8º TRABALHO
AS ÉGUAS DE DIOMEDES
O Mito
Diomedes, rei dos bistônios, na Trácia, região da Grécia Antiga, era, o
que se pode chamar de um péssimo governante. Não tinha a menor sensibilidade
com os sofrimentos dos seus súditos. Governava como um verdadeiro déspota. No
seu reino o povo vivia escravizado ao seu poder egoísta e mau.
Possuía Diomedes quatro éguas (Pedarco, Lampon, Janto e Deno) que eram
quatro animais terríveis! De instinto altamente violento, só se alimentavam de
carne humana. Nasceram normais, alimentando-se de vegetais como outros equinos
quaisquer. Mas Diomedes as treinara para comerem carne humana e as alimentava
com os míseros náufragos estrangeiros que viessem bater às costas daquele
maldito reino. Mantinha, o desumano monarca, atentos soldados ao longo de toda
a costa do território onde reinava, a fim de apanharem os infelizes
estrangeiros, náufragos, para serem devorados pelas éguas antropófagas.
Euristeu soube da existência dessas éguas e manda chamar Hércules. Quando
Hércules se apresenta em palácio, ele ordena:
- Hércules! Vá à Trácia, no reino de Diomedes, e me traga as éguas
Pedargo, Lampon, Janto e Deno. Eu quero aqui esses animais, para destruir os
inimigos do meu governo, neste reino!
Hércules, sem protesto, sem discussão, retira-se humildemente de
palácio. Vai meditar, pensar, refletir sobre o seu novo trabalho. E vai cumprir
as ordens de Euristeu. No longo caminhar para a Trácia, passa, Hércules, pelo
reino de Feras, na Tessália, onde reinava Edmeto, rei muito querido e amado
pelos seus súditos. Era ele protegido do deus Apolo. Este deus prometera ao rei
Edmeto evitar a morte do rei no dia marcado em que ela viesse buscá-lo, desde
que alguém se oferecesse em substituição a ele. Edmeto era casado com a rainha
Alceste, filha de Pélias, rei de Ioco, também amigo dos deuses. Pelo imenso
trabalho de ajuda e amparo que realizava em benefício dos pobres, a rainha
Alceste era querida pelos seus súditos e muito amada em todo o reino.
Ao passar pelo reino de Edmeto – a quem já conhecia – espera Hércules
encontrar muita paz e harmonia, porquanto sabe ele ser esse reino governado por
soberanos justos e bons. Mas fica surpreso com o que vê: muitos lamentos,
choros, penitência em toda parte por onde passa. O reino inteiro está enlutado,
entristecido, chorando em prantos. Hércules procura informar-se do que está
ocorrendo e fica sabendo a causa de toda aquela consternação: a bondosa rainha
Alceste, exatamente naquele dia, estava se entregando nos braços da morte em
substituição ao seu esposo, o rei Edmeto. Hércules soube, então, que as Moiras
(perversas entidades que habitam os subterrâneos infernais e servem a Hades – o
Senhor dos Infernos e da Morte) haviam marcado aquele dia para a morte vir
buscar Edmeto. As infernais Moiras são entidades encarregadas de punir os seres
humanos pelos erros cometidos em vida.
São elas - as Moiras - que indicam à morte os seres humanos – marcando
dia, hora e instante – para ela os vir buscar e os conduzir às infernais
profundezas para ali expiarem, no sofrimento e na dor, os crimes aqui
cometidos. E Edmeto não morreria naquele dia, de acordo com a promessa do deus
Apolo, se encontrasse outra pessoa que o quisesse substituir. Sendo ele um rei
bondoso, justo, esperava aparecer alguém para substituí-lo em seu infortúnio.
Como ninguém se havia apresentado até aquele dia e hora marcados pela morte, a
bondosa rainha Alceste, movida por amor ao marido, entregara-se á morte no
lugar do rei, seu esposo. Ela trancara-se no impenetrável mausoléu de portas de
bronze, intransponíveis, e exatamente àquela hora – hora marcada pela morte –
ela, a amada rainha, deveria estar sendo levada para as apavorantes entranhas
infernais.
Hércules informa-se do local onde fica o mausoléu em que se trancara
Alceste e corre na direção dele. Com um pontapé arromba a porta de bronze da entrada
e, ao penetrar no seu interior, avista, lá o fundo do sombrio corredor,
estendida sobre o ataúde, a rainha Alceste já em estado de coma. Hércules vai
na direção do ataúde e vê a imagem da morte – tenebrosa – curvando-se sobre o
corpo de Alceste para apanhá-lo. Corre Hércules rápido em direção ao ataúde e,
enquanto arrebata o corpo da rainha das mãos da morte, grita:
- EU SOU Hércules, filho de Zeus! Em nome da poderosa presença do EU
SOU, ordeno que deixes em paz esta criatura! Não a leves!
A morte põe sobre Hércules o seu frio e sinistro olhar, e Hércules,
firme, a encara. Dá-lhe as costas e sai do mausoléu conduzindo nos braços a
rainha Alceste, ainda desfalecida. Fora do mausoléu a rainha recupera a
consciência e Hércules a entrega ao rei Edmeto que, temporariamente estava
livre da morte (como prometera o deus Apolo) porquanto ele achara uma pessoa
que o substituísse (a rainha Alceste) e passara o momento exato marcado para
sua morte, sem que ela ocorresse. Nos registros das Moiras um novo programa, o
da morte de Edmeto, teria que ser criado...
Despede-se Hércules de Edmeto e prossegue a sua caminhada em direção à
Trácia. Vai para o reino dos bistônios, onde impera o desumano Diomedes.
Enquanto caminha, vai meditando, pensando, refletindo... Um fato, entretanto, o
está intrigando. Não lhe sai da cabeça a imagem da morte a lhe encarar com
aquele olhar penetrante e sinistro!
Com tais pensamentos e reflexões, chega ele afinal à região da Trácia.
Dirige-se para o reino dos bistônios, para os domínios de rei Diomedes.
Chegando aí, não lhe foi difícil saber onde estavam as terríveis éguas
antropófagas. Toda a população, horrorizada, sabia onde elas se encontravam!
Diomedes orgulhava-se enormemente da ferocidade daquelas éguas e desafiava a
todos, quem ousaria tentar amansá-las!
Dirige-se Hércules para a estrebaria onde elas se encontram. Lá estão,
as quatro, amarradas a fortes correntes. Hércules aproxima-se mais e as quatro
éguas deixam-se libertar mansamente das correntes que as prendem e, totalmente
dóceis, são conduzidas por Hércules, completamente submissas, à presença de
Diomedes. Este, querendo comprovar a mansidão das quatro éguas, delas se
aproxima.
Com a aproximação dele, as éguas retornam à anterior selvageria e,
enfurecidas, o destroem. Hércules volta a amansá-las e as conduz para Euristeu.
Este, vendo-as mansas, desinteressa-se por elas, simplesmente porque, diz, não
atenderiam mais aos seus propósitos (sinistros) de destruir todos os inimigos
do seu governo. Manda que Hércules dê a elas o destino que desejar. Hércules as
sacrifica, temendo que voltassem à antiga ferocidade.
Simbolismos e Ensinamentos
(EU SOU Hércules, filho de Zeus! Em
nome da poderosa presença do EU SOU, ordeno que deixes em paz esta criatura.
Não a leves!)
Hércules usou o poderoso mantra Eu Sou, ensinado na Fraternidade dos
Guardiães da Chama e em outras Escolas Místicas e Esotéricas. No Velho
Testamento (Êxodo 3:13.14), quando o Senhor aparece a Moisés, no Monte Horebe e
lhe manda procurar Faraó para pedir a libertação dos filhos de Israel, do
Egito: “Então disse Moisés a Deus: Eis que, quando vier aos filhos de Israel, e
lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é
o seu nome? Que lhes direi? E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais:
Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós”
É, portanto, o EU SOU, o nome do próprio Deus que ELE autorizou a Moisés
- ao ser humano - usar. É uma espécie de “procuração” passada por Deus, EU SOU,
ao homem, para, em Seu nome, atuar. Quando pronunciado em voz alta – com fé e
segurança – na correta vibração, é a própria Presença Divina que está a emitir
a ordem. Encarna, o EU SOU, a presença da natureza divina que existe nos seres
humanos. A centelha do fogo divino que todos nós, filhos de Deus, possuímos.
É a força da “Palavra Falada” vibrada pela cor azul (cor é
vibração) do Poder, emitida pelo chakra da garganta (o chakra laríngeo), quando
este já possui um equilíbrio em sua abertura e tem condições de transmitir as
corretas vibrações emanadas do Eu Superior (a Divina Chama) de um ser humano em
adiantado estado de evolução espiritual. É a Grande Presença do “EU SOU O QUE
SOU” dos Evangelhos; é a força do mantra “Fiat Lux” (Faça-se Luz) do Gênese, no
Velho Testamento. É a presença de Deus na plenitude de toda a força de Sua
Palavra.
Hércules, tendo galgado vários degraus na escada que o levará á ascensão
e à imortalidade; percorrendo já a senda do mestrado, não se prende mais ás
banais questões terrenas dos caprichos de Euristeu, das desonestidades de
Áugias, ou da inexperiência do aspirante no Leão da Nemeia. Ele, agora, atua em
outras dimensões, não apenas terrenas. Como um avançado discípulo no caminho do
mestrado nos conhecimentos velados, ele sabe que a morte não existe por si mesma.
Ela é uma deturpação da vida que é uma qualidade divina. A vida é a presença da
natureza de Deus que é a imortalidade. A morte é como uma sombra que se
dissipa, desaparece na presença da Luz que é a permanente e eterna qualidade do
próprio Deus.
Ensina-nos o Bem-Amado Mestre Ascenso Kuthumi, o Grande Instrutor do
Mundo que,“toda experiência em vosso caminho vos leva ao conhecimento e todo o
conhecimento transforma-se em SABEDORIA, pois qualquer estudo tem como
finalidade adquirir a Sabedoria. Nenhum conhecimento teórico pode trazer-vos a
Sabedoria Espiritual; somente a transmutação de tudo que viveis, diariamente, a
cada hora. Não é o entendimento que vos aproximará do grande objetivo, mas sim
a sabedoria do coração”. E é exatamente isto que está acontecendo na
Caminhada de Hércules.
Da experiência adquirida em cada Trabalho que realiza, ele assimila o
conhecimento que, transformado em Sabedoria, aplica-a na realização de outros
trabalhos. No Javali do Erimanto ele vislumbra, intuitivamente, a Divina Presença;
Nas Aves do Lago Estínfalo recebe ele a visita dos poderosos deuses Héfesto,
Apolo, Atena e Hermes que lhe trazem um presente – o címbalo de bronze –
decisivo para a realização do Trabalho. Nos estábulos do rei Áugias, tem ele,
em sonhos, ajuda da deusa Atena. No Touro de Creta é o próprio Zeus que,
atendendo ao seu apelo entrega-lhe, manso, o lindo touro.
Nesses Trabalhos adquiriu Hércules experiência em lidar com as energias
dos planos superiores, dos deuses; vem ele cumulando conhecimentos e aplicando-os
com Sabedoria. Neste Trabalho tem Hércules que descer aos planos inferiores de
densas energias e ir buscar nas experiências vividas nesses planos – o
enfrentamento da morte cara a cara; no seu olhar frio e sinistro – os
conhecimentos que deverão ser transformados em Sabedoria; conhecimentos esses,
também necessários na formação de um postulante ao mestrado da Sabedoria. É
esta sabedoria resultante de experiências adquiridas nesses planos densos que
vai permitir a um mestre do conhecimento passar por tais planos sem se deixar
envolver pelas suas energias. Lá descer, aplicar com mestria os conhecimentos
adquiridos e de lá sair, sem se deixar contaminar.
A salvação da rainha Alceste – o enfrentamento da morte – não foi um
Trabalho ordenado por Euristeu. Não fazia parte das obrigações – de prestar
serviços – assumidas por Hércules perante o Oráculo de Apolo. Foi uma ajuda
pessoal, espontânea, desinteressada de Hércules a um ser humano no mais alto
grau de desespero, ao entregar-se à morte.
À medida em que vai crescendo na sua evolução espiritual vai Hércules
transformando-se num servidor da humanidade. Seus Trabalhos agora voltam-se
para a ajuda a seres humanos que ainda em níveis mais inferiores, não dispõem
do conhecimento nem do poder, para, sozinhos, penetrarem os misteriosos
caminhos que conduzem à Sabedoria das Divinas Esferas.
E subindo a escada evolutiva; elevando-se a níveis mais altos de
conhecimentos gerados pelas vibrações da força dourada do seu chakra coronário
(da Sabedoria); fazendo brilhar com maior fulgor a rósea vibração do amor
universal formado no chakra cardíaco (amor no coração); usando, com mestria, o
poder azul do seu chakra laríngeo (“a Palavra falada”) estará ele equilibrando
a Chama Trina do Poder, da Sabedoria e do Amor, alimentada pelas vibrações das
cores azul (do Poder), amarela (da Sabedoria) rosa (do Amor). E como um
servidor da humanidade vai percorrer a etapa final do caminho que o conduzirá à
ascensão e à imortalidade.
A palavra chakra, de origem sânscrita, quer dizer, roda. Os chakras são
vórtices de energia, centros de força – em forma de rodas – em número de sete,
os principais, no corpo humano. Captam as energias cósmicas – em vibrações –
que atuam diretamente no comportamento humano, em suas emoções e sentimentos, influenciando
a vida humana em todas as suas implicações. São, os chakras, as portas da alma,
no corpo humano.
(Qual foi a força - o Poder – que
permitiu a Hércules, usando o mantra EU SOU, salvar da morte a rainha Alceste?)
- O amor!
Alceste era uma rainha bondosa. Amada e querida por todos os habitantes
do reino que choravam em profundas lamentações a sua morte, e realizando
grandes penitências clamavam o seu nome, imbuídos de grandes e fortes emoções.
A enorme manifestação coletiva formava uma egrégora de amor (amor, uma
qualidade divina) no Plano Astral. Nascida de uma corrente de amor e comoção
contrárias à morte de Alceste, tal egrégora gerou, no Astral, uma energia que
prendia à terra a energia vital de Alceste. Como não era aquele o dia marcado
para a sua morte, possuía Alceste, uma energia vital normalmente forte, ligada
ao plano terreno. Essa energia vital que ela ainda possuía, reforçada com a
energia gerada pela egrégora formada pelos apelos contrários à sua morte –
apelos de amor – enfraqueceu o poder da morte, o desamor – antítese da vida –
representado pela intenção sinistra de levar a boa rainha para os sombrios
subterrâneos de Hades, o Inferno. Tais condições permitiram que Hércules usando
com conhecimento o poderoso mantra EU SOU, vencesse a morte e salvasse a rainha
Alceste.
Contudo, os mantras só funcionam quando usados para assegurar um
equilíbrio (uma qualidade divina), num contexto onde, por qualquer razão,
desponte o desequilíbrio (uma deturpação da natureza divina). É exatamente este
o caso da rainha Alceste. Os clamores, os choros, as lamentações amorosas foram
benéficos, porque a morte de Alceste, naquelas condições, representava um
desequilíbrio das energias cósmicas (aquele não era o dia marcado para a sua
morte).
Entretanto, testemunhamos sempre, choros, lamentos e sofrimentos dos que
clamam por alguém que morre, e presenciamos enormes comoções quando o morto é
um líder político, religioso, esportivo ou consagrado artista. Tais atitudes,
embora atendam às necessidades emocionais dos que ficam, não são benéficos para
os que se vão. Elas criam, no Plano Astral, uma egrégora, uma energia que não é
boa porque prende a consciência vital do moribundo – ou a consciência anímica
do recém-falecido – às energias telúricas, não permitindo – ou dificultando –
que ela se liberte dos últimos elos que a prendem á Terra, aprisionada pelas
energias formadas no astral resultantes dos choros, lamentos e evocações.
Pois, não dispondo mais aquele ser de condições físicas, mentais,
etéreas, dentre outras, para voltar a viver, e tendo sua alma consciência de
que deve partir para outros planos que não o físico, forma-se, então, uma
situação profundamente prejudicial para ele, que, já em outras dimensões, vive
já a realidade de outras necessidades. Precisa, portanto, desligar-se das
amarras que ainda o prendem às energias terrenas para prosseguir no novo
caminho que lhe está reservado pelas inexoráveis e eternas leis cósmicas.
(“Deus escreve certo por linhas
tortas”. Este dito popular encaixa-se perfeitamente bem, neste episódio do
Mito).
Apolo, (um deus), havia prometido ao seu protegido, o rei Edmeto, que
este não morreria no dia marcado para a morte vir buscá-lo. Hércules passou no
reino de Edmeto, exatamente naquele dia para fazer-se cumprir a promessa de
Apolo (um deus) ao rei Edmeto e, ao mesmo tempo, não permitir que fosse gerado
um desequilíbrio (uma injustiça, uma deformação) com a morte, prematura, da
rainha Alceste.
Há uma constante interferência das forças divinas nos desdobramentos de
nossos atos e práticas diárias. Interferências que nós nem sequer percebemos.
Atuamos, às vezes - e muitas - contrariamente aos postulados das leis cósmicas.
Em respeito ao livre-arbítrio que possuímos, as forças divinas não podem
interferir diretamente em nossos atos, mas interferem nos seus desdobramentos,
e graças a essas interferências o equilíbrio das leis cósmicas é mantido. (É
como acertar o rumo de um navio, após um grumete tê-lo desnorteado). Mas nós
vamos gerando carma a cada vez que violentamos um postulado das leis divinas e
que teremos de resgatar, um dia. “Não cai uma folha seca, sem que seja
pela vontade de Deus”, é verdade. Mas Deus não tira cada folha seca da
árvore e a joga no chão. Deus é o processo, é a lei que determina o germinar da
semente, o nascer e o crescer da árvore, o brotar das folhas, sua maturação,
secagem e queda.
Na salvação da rainha Alceste, há todo um processo. Eram, o rei Edmeto e
a rainha sua esposa, soberanos justos e bons, amados por todos os seus súditos.
Eram protegidos dos deuses (viviam, portanto, em equilíbrio com as energias dos
planos superiores). O aparecimento da morte (antítese da vida), indicada pelas
Moiras, mensageiras de Hades, o Senhor dos Infernos, representava o
desequilíbrio na vida daquele reino harmonioso e feliz. A população do reino,
inteira, em piedosas e amorosas penitências, clamava a interferência divina de
ajuda a Alceste (livre-arbítrio coletivo, sendo manifestado), conduzindo todo o
processo para o “final feliz” que aconteceu.
Se, por outro lado, tais fatos houvessem envolvido soberanos maus,
atuantes em energias densas, cujos súditos se postassem indiferentemente ao
drama da família real – ou até mesmo desejassem que os dois – rei e rainha –
fossem juntos – nada do acontecido ter-se-ia verificado. No desequilíbrio e no
caos, prevalecem as leis do desequilíbrio e do caos. Hércules não teria passado
por ali. (Ele passou “por acaso,” nada tinha ali – conscientemente - para
fazer). E se passasse, nem tomaria conhecimento do drama dos soberanos locais –
as energias eram diferentes - e se tomasse conhecimento, não seria acionado –
para socorrer a Rainha. Em compensação, ele, Hércules, não teria tido a
oportunidade (que teve) de prestar um serviço ao próximo e “contar pontos” na
caminhada da sua meta ascensionista.
O fato de Alceste e Edmeto, dois bons soberanos, justos, amados pelos
súditos, protegidos pelos deuses, terem sido escolhidos pelas Moiras (entidades
perversas, a serviço de Hades, o Senhor dos Infernos) mostra que nenhum ser
humano, por mais alto nível de evolução espiritual que possua, está livre do
assédio das densas energias dos planos inferiores, do envolvimento de forças
que representam a deturpação das qualidades divinas, do equilíbrio e da
harmonia.
Lembremo-nos que até mesmo Jesus, no seu mais alto patamar da
espiritualidade, foi tentado por Satanás... “o transportou o diabo a um monte
muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. E disse:
Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então, disse-lhe Jesus: Vai-te
Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele servirás.
Então o diabo o deixou; e eis que chegaram os anjos e o serviram”. (Mat.
4:8,9,10,11).
Na simbologia do Mito, as quatro éguas de Diomedes representam os quatro
corpos inferiores do ser humano: o etéreo, o mental, o astral e o físico (os
aspectos da Matéria). Somados, estes, aos três corpos superiores: Presença do
EU SOU, Corpo Causal e o Cristo Pessoal (Energias Crísticas), fazem do homem um
ser de natureza setenária. A Mônada Divina (a centelha de Deus) ao iniciar o
seu processo – involucionário – para a formação do ser humano, (da alma),
percorre vários planos: sete ao todo. Após transitar pelos três planos
superiores, (das Energias Crísticas), passando sempre dos mais sutis para os
mais densos – na sua involução – percorre os vários planos inferiores (aspectos
da Matéria) até chegar ao plano físico (o terreno), o mais denso de todos.
Nas suas passagens por esses planos inferiores vai, a alma,
impregnando-se cada vez mais das densas energias dos planos por onde vai
passando, formando, com tais energias em torno de si, os quatro corpos
inferiores – envoltórios de difícil dissolvência. Ao chegar ao plano físico, a
alma já traz enorme carga de densas energias que aumenta ainda mais com a
densidade deste plano (o terreno).
Estes corpos inferiores – os envoltórios da alma – são os formadores dos
egos (vaidade, prepotência, orgulho, ambição, ciúme, paixões, raiva, crenças,
medos, inveja... e por aí vai). Hábitos, vícios, limitações e defeitos que
constituem a personalidade de cada ser humano. É, a personalidade, (como já foi
dito nos simbolismos e ensinamentos do primeiro Trabalho de Hércules, o Leão da
Nemeia), o maior inimigo do ser humano no caminho da evolução espiritual. Se
não for domada, equilibrada, controlada, leva o indivíduo a cometer os mais
absurdos atos e ações contra os princípios da convivência humana; contra os
postulados das leis cósmicas e – inconscientemente – contra si mesmo, vítima da
inexorável Lei Cósmica do Retorno, distanciando-se assim, cada vez mais, do
caminho da cristicidade. Atuam, portanto, os quatro corpos inferiores no ser
humano, como as quatro éguas antropófagas de Diomedes, devorando os
inconscientes náufragos que se deixam envolver pelas suas vorazes mandíbulas –
os egos – e, como Diomedes, são vítimas da antropofagia alimentada por eles
próprios.
A mansidão e docilidade com que as éguas obedecem a Hércules, simbolizam
o avançado estado evolutivo em que este se encontra. Com as energias dos seus
quatro corpos inferiores transmutadas em qualidades divinas, sua personalidade
auto-controlada, pôde ele, aproximar-se, soltar as quatro éguas, conduzindo-as,
dóceis, à presença de Diomedes sem a menor ameaça. Somente ao aproximar-se de
Diomedes (com os egos todos exaltados, formando uma personalidade cheia de
vícios e defeitos) voltam as éguas à ferocidade anterior e o destroem,
devorando-o.
“Na doutrina metafísica dos druídas, o iniciado deve passar por oito
estados de consciência ou oito comprimentos de onda (infravermelho, vermelho,
laranja, amarelo, verde, azul, violeta, ultravioleta) que são encadeados no
círculo de Abred (círculo da necessidade, círculo de reencarnações...) antes de
chegar à libertação espiritual no círculo de Gwenwed, ou círculo da Luz branca.
O oito é frequentemente o número de prova da “morte de iniciação.” Quem
“compreende” o oito se despoja de sua personalidade para revestir a
universalidade do cosmos”.
Hércules neste seu 8º Trabalho (número oito) inicia um mergulho nas
densas energias dos planos inferiores. Mergulho que continuará nos seus
próximos Trabalhos. Ele vai, a partir de agora, passar pelas mais difíceis
provas no seu caminho evolucionário. Provas que vão medir o seu nível de
conhecimento das leis ocultas e testar a sua preparação para galgar os últimos
degraus que o levarão à sonhada Ascensão.
Somente a experiência leva o ser humano ao Conhecimento que deve ser
transformado em Sabedoria. E unicamente a Sabedoria – filha do Conhecimento –
poderá levar o homem à iluminação espiritual. Hércules – como todo postulante à
ascensão espiritual – tem, primeiro, de descer às profundezas dos mais baixos
planos, passar pelas densas energias que ali permeiam, sem se deixar por elas
contaminar. Somente assim – sem contaminação – poderá ele subir às etéreas
regiões e conhecer a suprema glória da imortalidade.
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