quarta-feira, 13 de novembro de 2013

 8º TRABALHO
AS ÉGUAS DE DIOMEDES
O Mito

Diomedes, rei dos bistônios, na Trácia, região da Grécia Antiga, era, o que se pode chamar de um péssimo governante. Não tinha a menor sensibilidade com os sofrimentos dos seus súditos. Governava como um verdadeiro déspota. No seu reino o povo vivia escravizado ao seu poder egoísta e mau.
Possuía Diomedes quatro éguas (Pedarco, Lampon, Janto e Deno) que eram quatro animais terríveis! De instinto altamente violento, só se alimentavam de carne humana. Nasceram normais, alimentando-se de vegetais como outros equinos quaisquer. Mas Diomedes as treinara para comerem carne humana e as alimentava com os míseros náufragos estrangeiros que viessem bater às costas daquele maldito reino. Mantinha, o desumano monarca, atentos soldados ao longo de toda a costa do território onde reinava, a fim de apanharem os infelizes estrangeiros, náufragos, para serem devorados pelas éguas antropófagas. Euristeu soube da existência dessas éguas e manda chamar Hércules. Quando Hércules se apresenta em palácio, ele ordena:

- Hércules! Vá à Trácia, no reino de Diomedes, e me traga as éguas Pedargo, Lampon, Janto e Deno. Eu quero aqui esses animais, para destruir os inimigos do meu governo, neste reino!

Hércules, sem protesto, sem discussão, retira-se humildemente de palácio. Vai meditar, pensar, refletir sobre o seu novo trabalho. E vai cumprir as ordens de Euristeu. No longo caminhar para a Trácia, passa, Hércules, pelo reino de Feras, na Tessália, onde reinava Edmeto, rei muito querido e amado pelos seus súditos. Era ele protegido do deus Apolo. Este deus prometera ao rei Edmeto evitar a morte do rei no dia marcado em que ela viesse buscá-lo, desde que alguém se oferecesse em substituição a ele. Edmeto era casado com a rainha Alceste, filha de Pélias, rei de Ioco, também amigo dos deuses. Pelo imenso trabalho de ajuda e amparo que realizava em benefício dos pobres, a rainha Alceste era querida pelos seus súditos e muito amada em todo o reino.

Ao passar pelo reino de Edmeto – a quem já conhecia – espera Hércules encontrar muita paz e harmonia, porquanto sabe ele ser esse reino governado por soberanos justos e bons. Mas fica surpreso com o que vê: muitos lamentos, choros, penitência em toda parte por onde passa. O reino inteiro está enlutado, entristecido, chorando em prantos. Hércules procura informar-se do que está ocorrendo e fica sabendo a causa de toda aquela consternação: a bondosa rainha Alceste, exatamente naquele dia, estava se entregando nos braços da morte em substituição ao seu esposo, o rei Edmeto. Hércules soube, então, que as Moiras (perversas entidades que habitam os subterrâneos infernais e servem a Hades – o Senhor dos Infernos e da Morte) haviam marcado aquele dia para a morte vir buscar Edmeto. As infernais Moiras são entidades encarregadas de punir os seres humanos pelos erros cometidos em vida.

São elas - as Moiras - que indicam à morte os seres humanos – marcando dia, hora e instante – para ela os vir buscar e os conduzir às infernais profundezas para ali expiarem, no sofrimento e na dor, os crimes aqui cometidos. E Edmeto não morreria naquele dia, de acordo com a promessa do deus Apolo, se encontrasse outra pessoa que o quisesse substituir. Sendo ele um rei bondoso, justo, esperava aparecer alguém para substituí-lo em seu infortúnio. Como ninguém se havia apresentado até aquele dia e hora marcados pela morte, a bondosa rainha Alceste, movida por amor ao marido, entregara-se á morte no lugar do rei, seu esposo. Ela trancara-se no impenetrável mausoléu de portas de bronze, intransponíveis, e exatamente àquela hora – hora marcada pela morte – ela, a amada rainha, deveria estar sendo levada para as apavorantes entranhas infernais.

Hércules informa-se do local onde fica o mausoléu em que se trancara Alceste e corre na direção dele. Com um pontapé arromba a porta de bronze da entrada e, ao penetrar no seu interior, avista, lá o fundo do sombrio corredor, estendida sobre o ataúde, a rainha Alceste já em estado de coma. Hércules vai na direção do ataúde e vê a imagem da morte – tenebrosa – curvando-se sobre o corpo de Alceste para apanhá-lo. Corre Hércules rápido em direção ao ataúde e, enquanto arrebata o corpo da rainha das mãos da morte, grita:
- EU SOU Hércules, filho de Zeus! Em nome da poderosa presença do EU SOU, ordeno que deixes em paz esta criatura! Não a leves!

A morte põe sobre Hércules o seu frio e sinistro olhar, e Hércules, firme, a encara. Dá-lhe as costas e sai do mausoléu conduzindo nos braços a rainha Alceste, ainda desfalecida. Fora do mausoléu a rainha recupera a consciência e Hércules a entrega ao rei Edmeto que, temporariamente estava livre da morte (como prometera o deus Apolo) porquanto ele achara uma pessoa que o substituísse (a rainha Alceste) e passara o momento exato marcado para sua morte, sem que ela ocorresse. Nos registros das Moiras um novo programa, o da morte de Edmeto, teria que ser criado...
Despede-se Hércules de Edmeto e prossegue a sua caminhada em direção à Trácia. Vai para o reino dos bistônios, onde impera o desumano Diomedes. Enquanto caminha, vai meditando, pensando, refletindo... Um fato, entretanto, o está intrigando. Não lhe sai da cabeça a imagem da morte a lhe encarar com aquele olhar penetrante e sinistro!

Com tais pensamentos e reflexões, chega ele afinal à região da Trácia. Dirige-se para o reino dos bistônios, para os domínios de rei Diomedes. Chegando aí, não lhe foi difícil saber onde estavam as terríveis éguas antropófagas. Toda a população, horrorizada, sabia onde elas se encontravam! Diomedes orgulhava-se enormemente da ferocidade daquelas éguas e desafiava a todos, quem ousaria tentar amansá-las!

Dirige-se Hércules para a estrebaria onde elas se encontram. Lá estão, as quatro, amarradas a fortes correntes. Hércules aproxima-se mais e as quatro éguas deixam-se libertar mansamente das correntes que as prendem e, totalmente dóceis, são conduzidas por Hércules, completamente submissas, à presença de Diomedes. Este, querendo comprovar a mansidão das quatro éguas, delas se aproxima.

Com a aproximação dele, as éguas retornam à anterior selvageria e, enfurecidas, o destroem. Hércules volta a amansá-las e as conduz para Euristeu. Este, vendo-as mansas, desinteressa-se por elas, simplesmente porque, diz, não atenderiam mais aos seus propósitos (sinistros) de destruir todos os inimigos do seu governo. Manda que Hércules dê a elas o destino que desejar. Hércules as sacrifica, temendo que voltassem à antiga ferocidade.

Simbolismos e Ensinamentos

(EU SOU Hércules, filho de Zeus! Em nome da poderosa presença do EU SOU, ordeno que deixes em paz esta criatura. Não a leves!)

Hércules usou o poderoso mantra Eu Sou, ensinado na Fraternidade dos Guardiães da Chama e em outras Escolas Místicas e Esotéricas. No Velho Testamento (Êxodo 3:13.14), quando o Senhor aparece a Moisés, no Monte Horebe e lhe manda procurar Faraó para pedir a libertação dos filhos de Israel, do Egito: “Então disse Moisés a Deus: Eis que, quando vier aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós”
É, portanto, o EU SOU, o nome do próprio Deus que ELE autorizou a Moisés - ao ser humano - usar. É uma espécie de “procuração” passada por Deus, EU SOU, ao homem, para, em Seu nome, atuar. Quando pronunciado em voz alta – com fé e segurança – na correta vibração, é a própria Presença Divina que está a emitir a ordem. Encarna, o EU SOU, a presença da natureza divina que existe nos seres humanos. A centelha do fogo divino que todos nós, filhos de Deus, possuímos.  

É a força da “Palavra Falada” vibrada pela cor azul (cor é vibração) do Poder, emitida pelo chakra da garganta (o chakra laríngeo), quando este já possui um equilíbrio em sua abertura e tem condições de transmitir as corretas vibrações emanadas do Eu Superior (a Divina Chama) de um ser humano em adiantado estado de evolução espiritual. É a Grande Presença do “EU SOU O QUE SOU” dos Evangelhos; é a força do mantra “Fiat Lux” (Faça-se Luz) do Gênese, no Velho Testamento. É a presença de Deus na plenitude de toda a força de Sua Palavra.
Hércules, tendo galgado vários degraus na escada que o levará á ascensão e à imortalidade; percorrendo já a senda do mestrado, não se prende mais ás banais questões terrenas dos caprichos de Euristeu, das desonestidades de Áugias, ou da inexperiência do aspirante no Leão da Nemeia. Ele, agora, atua em outras dimensões, não apenas terrenas. Como um avançado discípulo no caminho do mestrado nos conhecimentos velados, ele sabe que a morte não existe por si mesma. Ela é uma deturpação da vida que é uma qualidade divina. A vida é a presença da natureza de Deus que é a imortalidade. A morte é como uma sombra que se dissipa, desaparece na presença da Luz que é a permanente e eterna qualidade do próprio Deus.
Ensina-nos o Bem-Amado Mestre Ascenso Kuthumi, o Grande Instrutor do Mundo que,“toda experiência em vosso caminho vos leva ao conhecimento e todo o conhecimento transforma-se em SABEDORIA, pois qualquer estudo tem como finalidade adquirir a Sabedoria. Nenhum conhecimento teórico pode trazer-vos a Sabedoria Espiritual; somente a transmutação de tudo que viveis, diariamente, a cada hora. Não é o entendimento que vos aproximará do grande objetivo, mas sim a sabedoria do  coração”. E é exatamente isto que está acontecendo na Caminhada de Hércules.

Da experiência adquirida em cada Trabalho que realiza, ele assimila o conhecimento que, transformado em Sabedoria, aplica-a na realização de outros trabalhos. No Javali do Erimanto ele vislumbra, intuitivamente, a Divina Presença; Nas Aves do Lago Estínfalo recebe ele a visita dos poderosos deuses Héfesto, Apolo, Atena e Hermes que lhe trazem um presente – o címbalo de bronze – decisivo para a realização do Trabalho. Nos estábulos do rei Áugias, tem ele, em sonhos, ajuda da deusa Atena. No Touro de Creta é o próprio Zeus que, atendendo ao seu apelo entrega-lhe, manso, o lindo touro.

Nesses Trabalhos adquiriu Hércules experiência em lidar com as energias dos planos superiores, dos deuses; vem ele cumulando conhecimentos e aplicando-os com Sabedoria. Neste Trabalho tem Hércules que descer aos planos inferiores de densas energias e ir buscar nas experiências vividas nesses planos – o enfrentamento da morte cara a cara; no seu olhar frio e sinistro – os conhecimentos que deverão ser transformados em Sabedoria; conhecimentos esses, também necessários na formação de um postulante ao mestrado da Sabedoria. É esta sabedoria resultante de experiências adquiridas nesses planos densos que vai permitir a um mestre do conhecimento passar por tais planos sem se deixar envolver pelas suas energias. Lá descer, aplicar com mestria os conhecimentos adquiridos e de lá sair, sem se deixar contaminar.

A salvação da rainha Alceste – o enfrentamento da morte – não foi um Trabalho ordenado por Euristeu. Não fazia parte das obrigações – de prestar serviços – assumidas por Hércules perante o Oráculo de Apolo. Foi uma ajuda pessoal, espontânea, desinteressada de Hércules a um ser humano no mais alto grau de desespero, ao entregar-se à morte.
À medida em que vai crescendo na sua evolução espiritual vai Hércules transformando-se num servidor da humanidade. Seus Trabalhos agora voltam-se para a ajuda a seres humanos que ainda em níveis mais inferiores, não dispõem do conhecimento nem do poder, para, sozinhos, penetrarem os misteriosos caminhos que conduzem à Sabedoria das Divinas Esferas.

E subindo a escada evolutiva; elevando-se a níveis mais altos de conhecimentos gerados pelas vibrações da força dourada do seu chakra coronário (da Sabedoria); fazendo brilhar com maior fulgor a rósea vibração do amor universal formado no chakra cardíaco (amor no coração); usando, com mestria, o poder azul do seu chakra laríngeo (“a Palavra falada”) estará ele equilibrando a Chama Trina do Poder, da Sabedoria e do Amor, alimentada pelas vibrações das cores azul (do Poder), amarela (da Sabedoria) rosa (do Amor). E como um servidor da humanidade vai percorrer a etapa final do caminho que o conduzirá à ascensão e à imortalidade.
A palavra chakra, de origem sânscrita, quer dizer, roda. Os chakras são vórtices de energia, centros de força – em forma de rodas – em número de sete, os principais, no corpo humano. Captam as energias cósmicas – em vibrações – que atuam diretamente no comportamento humano, em suas emoções e sentimentos, influenciando a vida humana em todas as suas implicações. São, os chakras, as portas da alma, no corpo humano.

(Qual foi a força - o Poder – que permitiu a Hércules, usando o mantra EU SOU, salvar da morte a rainha Alceste?)

- O amor!
Alceste era uma rainha bondosa. Amada e querida por todos os habitantes do reino que choravam em profundas lamentações a sua morte, e realizando grandes penitências clamavam o seu nome, imbuídos de grandes e fortes emoções. A enorme manifestação coletiva formava uma egrégora de amor (amor, uma qualidade divina) no Plano Astral. Nascida de uma corrente de amor e comoção contrárias à morte de Alceste, tal egrégora gerou, no Astral, uma energia que prendia à terra a energia vital de Alceste. Como não era aquele o dia marcado para a sua morte, possuía Alceste, uma energia vital normalmente forte, ligada ao plano terreno. Essa energia vital que ela ainda possuía, reforçada com a energia gerada pela egrégora formada pelos apelos contrários à sua morte – apelos de amor – enfraqueceu o poder da morte, o desamor – antítese da vida – representado pela intenção sinistra de levar a boa rainha para os sombrios subterrâneos de Hades, o Inferno. Tais condições permitiram que Hércules usando com conhecimento o poderoso mantra EU SOU, vencesse a morte e salvasse a rainha Alceste.

Contudo, os mantras só funcionam quando usados para assegurar um equilíbrio (uma qualidade divina), num contexto onde, por qualquer razão, desponte o desequilíbrio (uma deturpação da natureza divina). É exatamente este o caso da rainha Alceste. Os clamores, os choros, as lamentações amorosas foram benéficos, porque a morte de Alceste, naquelas condições, representava um desequilíbrio das energias cósmicas (aquele não era o dia marcado para a sua morte).

Entretanto, testemunhamos sempre, choros, lamentos e sofrimentos dos que clamam por alguém que morre, e presenciamos enormes comoções quando o morto é um líder político, religioso, esportivo ou consagrado artista. Tais atitudes, embora atendam às necessidades emocionais dos que ficam, não são benéficos para os que se vão. Elas criam, no Plano Astral, uma egrégora, uma energia que não é boa porque prende a consciência vital do moribundo – ou a consciência anímica do recém-falecido – às energias telúricas, não permitindo – ou dificultando – que ela se liberte dos últimos elos que a prendem á Terra, aprisionada pelas energias formadas no astral resultantes dos choros, lamentos e evocações. 
Pois, não dispondo mais aquele ser de condições físicas, mentais, etéreas, dentre outras, para voltar a viver, e tendo sua alma consciência de que deve partir para outros planos que não o físico, forma-se, então, uma situação profundamente prejudicial para ele, que, já em outras dimensões, vive já a realidade de outras necessidades. Precisa, portanto, desligar-se das amarras que ainda o prendem às energias terrenas para prosseguir no novo caminho que lhe está reservado pelas inexoráveis e eternas leis cósmicas.

(“Deus escreve certo por linhas tortas”. Este dito popular encaixa-se perfeitamente bem, neste episódio do Mito).

Apolo, (um deus), havia prometido ao seu protegido, o rei Edmeto, que este não morreria no dia marcado para a morte vir buscá-lo. Hércules passou no reino de Edmeto, exatamente naquele dia para fazer-se cumprir a promessa de Apolo (um deus) ao rei Edmeto e, ao mesmo tempo, não permitir que fosse gerado um desequilíbrio (uma injustiça, uma deformação) com a morte, prematura, da rainha Alceste.

Há uma constante interferência das forças divinas nos desdobramentos de nossos atos e práticas diárias. Interferências que nós nem sequer percebemos. Atuamos, às vezes - e muitas - contrariamente aos postulados das leis cósmicas. Em respeito ao livre-arbítrio que possuímos, as forças divinas não podem interferir diretamente em nossos atos, mas interferem nos seus desdobramentos, e graças a essas interferências o equilíbrio das leis cósmicas é mantido. (É como acertar o rumo de um navio, após um grumete tê-lo desnorteado). Mas nós vamos gerando carma a cada vez que violentamos um postulado das leis divinas e que teremos de resgatar, um dia. “Não cai uma folha seca, sem que seja pela vontade de Deus”, é verdade. Mas Deus não tira cada folha seca da árvore e a joga no chão. Deus é o processo, é a lei que determina o germinar da semente, o nascer e o crescer da árvore, o brotar das folhas, sua maturação, secagem e queda.

Na salvação da rainha Alceste, há todo um processo. Eram, o rei Edmeto e a rainha sua esposa, soberanos justos e bons, amados por todos os seus súditos. Eram protegidos dos deuses (viviam, portanto, em equilíbrio com as energias dos planos superiores). O aparecimento da morte (antítese da vida), indicada pelas Moiras, mensageiras de Hades, o Senhor dos Infernos, representava o desequilíbrio na vida daquele reino harmonioso e feliz. A população do reino, inteira, em piedosas e amorosas penitências, clamava a interferência divina de ajuda a Alceste (livre-arbítrio coletivo, sendo manifestado), conduzindo todo o processo para o “final feliz” que aconteceu.

Se, por outro lado, tais fatos houvessem envolvido soberanos maus, atuantes em energias densas, cujos súditos se postassem indiferentemente ao drama da família real – ou até mesmo desejassem que os dois – rei e rainha – fossem juntos – nada do acontecido ter-se-ia verificado. No desequilíbrio e no caos, prevalecem as leis do desequilíbrio e do caos. Hércules não teria passado por ali. (Ele passou “por acaso,” nada tinha ali – conscientemente - para fazer). E se passasse, nem tomaria conhecimento do drama dos soberanos locais – as energias eram diferentes - e se tomasse conhecimento, não seria acionado – para socorrer a Rainha. Em compensação, ele, Hércules, não teria tido a oportunidade (que teve) de prestar um serviço ao próximo e “contar pontos” na caminhada da sua meta ascensionista.

O fato de Alceste e Edmeto, dois bons soberanos, justos, amados pelos súditos, protegidos pelos deuses, terem sido escolhidos pelas Moiras (entidades perversas, a serviço de Hades, o Senhor dos Infernos) mostra que nenhum ser humano, por mais alto nível de evolução espiritual que possua, está livre do assédio das densas energias dos planos inferiores, do envolvimento de forças que representam a deturpação das qualidades divinas, do equilíbrio e da harmonia.

Lembremo-nos que até mesmo Jesus, no seu mais alto patamar da espiritualidade, foi tentado por Satanás... “o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. E disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então, disse-lhe Jesus: Vai-te Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele servirás. Então o diabo o deixou; e eis que chegaram os anjos e o serviram”. (Mat. 4:8,9,10,11).

Na simbologia do Mito, as quatro éguas de Diomedes representam os quatro corpos inferiores do ser humano: o etéreo, o mental, o astral e o físico (os aspectos da Matéria). Somados, estes, aos três corpos superiores: Presença do EU SOU, Corpo Causal e o Cristo Pessoal (Energias Crísticas), fazem do homem um ser de natureza setenária. A Mônada Divina (a centelha de Deus) ao iniciar o seu processo – involucionário – para a formação do ser humano, (da alma), percorre vários planos: sete ao todo. Após transitar pelos três planos superiores, (das Energias Crísticas), passando sempre dos mais sutis para os mais densos – na sua involução – percorre os vários planos inferiores (aspectos da Matéria) até chegar ao plano físico (o terreno), o mais denso de todos.

Nas suas passagens por esses planos inferiores vai, a alma, impregnando-se cada vez mais das densas energias dos planos por onde vai passando, formando, com tais energias em torno de si, os quatro corpos inferiores – envoltórios de difícil dissolvência. Ao chegar ao plano físico, a alma já traz enorme carga de densas energias que aumenta ainda mais com a densidade deste plano (o terreno).
Estes corpos inferiores – os envoltórios da alma – são os formadores dos egos (vaidade, prepotência, orgulho, ambição, ciúme, paixões, raiva, crenças, medos, inveja... e por aí vai). Hábitos, vícios, limitações e defeitos que constituem a personalidade de cada ser humano. É, a personalidade, (como já foi dito nos simbolismos e ensinamentos do primeiro Trabalho de Hércules, o Leão da Nemeia), o maior inimigo do ser humano no caminho da evolução espiritual. Se não for domada, equilibrada, controlada, leva o indivíduo a cometer os mais absurdos atos e ações contra os princípios da convivência humana; contra os postulados das leis cósmicas e – inconscientemente – contra si mesmo, vítima da inexorável Lei Cósmica do Retorno, distanciando-se assim, cada vez mais, do caminho da cristicidade. Atuam, portanto, os quatro corpos inferiores no ser humano, como as quatro éguas antropófagas de Diomedes, devorando os inconscientes náufragos que se deixam envolver pelas suas vorazes mandíbulas – os egos – e, como Diomedes, são vítimas da antropofagia alimentada por eles próprios.
A mansidão e docilidade com que as éguas obedecem a Hércules, simbolizam o avançado estado evolutivo em que este se encontra. Com as energias dos seus quatro corpos inferiores transmutadas em qualidades divinas, sua personalidade auto-controlada, pôde ele, aproximar-se, soltar as quatro éguas, conduzindo-as, dóceis, à presença de Diomedes sem a menor ameaça. Somente ao aproximar-se de Diomedes (com os egos todos exaltados, formando uma personalidade cheia de vícios e defeitos) voltam as éguas à ferocidade anterior e o destroem, devorando-o.

“Na doutrina metafísica dos druídas, o iniciado deve passar por oito estados de consciência ou oito comprimentos de onda (infravermelho, vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, violeta, ultravioleta) que são encadeados no círculo de Abred (círculo da necessidade, círculo de reencarnações...) antes de chegar à libertação espiritual no círculo de Gwenwed, ou círculo da Luz branca. O oito é frequentemente o número de prova da “morte de iniciação.” Quem “compreende” o oito se despoja de sua personalidade para revestir a universalidade do cosmos”.

Hércules neste seu 8º Trabalho (número oito) inicia um mergulho nas densas energias dos planos inferiores. Mergulho que continuará nos seus próximos Trabalhos. Ele vai, a partir de agora, passar pelas mais difíceis provas no seu caminho evolucionário. Provas que vão medir o seu nível de conhecimento das leis ocultas e testar a sua preparação para galgar os últimos degraus que o levarão à sonhada Ascensão.

Somente a experiência leva o ser humano ao Conhecimento que deve ser transformado em Sabedoria. E unicamente a Sabedoria – filha do Conhecimento – poderá levar o homem à iluminação espiritual. Hércules – como todo postulante à ascensão espiritual – tem, primeiro, de descer às profundezas dos mais baixos planos, passar pelas densas energias que ali permeiam, sem se deixar por elas contaminar. Somente assim – sem contaminação – poderá ele subir às etéreas regiões e conhecer a suprema glória da imortalidade. 


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