quarta-feira, 13 de novembro de 2013

12º TRABALHO
AS MAÇÃS DE OURO DO
JARDIM DAS HESPÉRIDES
O Mito

Tudo começou no casamento de Hera com Zeus. Na sublime festa realizada antes mesmo de Zeus formar o Olimpo e lá instalar o seu supremo trono, Reia, (filha de Geia, a Terra), mãe de Hera, deu de presente à filha, quatro lindíssimas maçãs de outro. Tais frutos dariam a quem os possuísse o acesso à Sabedoria Divina, portanto, ao conhecimento da essência de Deus.

Hera, deusa-rainha da Terra por herança materna manda que os maravilhosos frutos sejam cultivados em belíssimo jardim implantado nos seus domínios. Entretanto, para evitar que os “néscios e mortais terráqueos, criaturas inferiores, totalmente desprovidas de qualquer parcela de consciência e raciocínio”, pudessem um dia destruir, por ignorância, tão grandioso presente, determina Hera que esse jardim seja instalado em lugar inacessível a tão “estúpidos seres”.

Ordena, ainda, que os frutos fossem cuidados, permanentemente, pelas quatro lindas ninfas do poente, as Hespérides – Egle, Erítia, Aretusa e Héstia, cada u’a mais encantadora – e guardados, vigilantemente, por um imenso dragão de cem cabeças. Sempre que cinquenta cabeças dormiam, as outras cinquenta vigiavam.

Euristeu que antes mandara Hércules buscar Cérbero, o guardião da entrada de Hades, com medo de ir para os Infernos quando morresse, quer, agora, ter acesso à Sabedoria Divina, como um meio de ir para o Céu. Sabe ele da existência das maçãs de ouro plantadas no Jardim das Hespérides. Só não sabe, como ninguém sabe, onde fica o tão maravilhoso Jardim. Manda chamar Hércules que medita no interior do reino, e lhe diz:

- Cumpra o seu último Trabalho! Vá ao Jardim das Hespérides e traga-me de lá, as Maçãs de Ouro!

Hércules humildemente curva-se perante Euristeu em consentimento à ordem recebida e silenciosamente retira-se do palácio real. Volta para o campo. Retoma ás suas reflexões. Vai meditar, pensar, refletir em como realizar este último Trabalho para Euristeu. Nas suas reflexões percorre ele, com a sua memória, as várias etapas na sua caminhada, identificando o que em cada uma delas aprendera. Sabe Hércules que este é o Trabalho que o irá conduzir à tão sonhada presença do Pai, ao conhecimento da sua divina essência.

Até então – pensa – ele conhecera alguns dos divinos aspectos, através dos deuses emissários que, a mando do Pai, tanto o ajudaram. Emociona-se ao pressentir que se aproxima o momento do tão desejado encontro. Mas, onde?- Pergunta - Eu hei de encontrá-lo? Sabe Hércules que, para encontrar Deus, ele terá que descobrir, sozinho, o caminho do Céu e subir ao Olimpo para o maravilhoso reencontro. E esse caminho – ele sabe – está no Jardim das Hespérides, são “As Maçãs de Ouro”, os frutos sagrados da deusa Hera. Parte, então, Hércules, na sua incessante busca de Deus, por toda parte.

Percorre, anos e mais anos, todos os rincões da Terra. Vai ao Norte, vai ao Sul, Vai a Leste e a Oeste. Ninguém lhe sabe dizer onde fica o Jardim das Hespérides.

Solitário, cansado de tanto procurar, caminha Hércules por uma longa estrada, quando na sua direção vem um ancião, o velho Nereu. Pergunta-lhe Hércules pelo procurado Jardim. O ancião, sem nada responder, transforma-se num animal. Hércules insiste na pergunta e o animal transforma-se num pássaro. A cada pergunta de Hércules, uma nova metamorfose de Nereu.

Hércules deixa então Nereu com suas metamorfoses e segue em frente, na mesma longa estrada. Vai em direção às regiões marítimas. Nas proximidades do mar encontra-se com um gigante, filho de Posseidon, o deus dos Oceanos. À costumeira pergunta de Hércules, nada responde o filho de Posseidon, mas o desafia a lutar, tentando barrar-lhe a passagem. Hércules assim forçado, aceita a luta e após renhida batalha, o gigante é vencido, mas Hércules não consegue dele qualquer informação sobre o procurado Jardim. Segue adiante e depois de andar por algum tempo é cercado por u’a multidão de pigmeus, - moradores de grutas subterrâneas - que também tentam barrar-lhe os passos.

Nova batalha e Hércules consegue abrir caminho por entre os pigmeus e prossegue na sua cansativa busca. Passa pelo reino de Busiris, famoso na região pelos conhecimentos ocultos que dizia possuir. Era, Busiris, cultuado como um grande mestre nos conhecimentos velados e empolgava com suas palavras e conceitos tantos quantos dele se acercavam na busca de conselhos e ensinamentos.

Hércules vai procurá-lo e pergunta-lhe onde fica o Jardim das Hespérides. Busiris responde-lhe, que, mestre do conhecimento que é, claro que sabe onde fica o procurado jardim. Mas não poderia dizer a Hércules porque este ainda não possui o grau de conhecimento para entender o caminho. Teria, Hércules, de permanecer ali, junto a ele, Busiris, aceitando - o como seu guru, acatando os seus conselhos, realizando obrigações que ele, Busiris, determinasse. Os caminhos do Jardim procurado ser-lhe-iam ensinados, tão logo possuísse Hércules condições de entendê-los.

Hércules após conviver com Busiris por algum tempo, logo vê nele um impostor. Afasta-se dali e prossegue sua viagem. Cada dia mais cansando, às vezes eufórico, às vezes desanimado, vai Hércules caminhando rumo ao Oriente, vai na direção do Cáucaso. E de tanto andar chega, exausto, aos pés das montanhas caucasianas. Mesmo assim, cansado, resolve subir ao “pico Eubruz”, para Hércules o lugar, na Terra, mais próximo do Céu, de Deus.

Começa sua exaustiva subida. E à medida em que vai subindo, mais aumenta o cansaço, e o enfraquecimento já começa a invadir aquele corpo acostumado a enfrentar as mais duras provas. Mas, à medida em que vai subindo e o corpo físico vai se enfraquecendo, mais cresce um sentimento interior de confortável bem-estar. A cada ponto mais alto galgado, maior a convicção de estar indo na direção certa. Subindo sempre, como um ponto perdido naquele mundo colossal de altíssimas montanhas, mais parece Hércules, se observado de longe, um minúsculo inseto, em vãs tentativas de ultrapassar constantes obstáculos no seu caminho de subida ao inacessível pico.

A cada lance penosamente vencido, a exaustão que lhe toma o corpo é compensada pelo deslumbramento que o envolve ao contemplar – das proximidades dos céus – a vastíssima amplidão que majestosamente se desnuda ante seus olhos. E, andando sempre e assim continuando, aproxima-se Hércules do ponto mais alto do pico Eubruz.

Exausto ao chegar, antes mesmo de parar o seu exaurido corpo, ouve Hércules, profundos gemidos de dor, vindo de um elevado, alguns metros distantes. Olha, surpreso, nessa direção e vê um homem fortemente acorrentado ao rochedo, com o corpo exposto e uma enorme águia sobre ele, a devorar-lhe, ferozmente, o fígado. Hércules identifica logo, naquele ser ali aprisionado, o deus Prometeu, “o pai dos homens”. Fora Prometeu ali acorrentado por determinação de Zeus, como castigo por ter ele apanhado do Olimpo e dado aos seres humanos o fogo sagrado da mente. Transformando-os assim, de criaturas inferiores e néscias, sem capacidade mental que eram, em seres pensantes, inteligentes, dotados de consciência.

Ao ver aquele quadro de sofrimento, reúne Hércules todas as forças que lhe restam, corre em direção de Prometeu. Da águia voraz que lhe devora o fígado, torce-lhe o pescoço, fazendo-a rolar pelo despenhadeiro da montanha. Com redobrado esforço, arrebenta as fortes correntes que prendem o deus e faz de Prometeu, “um deus libertado”. Cumpre assim, Hércules, o decreto do próprio Zeus que, na condenação a Prometeu, dissera: “Até que um herói o vá salvar!”

Tomado por intensas dores, enfraquecido (mas não arrependido do que fez) pelos milênios de sofrimento impostos naquela horrenda prisão, Prometeu, cambaleante ainda, ouve de Hércules a costumeira pergunta: - “Onde fica o Jardim das Hespérides?” Prometeu não sabe. Mas diz que o seu irmão, o titã Atlas, condenado a carregar o mundo nas costas por ter lutado ao lado dos Titãs contra os deuses do Olimpo, possivelmente saberia o local. Carregando o mundo nas costas, certamente deveria conhecer todos os seus recantos. E indica a direção do local onde Atlas poderia estar, cumprindo a sua eterna condenação. Desce Hércules do alto do Pico Eubruz, nas montanhas do Cáucaso e se dirige para as regiões, onde, espera encontrar o gigante Atlas, carregando o seu pesadíssimo fardo.

Depois de muito e muito andar, avista ao longe um gigantesco homem carregando nas costas enorme esfera. Arqueando sob aquele tremendo peso, cambaleia, mal podendo manter-se em pé. É o gigante Atlas cumprindo o seu eterno castigo. Hércules aproxima-se dele e lhe pergunta onde fica o Jardim das Hespérides, que ele precisa encontrar, diz – “para apanhar os frutos sagrados”. O titã não responde, mas pede a Hércules que o ajude, por alguns instantes, a carregar a esfera terrestre, para que ele possa descansar um pouco daquele terrível peso.

Penalizado com o sofrimento de Atlas, esquece-se Hércules, por instantes, do Jardim das Hespérides e aceita ajudar a Atlas, permitindo que a grande esfera seja colocada sobre os seus próprios ombros. O colossal peso daquela imensa bola, faz Hércules cambalear e quase ir ao chão. Atlas, livre da gigantesca e pesada carga, sai em disparada carreira na direção do Oeste, e some...

Hércules imobilizado ali, cambaleante sob o tremendo peso da esfera terrestre, sente-se ludibriado e não sabe como se livrar daquela situação. O tempo vai passando, horas e horas findando - se... e Hércules, cada vez mais cansado, arqueando sob aquele tremendo peso, não sabe o que fazer. De repente ele avista ao longe, surgindo do local por onde sumira na sua disparada, o gigante Atlas. Vinha acompanhado das quatro lindas ninfas do poente - as Hespérides, - que, dançando, alegres, traziam u’a cesta cheia das douradas maçãs. O gigante Atlas, pai das quatro ninfas, amigo do dragão de cem cabeças, fora ao Jardim das Hespérides, (suas filhas) e juntamente com elas, trouxera para Hércules “Os Frutos Sagrados”. Consciente de sua missão, porquanto competia a ele, Atlas, carregar o mundo nas costas, (o carma era seu, e não de Hércules), retoma sua pesadíssima carga. Hércules, livre, recebe das ninfas as “Maçãs de Ouro”, os frutos sagrados que a deusa Hera mandara plantar no Jardim das Hespérides!

No exato momento em que Hércules recebe a cesta com “os Maravilhosos Frutos” das mãos das ninfas, a imensa esfera terrestre se desprende, leve, das costas de Atlas, e, levitando, sobe ao espaço cósmico, entra em órbita que até hoje ocupa entre os demais corpos do sistema solar. O serviço por ele prestado a Hércules de modo tão espontâneo, na busca das maçãs de ouro; sua honestidade em reassumir o castigo (dele e não de Hércules) de carregar o mundo nas costas; o amor - representado pelas suas quatro filhas (as ninfas Hespérides) - com que trouxera os Frutos Sagrados para Hércules, atuaram como elementos de resgate do carma de Atlas (carregar o mundo), libertando-o de sua pesadíssima carga.

Hércules, estático, contempla em profundo êxtase aquela demonstração da Presença Divina na plenitude de todo o seu Poder, e sente, naquele instante, que a própria Terra - uma centelha divina do macrocosmo - no seu incessante vagar pelo espaço infinito, somente encontrará o Caminho de volta ao Centro do Universo (o Grande Sol Central) quando todos os seus filhos – a humanidade inteira – libertos das densas energias que os aprisionam (e também a Terra), deixarem envolver-se totalmente pelas sutis vibrações emanadas do Cristo. E, todos, irmanados pelo sublime sentimento do Amor Universal, possam, felizes, ouvir na Terra, o fantástico som da “Música das Esferas”. (“O que é em cima é igual o que é embaixo”).

Percebe, ele, naquele instante, que o Deus procurado em todos os lugares do mundo, por todas as religiões da Terra, está em tudo e em toda parte, e ele, Hércules, em sua permanente busca simplesmente não percebera. Deus estava nas várias metamorfoses de Nereu, em tudo no que ele se transformava; nas profundezas submarinas, simbolizadas na luta que ele travara com o filho de Posseidon, o deus dos Oceanos; em todos os recantos da Terra – em toda a humanidade – representada pelo envolvimento dos pigmeus, moradores das regiões subterrâneas e, até mesmo, no comportamento de Busiris.

Deus está presente na magnitude da amplidão sideral, descortinada na monumental visão que Hércules teve do alto do Pico Eubruz. Ao receber das mãos das ninfas do poente, os “Maravilhosos Frutos Sagrados”, descobre Hércules, não precisar o ser humano ir a parte alguma para o reencontro com Deus. Os frutos lhe foram trazidos, ele não precisou ir ao Jardim das Hespérides. O Deus ansiosamente procurado pelo homem, encontra-se no mais profundo recanto do seu coração, pela natureza da própria origem divina do ser humano. Onde o homem estiver, é porque ali também estará Deus.

Percebe Hércules naquele instante que, a caminhada que levará o homem ao encontro de Deus deve ser feita dentro de si mesmo. Na transformação de seu temperamento egoísta – separatista - indiferente aos sofrimentos e apelos de milhões – de irmãos – filhos e filhas do mesmo Pai – que necessitam ser libertados – como Prometeu – das fortes correntes que o prendem a uma existência de sofrimento; como Atlas, poder livrar-se do peso da ignorância que o faz arquear-se e não conseguir vislumbrar o horizonte de luz que o circunda. Somente com a felicidade de todos os seres humanos – filhos e filhas de Deus – em harmonia com as forças celestiais, poderá a humanidade, como um todo, retornar ao encontro do Pai e fazer cumprir o Divino Plano da Grande Unidade.

E isto somente será alcançado através da prática do Amor Universal entre todas as criaturas da Terra e de uma constante e desinteressada prestação de serviço à humanidade. Hércules percorreu todas as regiões da Terra, desceu – simbolicamente – às profundas regiões marinhas; subiu aos mais elevados picos das mais altas montanhas. Mas somente foi encontrar o procurado e verdadeiro Deus, depois da prestação de serviço, no ato da libertação de Prometeu – cumprindo um decreto divino (uma lei cósmica) - e no desinteressado amor com que socorreu Atlas, mesmo sem este ter-lhe prometido ajudar na sua busca de Deus.

Volta Hércules a Micenas, vai a palácio, à presença de Euristeu, levando os Frutos Sagrados apenas como prova do cumprimento de seu último Trabalho. Pretende devolvê-los, em ritual sagrado, à sua verdadeira dona, a deusa Hera. Em palácio, Euristeu o recebe, desta vez, bem mais atenciosamente. (Quando se está com Deus, todos nos tratam bem). Temeroso de atrair para si, as iras da deusa Hera, por querer apossar-se dos seus Sagrados Frutos, o próprio Euristeu pede a Hércules que os devolva à deusa.

Hércules sai, levando consigo os “Maravilhosos Frutos” que abrem ao mortal que os possuir, os portais do Conhecimento e da Sabedoria Divina. Dirige-se, numa longa e demorada caminhada, para a região do Monte Eta, local escolhido para a realização do ritual de devolução das Maçãs de Ouro, à deusa Hera.

ASCENSÃO AO OLIMPO

Na posse dos “Frutos Sagrados”, senhor de vasto Conhecimento, detentor dos grandes segredos da Divina Sabedoria agora aflorados na sua consciência, transforma-se Hércules, num diligente servidor da humanidade.

Cumprindo os planos traçados por Zeus, o seu Pai, quando o gerou, dedica-se a um incansável trabalho de pacificação dos vários reinos da Grécia. Onde quer que estoure um conflito entre aqueles pequenos reinos, uma guerra entre aquelas diminutas nações da Grécia, lá está Hércules com o seu poder apaziguador. Ele não é mais aquele lutador que vencia pela força física, com os golpes mortais de sua poderosa clava e a rapidez de suas certeiras flechas. É ele, agora, um guerreiro da paz, um combatente de Deus, usando as armas do Conhecimento e da Sabedoria. Sempre ao lado dos injustiçados e humildes, vai – por onde passa – fazendo com que prevaleçam os mais altos valores da concórdia, da fraternidade – e do amor entre as várias comunidades da Grécia (o mundo então conhecido).

Caminheiro do bem, peregrino da humanidade, chega Hércules finalmente – após decorridos tempos e tempos, anos e anos de incessante caminhada – aos pés do Monte Eta. Vai oferecer, num ritual de fogo, à deusa Hera, o Conhecimento e Sabedoria dela recebidos na caminhada que encetara, mercê dos 12 Trabalhos impostos por Euristeu, por orientação da grande deusa. Traz, consigo, além dos “Frutos da Sabedoria”, a sua clava e a aljava ainda com algumas setas. Traz, também, o couro do leão da Nemeia, que há muito deixara de vestir.

Munido desses objetos mantidos guardados já por muito tempo, apanha Hércules um archote que fizera e sobe à íngreme encosta do Monte Eta, no topo do qual prepara grande fogueira. Com a devolução dos “Frutos Sagrados” à deusa Hera pelo sacrifício do fogo, vai ele oferecer, também, aqueles objetos e armas, símbolos de sua Caminhada na busca da perfeição e da imortalidade.

Armada a fogueira, estende Hércules, no topo do monte, o couro do leão da Nemeia e no centro deste, respeitosamente, coloca o cesto com os “Frutos Sagrados”. Vai colocando em volta deles, carinhosamente, cada um dos objetos, símbolos de sua Caminhada. Primeiro a clava, depois o arco e finalmente a aljava com as flechas. Ao pegar cada objeto, afloram à sua memória lembranças de momentos vividos com cada um deles. Quando vai apanhar a aljava com as setas, vê, dentre elas, a seta que ele envenenara com a água misturada no sangue da hidra de Lerna – o seu segundo Trabalho. Apanha a seta envenenada, olha-a carinhosamente, e esboça um leve sorriso de autopiedade ao recordar sua ignorância de então, dos conhecimentos velados, ao pretender matar – com o sangue envenenado da hidra – as aves do Lago Estínfalo – que atuavam como egrégora negativa no Plano Astral! Lembra-se, Hércules, do exato momento em que guardara na aljava aquela seta – a última das envenenadas – como lembrança daquele seu Trabalho.

Recoloca a seta envenenada na aljava, junto às outras, e sobe com a aljava ao topo da fogueira, para depositá-la ao lado do arco. Num movimento inesperado de Hércules, cai a aljava de suas mãos, espalhando as setas por entre os troncos da fogueira. Ele tenta apanhá-las e, sem perceber, estrepa o pé na ponta de uma delas. Exatamente da seta envenenada!
Imediatamente dores intensas tomam-lhe todo o corpo. Uma forte tontura invade-lhe a cabeça. As dores são horríveis, o seu corpo começa a enfraquecer-se. E Hércules se lembra, então, da sentença cármica da deusa Ártemis quando ele flechara a corça dos chifres de ouro, no seu terceiro Trabalho: -“Que tu sofras o que ela está sentindo!” Ele sente que vai morrer. Num imenso esforço apanha uma a uma, todas as flechas – inclusive a envenenada – recoloca-as na aljava e põe esta sobre a pele do leão da Nemeia, ao lado da clava e do arco. Cada instante mais enfraquecido, com uma crescente tontura, o corpo cada vez mais inchado, apanha a cesta com os “Frutos Sagrados” (as maçãs de ouro que as ninfas das Hespérides lhe deram), coloca-os no colo, senta-se na pele do leão da Nemeia estendida bem no topo da fogueira, pega o archote e ateia fogo na fogueira. Prepara-se para morrer!

Numa profunda contrição fecha os olhos, e num último esforço faz uma prece, entregando-se - num sacrifício de fogo - de corpo e alma, ao Pai Celestial!

Zeus, lá do Olimpo, continua sentado no seu majestoso trono, recepcionando os filhos-deuses que vão chegando para a grande festa. De repente, sua divina mente é atraída pelas preces do amado filho que se entrega ao Pai. Vê, Zeus, lá embaixo, no alto do Monte Eta a fogueira acesa, cujas labaredas já envolvem o corpo dolorido de Hércules.

Mais rápido que um raio, desce Zeus à Terra e arrebata das labaredas o filho estremecido, ascendendo com ele, nos braços, aos píncaros do Olimpo e o introduz como um deus, imortal, entre os deuses olimpianos, que ali o aguardavam como o esperado convidado.

A deusa Hera desce do seu divino trono e vem abraçar Hércules que lhe entrega então a cesta com as “Maravilhosas Maças de Ouro”. Ela o encara, como u’a extremada mãe que vê, feliz, o filho regressar ao lar, após ter superado todos os desafios, passado em todas as provas. Provas estas vencidas graças aos cuidadosos rigores maternos que forjam, na alquimia das dificuldades, o elemento fortalecedor que irá permitir a cada filho alcançar os louros da vitória nos embates que enfrentar pelos caminhos da autorrealização.

Lá do canto do imenso salão, vem, em direção a Hércules e o surpreende com um fraternal abraço, Hipólita, sua alma gêmea, o seu complemento feminino. Igualmente a Hércules percorrera ela várias encarnações e subira ao Olimpo, filha de Zeus, com o nome de Hebe, a Eterna Juventude.

III
Hoje, de acordo com os ensinamentos da Fraternidade dos Guardiães da Chama é, Hércules, o Elohim do Primeiro Raio, (o Raio Azul, da Fé e do Poder). É ele cultuado nessa Ordem místico-religiosa, ao lado da sua chama gêmea Amazônia, o seu complemento feminino (15), como um ser Divino que integra as sagradas hostes da Grande Fraternidade Branca. E assim, ao lado de outros Mestres Ascensos, pode Hércules atuar como um divino guerreiro pelas causas dos seres humanos. E lá do alto dos etéreos planos, como um enteu, ajudar a humanidade a encontrar o Caminho por ele mesmo trilhado e que a conduzirá, um dia, aos braços do Pai Eterno.

FIM

Nenhum comentário:

Postar um comentário