quarta-feira, 13 de novembro de 2013

2º TRABALHO
A HIDRA DE LERNA

O Mito

Já transcorrera bastante tempo desde o primeiro Trabalho realizado. Hércules descansa, percorrendo as extensas pradarias das regiões gregas, encobertas pelas douradas espigas dos trigais que, flexíveis, deixam-se embalar pelas amenas brisas das manhãs. Assim descansando, repousando, vai Hércules refletindo, meditando sobre o Trabalho realizado e preparando-se para as futuras tarefas.
Euristeu lá do seu palácio real maquina, dia e noite, à procura de um novo e difícil trabalho para impor a Hércules. A deusa Hera interfere nos pensamentos de Euristeu que, de repente, lembra-se do horrível pântano de Lerna, na região de Argos, no interior do seu reino. Esse pântano exala uma fedentina tão grande que empesta toda a região. A população local está abandonando suas casas, procurando moradias em outras áreas. As aves todas já fugiram daquele local. Os animais não se aproximam do fétido pântano. Até mesmo a pastaria lá, já se está acabando.
No pestilento pântano habita um monstro. Uma gigantesca hidra, a hidra de Lerna! A população local da região, desesperada, teme, a qualquer hora, um ataque desse peçonhento animal. Possui, a terrível hidra, nove cabeças. Oito delas, se decepadas, renascem, transformando-se cada uma, em duas cabeças. A cabeça restante é imortal! Esse pântano originou-se de uma tênue corrente de límpidas águas, nascidas de um minadouro próximo, ali represadas. Com o tempo o minadouro desaparecera. Das águas – outrora límpidas – surgiu esse pavoroso monstro, responsável pela enorme fedentina que ali exala. Lembrando-se do pântano e da hidra, Euristeu manda chamar Hércules. Hércules apresenta-se em palácio e Euristeu ordena-lhe:

- Vá á Lerna e destrua a terrível Hidra

Hércules recebe, humildemente, a ordem do autoritário rei, seu primo; curva-se aceitando a tarefa e sai de palácio, mas sai muito assustado! Já matara o leão da Nemeia e teria agora de destruir esse outro monstro, de nove cabeças, sendo uma imortal! E as outras oito que, quando decepadas, transformam-se em duas, cada uma! O que fazer – e como fazer – para destruir uma hidra com uma cabeça imortal? - Pensa Hércules.

Apanha a sua aljava cheia de setas, pega sua inseparável clava, apanha o escudo, mune-se de afiada faca, e lá vai Hércules (lá vamos nós) para Lerna, a região do fétido pântano onde habita a monstruosa hidra. Assim armado, encaminha-se Hércules para a região pantanosa. Depois de muito andar sente que se está aproximando da região do malcheiroso pântano, pelo forte odor de podridão que aparece e, à medida em que avança mais a horrível fedentina vai aumentando, aumentando... E Hércules vai avançando e o fedor é cada vez mais insuportável. A fedentina é tão grande e vai aumentando tanto, tanto, que Hércules ao chegar à margem do pântano recua horrorizado; tem ímpeto de sair dali correndo! Mas para e pensa: “Não! Eu tenho de cumprir o trabalho!” Concentra-se com todo o poder de sua vontade e avança para o pântano.
Recorrendo às últimas reservas de sua vontade, entra no pestilento pântano e avista enroscada na lama daquela enorme podridão, a monstruosa hidra com as suas nove cabeças prontas já para o bote fatal, que mal permite a Hércules desviar-se do violento ataque. Ágil, com a sua amolada faca, decepa a mais próxima das cabeças, a que quase o atingira no ataque do monstro. Na parte onde a cabeça fora decepada, duas outras logo surgiram, incorporando-se às outras que já preparam para novo bote. Hércules recua. Sai do pântano. (Agora a hidra já tem dez cabeças). Vai ele então refletir, pensar, meditar; buscar o discernimento para encontrar u’a maneira de vencer o perigoso animal.

Pensando, refletindo, meditando, Hércules lembra-se dos ensinamentos que lhe foram transmitidos na juventude pelos deuses, a mando de Zeus. Ensinamentos que ele, Hércules, nunca, antes, pusera em prática, e até houvera deles esquecido. Lembrando-se agora, faz ele um grande archote e volta a Micenas. No Santuário do Palácio real é mantida, permanentemente, uma chama acesa no altar. Nessa chama ele acende o archote, e com ele aceso, volta à região pantanosa conduzindo, também, suas tradicionais armas. Munido de tais ferramentas, ao chegar ao pântano investe, rápido, contra a hidra, evitando que ela arme um novo bote. Á medida em que vai decepando cada cabeça, com o fogo do archote vai cicatrizando logo cada ferida deixada. Consegue, assim, cortar todas as cabeças... mortais da hidra. Resta, agora, a cabeça imortal que nem mesmo o fogo destrói!

Deixa ele a hidra – com sua cabeça imortal – dentro do pântano e vai então meditar, pensar, refletir, tentar encontrar um meio de destruir a cabeça imortal! E refletindo, pensando, meditando sempre, volta a recordar-se dos ensinamentos dos deuses. Lembra-se da experiência que ele teve com o leão da Nemeia – mudando os hábitos da fera para enfraquecê-la – e, resoluto, corre para o pântano e vai direto para a furiosa hidra que, com a sua cabeça imortal revolvia toda a podridão do pântano, boca escancarada, língua sibilando à procura do inimigo que a decepara, pronta para arremessar o certeiro bote. Hércules joga-se ágil, por baixo do asqueroso monstro, misturando-se à lama do pântano, e suspende no ar o corpulento animal. Mantido suspenso no ar, aos poucos o monstro vai se enfraquecendo. Sua língua se recolhe. Sua horrível boca se fecha e os poderosos anéis formados daquele gigantesco corpo que, como fortes tentáculos procuravam envolver Hércules, vão afrouxando, vão se enfraquecendo, amolecendo, e a cabeça imortal, pende desfalecida. Hércules, mantendo-a sempre no ar, decepa-lhe a cabeça imortal. Abre a uma certa distância do pântano uma cova profunda, enterra a cabeça imortal e coloca por cima da cova uma enorme pedra. Com as oito cabeças mortais conduzidas, cuidadosamente, num saco, porque uma gota apenas daquele sangue é um poderoso e mortal veneno, volta Hércules para Micenas. Vai comprovar a realização do Trabalho para o rei Euristeu. Apresenta-se ao Rei e diz:

- Trabalho realizado!

E exibe as oito cabeças decepadas. Euristeu quando vê aquelas horrendas cabeças da hidra, tremendo de medo corre e se esconde no vaso de bronze. Hércules volta à região do pântano e enterra cuidadosamente as venenosas cabeças decepadas da hidra. E vai para a pradaria descansar e se preparar para a realização de um futuro Trabalho.

Simbolismos e Ensinamentos

O simbolismo da hidra de Lerna no pântano fétido, espalhando grande mau cheiro, representa a exacerbação das nossas emoções, das nossas expansões sensoriais que sempre causam enorme mal-estar a quantos nos cercam; causam desagradáveis impactos – simbolicamente fétidos – de nossos atos não reprimidos, de ações gritantemente agressivas que a todos incomodam. É como um odor muito desagradável e que leva as outras pessoas a afastarem-se do nosso convívio. Isso acontece no dia a dia, a toda hora.
Água, na simbologia dos ensinamentos esotéricos, representa, sempre, as nossas emoções: boas, se representadas por uma água límpida, por uma corrente transparente de um rio; ou más, se representadas por água suja, estagnada. A hidra de Lerna habita um pântano (lama, água suja, estagnada). São os seus elementos – as emoções – que misturadas aos elementos materiais (a terra do pântano), levam as pessoas a explosões emocionais quase sempre prejudiciais a si próprios e aos que lhes estão próximos. E tais explosões eclodem a qualquer instante, inesperadamente – o bote da hidra – não respeitando qualquer lugar. É numa reunião de condomínio residencial, num papo sobre futebol, numa sala de conferência e até mesmo numa discussão sobre um tema religioso. De repente a gente toma a palavra e, exaltado, não deixa mais ninguém falar! E aquele “mau hálito” se espalha por toda a sala, envolvendo todos num grande mal-estar. É no relacionamento doméstico, nas desavenças entre pais e filhos, entre marido e mulher, na maioria das vezes por motivos insignificantes.... São agressões de um lado... Palavrões do outro... Pancadarias... E sempre na presença dos filhos (menores) que recebem aquela carga de densas energias, criando em si, deformações e inseguranças que os acompanharão para o resto da vida.

Tais deformações, inseguranças – e exemplo – vão, por extensão – refletir-se nos filhos (netos, futuras gerações) formando uma triste cadeia sucessória, herança perniciosa que poderá levar os “herdeiros” a uma vida de desajustamento e, até, de marginalidade. Quantos casamentos desfeitos... Laços familiares extintos... Pelos botes traiçoeiros da malcheirosa hidra?!...

E a pessoa se compromete consigo mesma a controlar-se da próxima vez e não mais permitir que tal situação se repita! Mas tudo acontece novamente e, às vezes, de maneira ainda pior. (São as cabeças da hidra renascendo duplicadas). Inesperadamente (olhe elas!) a gente dá murros na mesa, quebra a cara dos outros (também, às vezes, sai de cara quebrada), briga, às vezes mata, ou morre... E o envolvimento emocional vai tomando conta da pessoa (enroscando-se como uma serpente) e, sem a pessoa sentir ou sentindo-se impotente, vai se transformando num ser reconhecidamente temperamental, irascível; numa pessoa grosseira, bruta, intratável. E o que fazer?! Primeiro prepararmo-nos para enfrentar a terrível hidra, munindo-nos de nossas armas, como fez Hércules: Nosso escudo, simbolizando uma permanente e atuante vigilância; do archote, representando a vontade de nossa mente criadora, o fogo sagrado: O poder da vontade que Hércules usou quando teve ímpeto de fugir, correndo, do pântano fétido, e pensou: “Não! Eu tenho que realizar o Trabalho!”

Com o escudo de permanente vigilância, o archote do poder da vontade e o uso do discernimento, transmutaremos os aspectos negativos do ódio, da ira, da intolerância, da incompreensão geradores das nossas danosas emoções – nas divinas qualidades do amor, da concórdia, da tolerância, da compreensão, condutoras de uma vida tranquila e equilibrada.E assim vamos matando, uma por uma, as cabeças – mortais – da hidra. Mas resta ainda a cabeça imortal!
Hércules joga-se debaixo da hidra, alçando-a no ar, porque aprendera com os deuses – seu Eu Superior – que o ar e o fogo representam o poder espiritual, enquanto que a terra e a água representam o lado material. São os pares de opostos: fogo/ar; terra/água. Ao se juntarem estes opostos, formam um todo harmônico que atua nos seres humanos como fator de equilíbrio, transmutando a lama das perniciosas emoções num sentimento de sublime envolvimento. Ao suspender a hidra no ar, Hércules a desloca dos seus elementos: água e terra (o pântano é formado de água e de terra). A hidra se enfraquece e enfraquecendo-se perde a sua condição de imortal. Ao suspendê-la, Hércules transporta os aspectos materiais (terra e água, elementos do pântano), para mais elevados e sutis planos, e dá-se, então, a junção dos opostos (água/ar): o encontro dos densos elementos materiais com as refinadas vibrações dos planos superiores; fusão espírito/matéria. Em contato com as vibrações divinas os aspectos materiais se enfraquecem, fazendo desfalecer a cabeça imortal da hidra, permitindo assim a Hércules, mantendo-a sempre no ar, decepá-la. Ao elevarmos nossas densas emoções a planos mais altos – num encontro de opostos – estaremos transmutando-as em refinados sentimentos.

A cabeça imortal da hidra são os aspectos crônicos de nossas emoções e hábitos. Fortemente sedimentados em nossa personalidade, agarrados, muitas vezes já incorporados ao nosso ser a ponto de sentirmo-nos totalmente impotentes para dominá-los. Tornam-se, assim,  indestrutíveis, “imortais”. Para enfrentá-los temos que recorrer a meios que transcendam aos nossos próprios recursos. Temos que ir buscar ajuda num profundo e paciente trabalho de auto-reeducação; de reformulação de antigos conceitos; de mudanças no comportamento de vida, menos materialista, menos competitiva; com práticas corporais de Yoga, Tai-Chi-Chuan; meditações e exercícios de relaxamento; adoção de hábitos alimentares com eliminação de carnes, e prática de uma dieta mais vegetariana, com menor ingestão de sódio (yang) e mais ingestão de potássio (yin). Adotarmos uma prática de mastigação mais lenta e mais prolongada. Praticarmos exercício de respiração correta, dando maior ênfase às funções do diafragma. Desenvolvermos uma visão de vida mais voltada para os valores espirituais. Tais comportamentos trarão, certamente, muito maior segurança no enfrentamento da vida.

As questões materiais são as grandes responsáveis pelas nossas maiores e mais crônicas explosões emocionais: é um negócio mal sucedido, um desentendimento no emprego – e o medo de perdê-lo; é a falta de dinheiro, um plano que fracassou... O que fazer? Bater, xingar, culpar a terceiros, matar, agredir? Não! O que se deve fazer é uma grande reflexão e buscar em planos mais elevados as explicações para tais desencontros, quase sempre decorrentes de nossos próprios erros, de nossas grandes limitações. Devemos procurar identificar as causas responsáveis pelas deturpações das qualidades divinas da paz em aflição; da tranqüilidade em desespero; do prazer em dor; da harmonia em conflito; do amor em ódio. Usar o discernimento e localizar os fatores realmente responsáveis pelo insucesso no negócio; tentar compatibilizar os gastos com os recursos disponíveis; procurar entender e anular as causas geradoras do desentendimento no emprego; ser mais cuidadoso na elaboração dos planos, dos negócios, e assim por diante. Usar o fogo da mente criadora, o poder da natureza divina que o ser humano tem em si, e que, se aplicado com sabedoria, é a chave que abre os portais para os imensos salões da paz, da tranquilidade, da harmonia, da felicidade, e da concórdia entre os seres humanos, na Terra.

Na linguagem esotérica dos números, o 9 – três vezes três – (as nove cabeças da hidra) simboliza a iniciação do homem no Plano Superior. Hércules, para vencer a hidra – de 9 cabeças - primeiro cicatriza as feridas deixadas com o corte das cabeças mortais, com o archote aceso na chama permanente existente no Santuário do Altar do palácio. (O fogo é um símbolo sagrado. Representa a presença da natureza divina). Depois, recordando-se dos ensinamentos dos deuses – seu Eu Superior – sobre o par de opostos, portando, atuando em nível superior, desloca a hidra dos seus elementos (pântano=água+terra), enfraquecendo-a, para então matá-la. Contra o leão da Nemeia, seu primeiro Trabalho, aplicou Hércules, o discernimento em nível inferior, intelectivo. Usou a sua força física, seus próprios recursos. No segundo Trabalho, a hidra de Lerna, ele já usa o discernimento em nível mais alto, iniciando - se, assim, na caminhada aos Planos Superiores. A simbologia do aspecto sagrado do fogo e de seu uso pelo ser humano, na Terra, leva-nos a outro mito grego de grande beleza e que se conecta com o Mito de Hércules em um dos seus 12 Trabalhos: “O Mito de Prometeu” (que logo adiante é narrado).

(Por que Hércules enterra a cabeça imortal da hidra numa cova profunda e coloca uma enorme pedra por cima?)

Porque nossas emoções, exacerbadas, tornando-se crônicas, incorporam-se de tal modo à nossa personalidade, sendo quase impossível eliminá-las. Necessita-se, para dominá-las, de uma permanente vigilância – uma cova profunda – com uma grande pedra em cima aprisionando-as para evitar que lá um dia, inesperadamente, ela (a cabeça), irrompa da hibernação do seu pântano fétido e com redobrada fúria, ataque suas surpreendidas vítimas.

(O vaso de bronze onde Euristeu se esconde)

Na Grécia de então eram usados enormes vasos de barro (e até hoje suas réplicas podem ser vistas por turistas em Creta, ilha grega) para o transporte dos guerreiros quando iam para as arenas, enfrentar os bravos touros, em competições. Simbolizavam tai vasos – naquela época – o aconchego do útero materno, o sentimento protetor do amor materno, àqueles que iriam – logo depois – arrostar os perigos, às vezes mortais, da arena. No caso do rei Euristeu, o vaso de bronze simboliza o esconderijo do homem covarde, medroso, que não assumindo os seus atos e mandos, corre a esconder-se, tremendo de medo, no primeiro buraco – o vaso de bronze – que encontrar, na hora dos acertos de conta.

O Mito de Prometeu

Já foi dito atrás haver uma conexão, um entrelaçamento, entre fatos de um mesmo mito, entre fatos de diferentes mitos na mesma mitologia e, até, entre fatos ocorridos em mitologias diferentes: grega, hindu, egípcia, eslava e outras. Isto porque todas as mitologias falam da mesma Unidade Primordial, do mesmo Princípio Criador, dentro do qual todas elas (e também nós) se encontram. Assim também são as nossas vidas. Formadas de fatos isolados, esparsos, aparentemente desconexos entre si, mas que no balanço final é o somatório dos esparsos fragmentos vividos no dia a dia, numa só unidade, a própria vida. Isto é o que acontece na conexão que há entre os mitos: “Os 12 Trabalhos de Hércules” e o “Mito de Prometeu”.
Prometeu é, fora de dúvida, o maior de todos os benfeitores da humanidade. Ele é um Titã, um deus. Vive no Olimpo. É o guardião de todo o Conhecimento. Depositário de toda a Sabedoria. Somente ele conhece os segredos e destinos de todos os deuses do Olimpo, e por mais que estes peçam, em obediência a uma lei de força cósmica ele não os pode revelar.
Lá do alto de sua morada, Prometeu acompanha com pesar o drama dos seres humanos na Terra, que ainda inconscientes e néscios, vagavam, como animais irracionais, pelos quatro cantos do mundo nos primórdios da Terceira Raça Raiz, a raça Lemuriana. Assim penalizado com o miserável viver do ser humano, Prometeu vai até ao local onde fica a fornalha do Olimpo, (o centro do Poder Sagrado, já que o fogo representa o poder da mente de deus; simboliza toda a vontade e sabedoria divinas) e, sem que o deus Héfesto, o guardião do fogo perceba, ele, Prometeu, apanha da sagrada fornalha parte daquele fogo – portanto – parte da mente divina, do poder divino, da consciência divina – e joga esse fogo para a humanidade na Terra. Cada ser humano recebe uma fagulha, uma centelha do fogo sagrado e com ele as qualidades divinas que ele contém. Possuímos, assim, cada ser humano, uma fagulha do fogo, uma centelha, as qualidades sagradas que o fogo simboliza – mas não possuímos a chama, o fogo.

Transformamos essa fagulha em chama, quando, no final da senda, alcançarmos a plena iluminação da Sabedoria Divina.
Mas Prometeu vai pagar muito caro (e ele sabia disso) o preço de ter dado consciência ao ser humano, transformando-o de um animal irracional que éramos, no ser humano que somos. Zeus quando soube que Prometeu havia apanhado o fogo sagrado – um privilégio único dos deuses – e jogado para o homem, fica irritadíssimo. Expulsa Prometeu do Olimpo, e resolve aplicar-lhe um imenso castigo, que leva o heróico deus a muito sofrimento pela enorme ajuda prestada aos seres humanos, hoje chamados, genericamente, de “os filhos de Prometeu”.
Zeus conversa com Hermes, o mais astucioso dos deuses; chama Héfesto, o guardião das fornalhas do Olimpo, de onde Prometeu apanhou o fogo sagrado, e manda que Héfesto molde u’a linda mulher. Héfesto envolto em enorme sofrimento por ter sido roubado o fogo – importantíssimo material sob a sua guarda – apanha, chorando, o barro, e com suas lágrimas misturadas ao barro, forma uma lama e com esta, molda u’a belíssima mulher e a entrega a Zeus. Zeus manda que Hermes lhe dê vida; chama Atena, a deusa da Sabedoria e manda que lhe dê Sabedoria. Chama Afrodite, a deusa do Amor, e manda que lhe dê todas as malícias e encantos femininos. Determina então Zeus, que essa mulher, com tais atributos, desça à Terra e vá conquistar Epimeteu, irmão de Prometeu. Dá-lhe, Zeus, como presente, uma caixinha lacrada, contendo dentro todas as qualidades divinas que o ser humano recém-adquirira quando obteve, com o fogo sagrado, a sua consciência. Essa lindíssima, sensualíssima mulher é Pandora (a primeira mulher) e sua famosa “caixinha de Pandora” que, em versão popular simboliza o órgão sexual feminino.

Zeus, conhecedor da natureza humana (é ele deus dos deuses) manda que Pandora vá conquistar Epimeteu, porque este representa, exatamente, o aspecto dual – a contraparte – de seu irmão Prometeu. Enquanto este é o guardião de toda a Sabedoria – e certamente – sabe Zeus – não se deixaria envolver pelo seu plano ardiloso – Epimeteu, o irmão de Prometeu, sua outra parte (o aspecto dual que todos nós temos), ao contrário, detém todas as deformações das qualidades divinas de Prometeu. Faltam-lhe a força mental, o poder da vontade, a sabedoria... Ataca, assim, Zeus, o ponto vulnerável de Prometeu, e que todos nós, seres humanos também possuímos, por força dos aspectos duais, também presentes em nós. 
Munida de tão envolventes ferramentas, desce do Olimpo a belíssima, sensualíssima, (e outros “íssimas” mais), Pandora, trazendo consigo, para tumultuar a cabeça dos terrenos, que ainda não sabiam – como ainda não sabem – usar conscientemente o grande presente do fogo sagrado que Prometeu lhe fizera - a encantadora “caixinha”, lacrada por Zeus com todas as suas qualidades e aspectos duais dentro. Quando Epimeteu vê aquela mulher, com todos aqueles atributos, aproximar-se dele, apaixona-se automática e loucamente por ela. Prometeu chama o irmão e diz:

- “Cuidado! Isto é armação de Zeus! Não se apegue a ela!”

Desde que fora banido do Olimpo, Prometeu não mais teve acesso à antiga morada, aos banquetes divinos. Completamente marginalizado, não possuía qualquer informação do que lá estaria ocorrendo. Mas conhecendo Zeus como ele conhecia, sabia muito bem que algum plano estava sendo preparado para castigar-lhe. Epimeteu, evidentemente, não dá a menor importância para os avisos do irmão e cada dia mais se apaixona por aquela mulher, literalmente “um presente dos deuses”. Mas, loucamente apaixonado, a cada dia fica mais intrigado com aquela “caixinha” sempre fechada que Pandora não deixa um só instante. Caixinha esta, que ela não lhe permite, sequer pegar, por mais que ele lhe peça.

Um dia, tomado de ciúmes e aproveitando um descuido de Pandora, plaft! Pega, Epimeteu, a “caixinha” e, sofregamente, abre-a. Aberta a “caixinha”, lá se foram para o espaço, espalhados pelo ar, todas as qualidades – divinas – que a mente humana pode conter, mas com todos os seus aspectos duais: (amor/ódio; humildade/orgulho; destemor/medo; saúde/doença, etc). Na tentativa de fechar novamente a “caixinha”, Prometeu somente conseguiu evitar a saída da esperança, que se manteve dentro dela. Por isso é que até hoje, quando tudo parece acabar para o ser humano – as oportunidades, as benesses, o bem-estar voam pelo espaço – resta-lhe, ainda, a esperança (de curar-se de uma enfermidade, de arranjar um emprego, melhorarem os negócios, de dias melhores, etc). “A esperança é a última que morre”, assim dizem.

Conhecendo Zeus o amor de Prometeu pelos seres humanos - os chamados “Filhos de Prometeu” (6) – manda um dilúvio – e aí há uma conexão do Mito de Prometeu com o dilúvio bíblico. Passam-se as águas, salvando-se apenas dois filhos de Prometeu (Deucalião e Pirra) um casal (o simbolismo dos casais de cada animal na arca de Noé) que repovoam a Terra.
Prometeu, um Pitri Solar, um Elohim, um ser altamente iluminado expulso do Olimpo, percorre então o mundo observando, ajudando, orientando o incipiente ser humano no alvorecer do uso de sua consciência. Percorrendo, assim, o mundo, sobe Prometeu ás altíssimas  montanhas do Cáucaso e de lá de cima, do “pico Eubruz,” o ponto mais alto do Cáucaso, contempla o mundo agora habitado por seres conscientes, portadores, agora, da centelha da natureza divina.
Zeus, de lá do Olimpo, com sua poderosa mente, capta aquela cena e penetra nos pensamentos de Prometeu. Fica irritadíssimo. Resolve usar o seu poder de “deus dos deuses” e decreta logo um drástico castigo a Prometeu. Chama Héfesto, o deus do fogo – de quem Prometeu subtraíra o fogo sagrado que jogara para os seres humanos – manda que este faça uma possante corrente e encadeie, nas montanhas do Cáucaso, lá no alto do Pico Eubruz, o deus Prometeu. Decretou, ainda, Zeus, que uma águia devoraria, diariamente, o fígado do deus acorrentado, fígado que deveria renascer todas as noites para ser devorado novamente, pela voraz ave de rapina, no dia seguinte. E o decreto é cumprido. Prometeu é encadeado no alto das montanhas do Cáucaso e, dias após dias, noites após noites, anos após anos, séculos após séculos, milênios após milênios – porque os deuses são imortais, são eternos – permaneceu Prometeu no seu divino suplício, mas não arrependido do que fez pela humanidade.

Prometeu simboliza a própria humanidade na busca de sua grandeza espiritual, o fogo sagrado. Mostra, também, que no momento em que a alma desce ao plano físico, ao plano terrestre, ela fica inibida (acorrentada) de progredir no mundo Olímpico, nos planos espirituais. É a alma humana, o Prometeu acorrentado à espera de um herói que possa libertá-lo. Porque Zeus, passados milênios e vendo o sofrimento de Prometeu, põe um adendo no seu decreto, dizendo: “Até que um herói vá libertá-lo!” Esse herói é Hércules! Nós vamos acompanhá-lo libertando Prometeu – em um dos seus 12 Trabalhos. 

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