uma região, uma pessoa
que está sendo vítima da ferocidade daquelas aves, mas “o reino inteiro” é
vítima de seus atos destruidores. No auge do desespero ele sente,
intuitivamente, que aquelas aves representam uma ameaça à sobrevivência da
própria humanidade e que destruí-las é a prestação de um serviço à humanidade
inteira, de salvação de toda a Grécia (o mundo então conhecido). As perigosas
aves devem ser detidas e mortas, e matá-las é a sua missão. Mas ele não sabe o
que fazer. Sente-se totalmente impotente. E percebe, com sua intuição de
discípulo avançado na senda, o risco que corre a humanidade toda (o reino
inteiro) com a presença devastadora dessas aves.
Diante de uma visão tão aterradora e totalmente impotente para realizar
a importante missão, Hércules chora. Chora profundamente. E chorando
desesperado, copiosamente, implora a Zeus – o seu Pai – que o ajude neste
Trabalho, de grande importância para a preservação da humanidade. Zeus, lá do
Olimpo, vendo a aflição do filho, ouve os seus soluços e atende à sua súplica.
Chama Héfesto, o deus do Fogo, o ferreiro do Olimpo, conhecedor de todas as
ligas e metais, o forjador dos raios de Zeus, e manda que ele ajude Hércules.
Héfesto então vai às suas fornalhas vulcânicas e após preparar uma liga de bronze
muito especial, constrói com ela um címbalo e dá a este címbalo a faculdade de
vibrar um som tão estridente, que nenhum ouvido humano possa escutá-lo.
Concluído o trabalho, pronto o formidável címbalo desce Héfesto do Olimpo,
transportado no seu carro de fogo, ajudado pelo deus Apolo, acompanhado da
deusa Atena e do deus Hermes. Descem até Hércules que no auge do desespero
continua, em prantos, contrito, implorando a ajuda de Zeus. E os quatro deuses
entregam a Hércules o especial címbalo de bronze. Héfesto diz-lhe:
- Na hora certa em que teu coração ditar, bate este címbalo. O retinir
do som (que não ouvirás) será tão terrível que verás o resultado.
Hercules não matara, ainda, uma ave sequer. Volta atentamente a observar
o movimento das aves. Elas levantam voo exatamente às seis horas da manhã e
retornam para o lago às seis horas da tarde. E Hércules observando atentamente
– pensando, meditando, refletindo – percebe que existe um exato momento,
especial, que é o instante em que todas as aves levantam voo. Todas, no mesmo
instante, alçam voo e de repente cobrem o horizonte, como se obedecessem todas
juntas a u’a mesma ordem, a um mesmo comando.
Hércules fica atento, observando cuidadosamente, todas as manhãs, no
mesmo horário, os instantes que antecedem o alçar do voo e o exato momento do
seu início. Muito atenciosamente não perde um só detalhe. Numa manhã, então,
resolve Hércules acionar aquela arma – o címbalo – presente dos deuses, contra
as aves. Prepara-se! Címbalo na mão. Sentidos alertas! E, no momento exato em
que as aves alçam voo, ele aciona o címbalo. Imediatamente invade o espaço o
retinir de um som estridente – de tantas e tais vibrações – inaudíveis para
Hércules, mas de efeitos extraordinariamente sentidos. As grandes aves
completamente atordoadas – desestabilizadas no espaço – nos seus voos velozes
chocam-se violentamente, umas contra as outras e vão caindo, todas mortas, no
lago.
Hércules vai atirando todas as suas flechas envenenadas, deixando apenas
uma na aljava. Terminada as flechas – à exceção da única que ficou na aljava –
senta-se Hércules à beira do lago e, deslumbrado, fica assistindo à total
destruição das perigosas aves que punham em perigo a preservação da própria
humanidade.
Uma vez mortas todas aquelas aves, a paz e a harmonia voltam a imperar
em todo o reino. Hércules, do mais profundo do seu ser, formula uma prece de
agradecimento ao Pai que o ajudou neste difícil Trabalho. Apanha uma das penas
que caíra à margem do Lago Estínfalo e a leva para Euristeu como prova do
cumprimento do Trabalho. Euristeu quando vê aquela enorme e estranha pena de
metal brilhando nas mãos de Hércules, pensa que é uma arma, e, morto de medo,
corre e se esconde no jarro de bronze!
Simbolismos e Ensinamentos
Na simbologia dos números, o 6 (os seis meses que Hércules passa
aguardando novo chamado de Euristeu, as seis horas, da manhã e da tarde, quando
as aves alçavam voo ou retornavam para o Lago Estínfalo) representa aqui,a
conclusão de um Trabalho perfeito. (Foi no sexto dia que Deus concluiu todo o trabalho
e Sua Criação, e descansou no sétimo). Um trabalho só é perfeito quando
elaborado obedecendo-se ao equilíbrio das leis divinas, portanto, com a ajuda
de Deus. Isto foi o que aconteceu com Hércules, neste Trabalho.
Em cada trabalho que realiza, vai Hércules subindo a escada da evolução
espiritual. (É importante lembrar sempre este aspecto). No leão da Nemeia usou
Hércules, como aspirante, a força física e o discernimento intelectivo
inferior; na hidra de Lerna usou ainda a força, mas já aplica conhecimentos de
níveis superiores (ensinamentos dos deuses, o seu Eu Superior); na corça dos
chifres de ouro, embora em condições deformadas (dor e sofrimento da corça),
ele se depara com a presença divina (a beleza da corça, propriedade de uma
deusa) e logo depois enfrenta a ira da própria divindade (a deusa Ártemis). No
Javali do Erimanto ele, já um discípulo, percebe logo o engano de Euristeu no
tocante à monstruosidade do Javali do Erimanto; sente – intuitivamente – a
presença divina por todos os lugares por onde vai passando, identifica as
pegadas do Javali na branca neve; aguarda, pacientemente, à entrada da caverna,
a réstia do sol para iluminar o javali adormecido.
Neste Trabalho, ele, discípulo avançado na senda, tem, despertada em sua
consciência, a visão reveladora dos perigos de destruição da humanidade pelas
horrendas aves do Lago Estínfalo. Sozinho, desesperado, impotente para
enfrentá-las (cumprir a missão), implora ajuda a Zeus. E é atendido. Quatro
poderosos deuses descem à sua presença! Colocam-lhe nas mãos o címbalo, única
arma que pôde vencer as tremendas aves.
No grau evolutivo em que Hércules se encontra, tem, já, um
relacionamento direto com as forças divinas. E isto acontece na caminhada
evolutiva de todos os seres humanos. Quando iniciamos a caminhada na busca da
nossa evolução espiritual, as forças divinas acorrem ao nosso encontro abrindo
novas perspectivas em nosso caminhar. A presença divina, por vezes, é tão
grande, tão clara, que chegamos, às vezes, até nos surpreender, ou até nos espantar.
Tais ajudas, claramente manifestadas, dão-nos novos estímulos para o
prosseguimento no Caminho e reforçam em nós a certeza das verdades que
buscamos.
Neste Trabalho é bem maior em Hércules a percepção das coisas divinas e
ele já pôde perceber, no estágio em que se encontra, os meandros que o estão
conduzindo aos mistérios dos mundos espirituais. Inspirado por uma visão
mística dos perigos que corre todo o reino e por extensão toda a Grécia (o
mundo então conhecido) e impotente para agir, ele chora. E chora copiosamente.
Chora porque percebe, de repente, serem aquelas ferozes aves surgidas
das águas do Lago Estínfalo, as emoções humanas! (Nos ensinamentos místicos a
água simboliza sempre as emoções humanas). Embora voassem e atuassem em planos
mais altos (nos ensinamentos, o plano mais alto simboliza, sempre, presença
divina), não simbolizavam a presença divina, porque eram danosas para a
humanidade. Atacavam, matavam e devoravam tudo o que encontravam, amedrontando
o reino inteiro que corria sério perigo de um dia ser todo devorado pela
periculosidade das gigantescas aves.
Percebe Hércules, na sua visão mística, serem aquelas aves as emoções
coletivas negativas exacerbadas (formas-pensamentos) que geram poderosa
egrégora no Plano Astral (ao mesmo tempo causa e efeito do carma mundial). São
elas as responsáveis – agindo sobre os seres humanos – pelas grandes comoções
que envolvem a humanidade: as guerras, as grandes hecatombes, os genocídios,
conflitos raciais, lutas religiosas que levam ao massacre milhares – ou até
milhões de inocentes. Deturpando e deformando barbaramente todo o sentido de
fraternidade que rege os princípios divinos e pondo em risco a sobrevivência da
própria humanidade.
Ao crepúsculo do anoitecer elas se escondem nas águas do lago. No dia
seguinte, revigorada com as sombrias formas-pensamentos geradas pelos
interesses egoísticos, pelo desamor, pela discórdia, pela ganância, pela
escuridão da estupidez humana – aspetos deturpados das qualidades divinas –
alçam o seu voo sinistro, rastejante, à caça de suas indefesas vítimas. E
nesses voos se espalham pelo mundo inteiro – não respeitando fronteiras, porque
alimentadas por toda parte – levando consigo o assombro, o desespero à
humanidade inconsciente e passiva. E Hércules – como um discípulo avançado na
senda da evolução crística – chora, e chora desesperado porque sabe que elas
atuam fora do nível terreno, além do Plano Físico. Ele sabe que elas agem no
Plano Astral e ele as vê, mas impotente, não tem como enfrentá-las. São elas
invulneráveis às suas flechas. E o que fazer, então?
É a hora de apelarmos, desesperados, para a misericórdia de Deus e, em
comovedor pranto implorarmos sua ajuda. É a hora de usarmos – transformadas em
“fiats” de luz – todas as flechas da nossa aljava; de acionarmos – com
repetidos mantras – o címbalo da fé (presente dos deuses); de fortalecermo-nos
com a proteção dos mestres espirituais, (simbolizados pelos deuses Atenas,
Apolo, Hermes, Héfesto), seres iluminados que já foram humanos com nós e, como
Hércules, percorreram o Caminho que os levou à ascensão e à imortalidade.
Habitam, hoje, como deuses, os Planos Superiores e socorrem os seres humanos
nos momentos de suas maiores aflições e chamamentos. Ensinam-nos, orientam-nos,
instruem-nos sobre o Caminho a seguir e, amorosamente, aguardam que encontremos
a senda que eles mesmos percorreram e que nos levará de volta à nossa original
e eterna Morada.
É a hora de desenvolvermos um permanente e incansável trabalho voltado
para as coisas divinas. De, humildemente, como Hércules – invocarmos, em
fervorosas orações, a divina misericórdia. É a hora de repetirmos, em uníssono
e incansavelmente, poderosos mantras, “fiats”, chamados e decretos; de
realizarmos constantes práticas de rituais religiosos; de exercitarmos uma consciência
meditativa, voltada, contritamente, para os planos superiores. E,
paralelamente, irmos desenvolvendo desinteressados trabalhos de ajuda aos
desamparados e necessitados em todos os níveis: físico, mental e espiritual,
dentro dos ensinamentos de Francisco de Assis:
“Senhor,
fazei de mim um instrumento de vossa paz:
onde houver ódio, que eu leve o amor,
onde houver ofensa, que eu leve o perdão,
onde houver discórdia, que eu leve a união,
onde houver dúvida, que eu leve a fé,
onde houver erro, que eu leve a verdade,
onde houver desespero, que eu leve a esperança,
onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
onde houver treva, que eu leve a luz.
Mestre,
fazei com que eu procure mais:
Consolar do que ser consolado,
Compreender, que ser compreendido,
Amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando, que se é perdoado.
E morrendo é que se vive para a vida eterna”.
E, inspirado nestas palavras de grande saber, cultivarmos aquele
profundo sentimento de amor pela humanidade inteira, único instrumento capaz de
conduzir o ser humano ao encontro de Deus, como nos ensina o apóstolo Paulo:
“Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor,
serei como um bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Ainda que tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda
a ciência; e ainda que eu tenha tamanha fé a ponto de transportar montes, se
não tiver amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que
entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso
aproveitarei!”
Seguindo, assim, as pegadas dos grandes mestres espirituais, mantermos
acesa, equilibrada, no mais profundo do nosso coração a Chama Trina da Fé, da
Sabedora e do Amor, e deixarmo-nos envolver pela mensagem maior do “amai o
próximo como a si mesmo”, para, então, lograrmos assistir, deslumbrados (porque
deslumbrados ficamos, como Hércules, ao percebermos a magnitude das obras de
Deus), à queda mortal das aves do Lago Estínfalo.
(Ficar atento, observando todas as
manhãs, o movimento das aves)
É saber usar, na hora oportuna, as dádivas (o címbalo) que as forças
divinas colocam em nossas mãos. Ficar atento, vigiar sempre para não usar de
maneira errada, orgulhosamente, arrogantemente as forças superiores, nem empregar
os conhecimentos adquiridos em magia negra. Não atirar “pérolas aos porcos”
insistindo em passar, de modo, às vezes exibicionista, os ensinamentos
espirituais a pessoas desinteressadas, que ainda não possuam nível, nem
sensibilidade para entendê-los. Aplicar os ensinamentos exatamente como foram
passados, sem deformações. Se Hércules acionasse o címbalo na hora errada, ele
não teria eliminado as aves do Lago Estínfalo.
(Na hora certa em que o teu coração
ditar, bate este címbalo)
O nosso Eu Superior – o mestre interno – o ponto mais central da
centelha divina que temos dentro de nós, seres humanos, tudo sabe. E leva-nos
sempre a fazer – ou não – determinadas coisas no momento adequado. Tomarmos
determinada decisão que sentirmos correta. Embora nem sequer saibamos – às
vezes – o porquê de tais e quais decisões terem sido tomadas. É a chamada voz
do coração: o nosso Eu Superior que, dentro de nós, orienta-nos – a uns mais, a
outros menos – a depender do grau evolutivo de cada um, nas opções a serem escolhidas.
(“O retinir do som, que não ouvirás,
será tão terrível que verás o resultado”)
Hércules não ouviu o incrível retinir das vibrações do címbalo que
desnorteou as aves, porque, dos atos divinos, nós somente conseguimos ver ou
sentir, os resultados finais. Somos impotentes, em nossa imensa pequenez, para
acompanharmos o processo das realizações divinas. No solo, não vemos o processo
do desenvolvimento das sementes, já vemos a flor...
(Atirar flechas enquanto as aves se
chocam, atordoadas, no espaço)
Conseguida uma ajuda divina pedida, não devemos ficar parados de abraços
cruzados, apenas confiantes em Deus e esperando que tudo aconteça. Devemos, com
as flechas de nossa aljava, colaborarmos com as forças divinas. É o “Faz a tua
parte que te ajudarei” bíblico, para merecermos a graça da ajuda pedida.
(Voltar ao pântano de Lerna para
envenenar as setas)
Representa nossas voltas ao passado, nesta ou em outras encarnações – as
conexões entre um fato e outro de um mesmo mito ou entre diferentes mitos – que
vão gerar efeitos – às vezes cármicos – em nossas vidas no futuro (não se deve
esquecer disso!). Ou em futuras encarnações.
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